Manifesto do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo
17/05/2004
- Opinión
As entidades do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça
no Campo, reunidas em Brasília a 17 deste mês de maio de 2004,
reconhecendo que as iniciativas do Governo Lula com relação ao
Plano Nacional de Reforma Agrária estão longe de cumprir suas
metas propostas, mas, ao mesmo tempo, mantendo a esperança de que
o Presidente possa ainda implementar este seu compromisso com
firmeza e determinação, vêm a público para manifestar o seguinte:
Compreendendo as dificuldades e limitações próprias de um governo
de coalizão partimos para a realização de diversas formas de
mobilização e luta, avançando na ocupação dos diferentes espaços
de forma organizada e pacífica, objetivando a construção de um
processo de disputa e pressão que mostrem ao governo e à sociedade
a necessidade urgente de efetivação de políticas públicas que
conduzam para o resgate dos direitos fundamentais da pessoa humana
no plano da terra para trabalhar, produzir e viver com dignidade.
Nossa primeira manifestação foi a CARTA DA TERRA, entregue ao
Governo Federal em julho de 2003. Depois desta, desencadeamos um
conjunto de manifestações e mobilizações sociais, como o Congresso
das Mulheres Camponesas (MMC); a Marcha das Margaridas, o
intitulado "abril vermelho" (MST); o GRITO DA TERRA (CONTAG); a
Marcha "ÁGUAS PARA A VIDA E NÃO PARA A MORTE" (MAB); a GREVE dos
servidores do INCRA (CNASI) e diversas ações ocorridas em nível
municipal, estadual e nacional.
Eis os nossos objetivos:
1 – A desapropriação dos latifúndios como o caminho constitucional
para garantir a função social da terra. A emenda constitucional
que limite o tamanho das propriedades rurais. O confisco integral
de todas as terras onde houver trabalho escravo, exploração de
trabalho infantil, cultivo de plantas psicotrópicas e das terras
usadas para o contrabando ou adquiridas por meios ilegais, como a
grilagem.
2 – A federalização dos crimes contra os direitos humanos no
campo. O combate a todas as formas de violência, o fim da
impunidade e a atenção do Judiciário a todos os itens
constitucionais da função social da propriedade no julgamento dos
conflitos de terra.
3 - O reconhecimento e a demarcação das terras das comunidades
indígenas e dos remanescentes de quilombos; a criação de reservas
extrativistas; a formulação de políticas públicas que respeitem a
organização sócio-cultural e de produção dos índios, quilombolas,
ribeirinhos, seringueiros, quebradeiras de coco e outros.
4 – O planejamento da produção familiar que leve em consideração
as diversidades regionais, sua viabilidade e sustentabilidade
econômica, social e ambiental com linhas de crédito de custeio e
investimento acessíveis, com programas de seguro agrícola e de
serviços de assistência técnica pública, gratuita e de qualidade e
com garantia de preços mínimos justos e de comercialização da
produção.
5 – A implantação de agroindústrias populares nas diversas formas
cooperativas e associativas, para as quais sejam destinados
prioritariamente os recursos públicos, para melhorar a renda das
famílias e promover um processo de interiorização do
desenvolvimento e da economia solidária.
6 – A produção de sementes pelos próprios agricultores e
agricultoras, inclusive com incentivos às iniciativas populares de
resgate das sementes crioulas, garantindo as sementes como
patrimônio da humanidade. Combatemos o patenteamento de seres
vivos e a produção e comercialiazação de sementes transgênicas,
indutoras de monopólio que destrói a soberania dos agricultores e
são nocivas ao meio ambiente e à saúde humana.
7 – O desenvolvimento de novas técnicas agrícolas não agressivas
ao meio ambiente; a implantação de sistemas agropecuários
sustentáveis que eliminem o uso de agrotóxicos. A garantia do
pleno direito à água; a democratização do acesso a fontes e
mananciais de águas como bens públicos e patrimônio da sociedade,
excluída a sua privatização.
8 – A melhoria e o fortalecimento do sistema previdenciário
baseado na seguridade social, pública e universal, permitindo o
acesso e a permanência dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no
Regime Geral da Previdência Social, garantindo uma vida digna à
população do campo.
9 – A implementação das diretrizes operacionais para a Educação do
Campo através de escolas de todos os níveis, localizadas
prioritariamente nos projetos de assentamentos, comunidades e
distritos rurais, reforçando as práticas educativas que tenham
como referência a terra, a água e a cultura camponesa.
10 – A garantia de igualdade de oportunidades e direitos para
mulheres e jovens, sem discriminações. A elaboração de políticas
públicas específicas para cada região do País, com ênfase ao
desenvolvimento de políticas de convivência com o semi-árido
brasileiro, especialmente o nordestino, com apoio às experiências
de captação da água de chuva para a casa e para a lavoura.
É inaceitável que num país como Brasil, com tantos recursos
naturais e possibilidades de geração de emprego e trabalho,
capazes de assegurar a todos a paz com desenvolvimento social e
econômico, a REFORMA AGRÁRIA não seja efetivada, constituindo-se
um verdadeiro atentado aos direitos fundamentais da pessoa humana,
garantidos pela própria Constituição, na qual se acha fundado o
Estado Democrático de Direito.
O Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo:
CONTAG – CUT - MST – FETRAF-SUL - CPT – CÁRITAS – CIMI –
Pastorais Sociais da CNBB - CONIC - ANMTR – MPA – MAB – CMP -
CONDSEF – MNDH – MTL – ABRA – ABONG - APR – ASPTA – CAPOIB –
Centro de Justiça Global - CESE – CNASI – DESER – ESPLAR – FASE –
FAZER – FEAB – FIAN-Brasil – FISENGE - IBASE – IBRADES – IDACO –
IECLB - IFAS – INESC – MLST – PJR – REDE BRASIL – Rede Social de
Justiça - RENAP – SINPAF – TERRA DE DIREITOS.
https://www.alainet.org/es/node/109950?language=en
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