O risco dos transgêncios
27/06/2003
- Opinión
O assunto não é apenas científico. É uma questão ética
que requer discernimento para evitar danos talvez
irreparáveis. A ciência e a tecnologia devem estar
orientadas para o desenvolvimento da pessoa humana e para
o bem comum e requerem harmonizar-se com os princípios
morais.
O problema dos transgênicos está em pauta não só na
pesquisa dos cientistas, mas pelas vantagens econômicas
que podem precipitar, por causa de lucros comerciais, uma
série de efeitos negativos.
Recente declaração assinada em 6/5 por 14 bispos
católicos que acompanham mais de perto as questões de
justiça social no Brasil e, em particular, as que se
referem à terra, externa preocupações e alerta-nos sobre
vários aspectos ligados aos transgênicos. Começa o texto
conceituando os transgênicos como resultado de
manipulação genética que permite produzir, alterar e
transformar genes entre os seres vivos, rompendo a
barreira do cruzamento entre as espécies. São
enumerados, a seguir, os principais riscos:
a) os transgênicos, se não forem bem controlados, podem
causar sério detrimento à saúde humana, pois a
alimentação com grão geneticamente modificado é capaz de
provocar alergias, resistência aos antibióticos e aumento
do índice de substâncias tóxicas. É preciso garantir com
severas normas a segurança alimentar;
b) podem ainda acarretar risco ecológico imprevisível,
com o desaparecimento progressivo da biodiversidade, já
que o aumento da monocultura levará à perda de variedade
e qualidade das sementes;
c) o patenteamento em curso tornará os transgênicos
propriedade exclusiva de grupos econômicos, lesando a
soberania alimentar do Brasil e dos demais países, que
vão depender dos proprietários das patentes;
d) prevê-se a rápida diminuição da pequena e média
agricultura que serão dominadas pelo monopólio da
produção das empresas transnacionais. Compreende-se,
portanto, a justa apreensão diante do problema dos
transgênicos e a expectativa de que as sementes sejam
declaradas patrimônio da humanidade e conservadas na sua
integridade genética a serviço das gerações atuais e
futuras. A mesma apreensão se reflete na "Carta da
Terra", documento lançado no Senado no dia 11 de junho e
assinada por 43 entidades que atuam no campo. Nasce daí
a esperança de que as autoridades de nosso país,
científicas e políticas, continuem aprofundando o estudo
do problema e evitem qualquer decisão prematura que possa
vir a causar danos imprevisíveis. (...) Pedimos a Deus
que nos ajude a unir esforços para evitar o risco dos
transgênicos e a apoiar as iniciativas governamentais que
promovam condições dignas de vida para nossa população.
* Dom Luciano Mendes De Almeida. Bispo de Mariana- MG,
ex- Presidente da CNBB.
(publicado na Folha de são Paulo, 28 de junho de 2003)
https://www.alainet.org/es/node/107783?language=en
Del mismo autor
- O risco dos transgêncios 27/06/2003