Carta de Compromisso da XI Assembléia Nacional
23/11/2003
- Opinión
1. O encontro
A XI Assembléia Nacional do SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes
realizou-se em São Paulo-SP, entre os dias 21 a 23 de novembro de
2003. Dos mais distantes lugares do Brasil e de alguns países
limítrofes, aqui viemos em 82 pessoas para o encontro. Encontro de
agentes e lideranças; encontro de intercâmbio e partilha entre as
várias regiões e setores da Pastoral dos Migrantes; mas sobretudo
encontro de pessoas que se comprometeram em assumir a causa dos
migrantes. Logo no início, o presidente Dom André de Witte nos
convidou a "somar forças para realizar nossa missão junto ao povo
migrante".
2. Os desafios da migração
O intercâmbio entre as atividades das várias regiões, realizado no
primeiro dia, evidenciou um universo migratório que não é novo, mas
que sempre nos interpela. Alguns desafios aparecem com maior
relevância, enquanto outros insistem em nos acompanhar desde longos
anos. Entre eles podemos destacar: o crescimento do trabalho
escravo e/ou degradante e da super-exploração; o tráfico de seres
humanos, especialmente mulheres e crianças; a emigração para o
exterior e os movimentos limítrofes nas fronteiras com os países
vizinhos; a organização por uma nova Lei de Estrangeiros; o trabalho
junto às mulheres, jovens, grupos de recicladores e refugiados; o
acompanhamento aos caminhoneiros, às associações de mulheres na
convivência com a migração e a presença nos alojamentos de
trabalhadores temporários; o êxodo rural e o universo urbano, com as
periferias e favelas e sua realidade de violência e tráfico de
drogas. Em resumo, o campo da mobilidade humana diversifica-se cada
vez mais, adquire maior complexidade e intensidade, exigindo uma
atualização permanente dos instrumentos e métodos pastorais.
3. O momento atual
O momento atual foi iluminado por duas intervenções: uma sobre a
conjuntura social, política e econômica do Brasil e outra sobre a
conjuntura eclesial. Do ponto de vista social, a crise se agrava e,
com ela, o desemprego e a queda da renda familiar. O governo ainda
não conseguiu grandes mudanças no rumo da política macroeconômica. O
modelo adotado, desde os governos anteriores, privilegia as "15 mil
famílias" detentoras da renda, da riqueza e dos Meios de Comunicação
Social, em detrimento de políticas públicas voltadas para as camadas
mais pobres da população. O resultado das últimas décadas de
vigência do modelo neoliberal é a precarização dos serviços gerais,
o aumento da exclusão social, o crescimento do trabalho escravo, do
trabalho infantil e até do trabalho dos idosos. Evidente que esse
quadro tende a agravar o vaivém das pessoas e das famílias, numa
corrida diária pela sobrevivência. Apesar disso, entendemos que
existem no atual governo espaços de disputa, por onde podem abrir-se
canais de participação popular. Vale sublinhar, ainda, os esforços
dos poderes públicos no combate da corrupção e na defesa da
soberania nacional, de modo particular quanto à condução da política
externa.
Do ponto de vista eclesial, a análise foi dividida em quatro itens:
primeiro, as estratégias da instituição no resgate da própria
identidade e suas consequências pastorais; segundo, a emergência dos
movimentos de caráter espiritualizante, com a mediatização,
mercantilização e consumismo do sagrado; terceiro, o aumento da
dimensão mágica nas manifestações da devoção popular, em decorrência
da miséria e do desencanto; por último, a primavera das forças
sociais dentro e fora da Igreja, num salto qualitativo em vista de
uma articulação global.
4. A missão do SPM
A XI Assembléia Nacional segue o Objetivo Geral da Pastoral dos
Migrantes, aprovado nas assembléias anteriores: suscitar, articular
e dinamizar a organização coletiva dos migrantes, à luz de uma
evangelização inculturada que os leve a ser protagonistas da
história, na construção de uma sociedade justa e solidária, numa
atitude de acolhida às diferenças, sinal do Reino de Deus.
Sua Diretriz Geral, em sintonia com as Novas Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, é promover a dignidade dos
migrantes, levando em consideração três dimensões fundamentais.
a) No sentido de promover a pessoa humana, educar-se para uma
cultura da acolhida e solidariedade ao outro e ao diferente,
nutrindo-se de uma mística encarnada e libertadora.
b) Com vistas a renovar a comunidade, estimular a vivência eclesial
e missionária, a articulação em parcerias com outras forças
sociais e o espírito de ecumenismo e diálogo inter-religioso.
c) Quanto à transformação da sociedade, pressionar pela mudança do
atual modelo econômico e lutar por políticas públicas, através da
efetiva participação nos Conselhos Paritários, fóruns permanentes
e outras instâncias.
Os Eixos Articuladores e as Orientações Gerais para a ação pastoral
nas cinco regiões - sul, sudeste, nordeste, norte e centro-oeste - e
nos três setores - imigrantes, temporários e urbanos – foram assim
definidos:
- acolhida, como marca registrada da Pastoral dos Migrantes,
concretiza o preceito evangélico: "era migrante e me acolhestes"
(Mt 25,35), sendo por isso mesmo missão de toda a Igreja;
- combate a todo tipo de preconceito, discriminação e xenofobia,
bem como aprofundamento da questão de gênero em todos os níveis;
- reconhecimento e valorização do protagonismo dos leigos/as,
abertura de espaços para uma maior participação dos jovens
migrantes e formação permanente em âmbito nacional, regional e
local;
- atuação junto aos migrantes no mundo urbano, na conquista do
direito a uma cidadania digna e na construção do projeto popular
para o Brasil;
- apoio à luta pela terra e na terra, somando esforços por uma
verdadeira reforma agrária e agrícola, privilegiando a
agricultura familiar em vista da segurança alimentar;
- preservação do meio ambiente, o combate à contaminação e
devastação da biodiversidade, o uso correto e responsável dos
recursos naturais, com destaque para a água e a promoção de um
desenvolvimento sustentável, do ponto de vista ecológico e
social;
- promoção e defesa dos direitos humanos, destacando o combate ao
trabalho escravo e/ou degradante, o tráfico de seres humanos e
exploração sexual;
- integração e articulação entre as lutas locais e as redes globais
das diferentes forças sociais: Igrejas, movimento sociais,
Campanha contra a Alca, a Dívida e os Organismos Geneticamente
Modificados (OGM), Grito dos Excluídos, Quarta Semana Social
Brasileira e Mutirão Nacional pela Superação da Miséria e da
Fome; organização do Fórum Social de Migrações e participação no
Fórum Social Mundial.
5. Nova Coordenação
Eleita para os próximos quatro anos, a nova coordenação nacional do
SPM ficou constituída da seguinte forma:
- Presidente e vice: Dom Luiz Demétrio Valentini e Ir. Ana Maria
Delazeri;
- Secretária e vice: Elizete Sant'Anna de Oliveira e Pe. Valdiran
Ferreira dos Santos;
- Tesoureiro e vice: Pe. Arivaldo José Sezyshta e Tereza Douglas de
Zaragoza;
- Conselho fiscal: Ir. Silvia Ribeiro, Pe. Valdecir Mayer Molinari
e Isabel Silva;
- Suplentes do conselho fiscal: Ir. Sandra Pinto de Souza, Pe.
Antenor Dalla Vecchia e Ir. Rosa Maria Zanchin.
- Para Secretário Executivo o presidente confirmou Luiz Bassegio.
São Paulo, 23 de novembro de 2003
https://www.alainet.org/es/node/108877
Del mismo autor
- Carta dos Imigrantes 18/12/2006
- Carta de Compromisso da XI Assembléia Nacional 23/11/2003