Do "Fome Zero" aos Roupões Egípcios

O Semestre do "Crescimento Econômico"

27/08/2003
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O governo federal começou a dar sinais de como vencer os obstáculos que atravancam o desenvolvimento do Brasil. Ao que tudo indica o "desenvolvimento" virá através das reformas neoliberais da previdência e tributária, da autonomia do Banco Central, dos novos acordos com o FMI, de um Merco Sul para toda a América do Sul, de mais investimentos na agricultura de grande porte com transgênicos, aumentar os incentivos fiscais para a Zona Franca de Manaus, fortalecer as relações no Congresso Nacional entre governo e oposição, assegurar uma reforma ministerial que contemple os interesses do PMDB e PTB, implementar a terceirização nos serviços públicos, fazer a transposição do São Francisco, construir hidroelétricas e ainda, ampliar a participação dos ricos no programa "Fome Zero", incentivar campanhas como "criança esperança da Globo", garantir um bom Plano Pluri Anual e fazer sempre licitações tendo em vista o interesse público. Os noticiários, da grande mídia brasileira e os discursos da cúpula do governo, dizem que o Brasil sairá do atoleiro, "herança maldita" do governo anterior, com as medidas acima mencionadas. A rigor, as medidas propagadas não trazem grandes novidades comparando com o período da "herança maldita". Ocorrem mudanças nas estratégicas ou nos nomes de algumas iniciativas, por exemplo "fome zero" em lugar de "comunidade solidária" o Merco Sul agora tende a se ampliar para os demais países da América, o que também era uma proposta da era passada, as reformas da "herança maldita" são as mesmas no atual governo, com a diferença de que agora elas são empurradas "goela a baixo" da população e recebem oposição e críticas do PFL e PSDB. O FMI impõe tudo o que quer, com a diferença que agora elogia sistematicamente o Brasil. Não é para menos, nos primeiros seis meses o governo Lula pagou aos agiotas financeiros, a título de juros da divida, a bagatela de 74 bilhões de reais. Os juros da dívida rendem para o sistema financeiro transnacional 405 milhões de reais por dia. Nunca, no Brasil, os bancos ganharam tanto dinheiro como no início deste novo governo. Para se ter uma idéia, o orçamento para o programa "Fome Zero" não chega a um bilhão e setecentos milhões de reais, o que corresponde a pouco mais de quatro dias de juros pagos aos banqueiros. Os recursos disponibilizados para o Ministério do Desenvolvimento Agrário são de 709 milhões de reais, isso não corresponde aos juros de dois dias da dívida. Para a Funai, que desenvolve assistência aos Povos Indígenas, o orçamento foi de 95 milhões de reais, isso significa os juros de poucas horas de um dia, pagos aos banqueiros. Se o cidadão comum conseguisse imaginar o que significa jogar 405 milhões de reais dia para os cofres privados a título de uma dívida imoral haveria, no Brasil, uma convulsão social. Se os cidadãos comuns, que trabalham e pagam impostos, tivessem consciência de que esse dinheiro todo é extraído diariamente do suor de quem trabalha haveria uma convulsão social. Se os pobres e miseráveis deste nosso querido Brasil, que são milhões, soubessem o quanto significa em moradia, comida, emprego e saneamento básico essa dinheirama jogada para os agiotas haveria certamente uma convulsão social. Se os organizadores do "Fome Zero" soubessem o que significa 405 milhões de reais entregues todos os dias para os especuladores eles se envolveriam na campanha contra o pagamento da dívida externa e interna e ajudariam a convencer o governo de que essas dívidas, são as fontes de toda exclusão social e, portanto, pagá-las é crime contra a Pátria, crime de genocídio, pois são milhares os que morrem por causa da miséria. De acordo com dados amplamente divulgados na imprensa escrita a dívida brasileira atual é de 830 bilhões de reais, o que corresponde a 60% do PIB brasileiro. A Argentina quebrou quando comprometeu com a dívida 54% de seu PIB. Segundo a Organização Mundial do Comércio-OMC, um país que tem uma dívida superior a 50% do seu PIB não se estabiliza. De acordo ainda com as informações disponibilizadas pela mídia, em 2004, a dívida interna do Brasil poderá atingir o patamar de 1 trilhão de reais. Enquanto isso, no Pindorama ou na "Kubanacan Planaltiana" a política segue entre acordos, conchavos e mordomias para assegurar a governabilidade. Governabilidade para que? Esta é a pergunta. Para governar as licitações garantindo a compra de petiscos, licores, vinhos, refrigerantes e cervejas para o futebol na Granja do Torto, ou para a aquisição de roupões egípcios conforme noticiou o sociólogo Elio Gaspari em artigo publicado no dia 17 de agosto no Jornal Folha de São Paulo, ocasião em que noticiou também o uso de carros importados pelo presidente da República e alguns outros figurões do Planalto. Para tornar mais explicito, os veículos são da GM, modelo Omega, fabricação Australiana e que custam 134 mil reais a unidade. Ou governar para esperançar os famintos de que através do "Fome Zero", com suas belas propagandas na mídia e com as esmolas dos ricos, acabarão com a miséria. Ou governar para assegurar que a ingerência do Sistema Financeiro Internacional perdure pelas próximas décadas continuando a arrecadar, diariamente, pelo menos 400 milhões de reais. Ou o governo muda seu rumo e rompe com a imoralidade desta dívida ou continuaremos sendo o país dos famintos. Até que, quem sabe um dia, quando a "coragem" assumir o papel da "esperança", conseguiremos então consolidar outro modelo de desenvolvimento para os brasileiros. Chapecó, 28 de agosto de 2003. Roberto Antonio Liebgott
Jacson Lopes Santana
Ivan Cesar Cima. Cimi Sul Equipe Chapecó.
https://www.alainet.org/es/node/108273?language=en
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