Bispos católicos do Mercosul condenam processo de formação da Alca
03/09/2003
- Opinión
O IV Encontro de Bispos Católicos do Mercosul, Bolívia e Chile, que
acontece em Montevidéu desde a última terça-feira, condenou nesta
quinta-feira o processo de formação da Área de Livre Comércio das
Américas (Alca) e seu enfoque "economicista", contra a identidade
cultural dos povos.
Na reunião, "trocamos informações sobre as situações gerais de cada
país e também sobre situações eclesiásticas", disse à AFP o porta-
voz do evento, o bispo uruguaio Pablo Galimberti.
"Analisamos também o impacto da Alca em nossas sociedades, que nos
preocupa porque desconhece e abala as economias mais frágeis do
continente", comentou.
Os religiosos rejeitaram e condenaram "(o modo) como a Alca está
sendo negociada, em total sigilo, e seus enfoques 'economicistas'.
Que mostrem o que estão negociando e que mostrem seus efeitos; como
serão fechadas as empresas, como aumentará o desemprego, como
afetarão nossos valores culturais", desafiou o bispo.
A criação da Alca foi impulsionada pelos Estados Unidos na Cúpula
das Américas de Miami, em dezembro de 1994, para criar uma imensa
zona de livre comércio entre os 34 países do continente com regimes
democráticos, à exceção de Cuba.
Essa liberação, opinou Galimberti, "levantará as barreiras
comerciais para permitir o ingresso de produtos a um custo menor e
vai afetar nossas pequenas empresas, que não poderão competir com
essa avalanche".
A negociação, segundo o bispo uruguaio, está sendo cumprida em
termos técnicos e comerciais, mas "se esquece da dimensão ética, se
esquece de algo importante, como preservar nossas identidades
culturais".
A entrada em massa da produção norte-americana "aprofundará as
diferenças na região e não respeitará nossa situação econômica, de
modo que reflita as culturas nacionais, as identidades dos povos".
Segundo ele, também será negativo do ponto de vista espiritual,
porque "a espiritualidade se baseia no fato de que as pessoas tenham
consciência de sua própria identidade, de sua liberdade, de suas
relações com a comunidade".
"Se não houver trabalho, todo o processo afetará a espiritualidade,
que se entende como uma resposta a Deus, mas segundo as
circuntâncias históricas", filosofou.
Participaram do evento o arcebispo de Rosario e presidente da
Conferência Episcopal da Argentina (CEA), Eduardo Mirá; o secretário
da CEA, Sergio Fenoy; o bispo auxiliar de São Paulo, Odilo Chere, da
Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e o bispo de Temuco,
Manuel Camilo Vial, da Conferência Episcopal do Chile.
Pela anfitriã Conferência Episcopal do Uruguai (CEU), estiveram
presentes seu presidente Carlos Colazzi, bispo de Mercedes; seu
secretário, Galimberti, bispo de San José, e Rodolfo Wirtz, bispo de
Salto.
As negociações da Alca devem ser concluídas em 2005 para que entre
em vigor a liberação comercial entre todos os países da região.
Ainda há, porém, forte resistência a sua criação neste prazo, tanto
de setores da sociedade civil, como em nível governamental nos
países latino-americanos.
Fonte: INVERTIA, Quinta, 4 de Setembro de 2003, 18h29
https://www.alainet.org/es/node/108333