O Brasil tem um governo que sabe qual o papel do Estado e vive momento “ímpar”

21/08/2014
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Esta semana trouxe notícias positivas sobre economia e mercado de trabalho. Dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) mostram que em 2013 a criação de novas vagas cresceu 30% em relação a 2012 e, especialmente, mostrou que a qualidade do emprego criado melhorou – 40% foram ocupados por pessoas com nível universitário. Já no primeiro semestre de 2014, foram criadas 588.671 vagas. E ontem, o Dieese informou que 93% das campanhas salariais do último semestre conquistaram aumentos reais – superiores à inflação. Inflação, por sinal, sob controle, segundo o INPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado). Queda dos índices em agosto e acumulado em 12 meses dentro da meta – 6,49%.
 
Vagner, em entrevista concedida na última quarta-feira, antecipou também algo que a mídia tradicional já expõe com mais clareza nesta sexta: a direita começa a lançar torpedos contra a candidatura de Marina Silva.
 
Leia os principais trechos da entrevista:
 
Melhora no mercado de trabalho, emprego em alta, inflação sob controle. Como a CUT avalia o momento econômico?
 
Eu acho que o Brasil está vivendo um momento ímpar em sua história, não tenho dúvida nenhuma em relação a isso. Lamentavelmente, a mídia conservadora brasileira e uma parte da elite nacional não têm a menor visão de Estado, de construção de um futuro coletivo para a sociedade brasileira. Ao invés de impulsionar esse momento que nós estamos vivendo, o fato de haver uma oposição raivosa contra o PT e contra a CUT, é um fator impeditivo pra que nós aproveitemos esse momento para crescer, dentro de um projeto de desenvolvimento maior do que o que estamos fazendo.
 
Isso só demonstra algo que nós já sabíamos: a burguesia brasileira nunca teve um projeto coletivo para o Brasil. Ele tem um projeto voltado só para ela mesma. Estou consciente que ela não sabe nem o que é bom para ela. Porque nunca nós tivemos tanta oportunidade de crescimento, inclusive para a burguesia, como estamos tendo agora.
 
O mundo está vivendo uma crise muito grande, e muito porque não existe investimento público para estimular, induzir a economia. O Brasil, por outro lado, tem um governo que sabe qual deve ser o papel do Estado, e tem financiado o processo de crescimento. E parte do empresariado e da elite tem se posicionado contra isso, e não é uma oposição contra o governo, é uma oposição contra o Brasil.
 
O governo também gasta parte importante de suas reservas, de sua gordura, para segurar o mercado de trabalho, para manter o emprego e a renda. Isso também é uma diferença em relação a períodos anteriores, não?
 
Isso é uma agulha no palheiro, se você analisar o que acontece nos governos do mundo inteiro. Aqui, se faz diferente: procura-se estimular o mercado interno, o trabalho, incentivar a renda, e contra uma corrente de pensamento econômico que diz que esse processo já se esgotou. Imagina. O mercado brasileiro tem de se expandir muito ainda. E é fantástico que tenhamos no Brasil uma presidenta da República (Dilma Rousseff) que se coloca como candidata à reeleição afirmando que não vai retirar direito dos trabalhadores e que não vai arrochar salário, que ela não concorda com essas receitas que vêm do FMI ou do Banco Mundial, que não concorda com essa ideia de choque de gestão, que nada mais é que desinvestimento do Estado e retirada de políticas públicas. Esse posicionamento do governo acirra essa clara divisão de classes e essa disputa de projetos que temos hoje. Isso não significa que todas as nossas expectativas sejam alcançadas, porque existe um processo de construção política num governo de coalizão e estamos numa sociedade altamente complexa como a brasileira, e no seio da crise mundial.
 
Vagner:
Vagner
 
E acho que a esquerda brasileira não está fazendo de maneira correta a análise dessa crise. Quando fazemos um comparativo entre o governo Lula e o governo Dilma, estamos abstraindo que os momentos econômicos internacionais são completamente diferentes num período e outro.
 
O legado já acumulado de nossos governos é tão grande que hoje até partidos e candidatos conservadores são obrigados a falar que vão combater a pobreza. Eles seriam obrigados a repetir, mesmo que seja do jeito deles. Eles não podem mais ignorar o tema. Mas quero deixar claro que eu só acredito na possibilidade de políticas públicas consistentes para diminuição das desigualdades sociais com a Dilma. As demais candidaturas não vão fazer, até porque os agrupamentos que as sustentam não têm interesse nisso. O Aécio (Neves, candidato do PSDB à sucessão presidencial) não fará isso, pois não tem a cultura, nem a prática de fazer isso.
 
Por que você fala só do Aécio? Você acha que ele tem mais chances que a Marina?
 
Acho. Neste momento, a Marina (Silva, candidata do PSB) pode aparecer como tendo mais chances. Porém, por mais raiva que a direita tenha do PT e da CUT, não sei se estaria disposta a pagar o preço de ter Marina e Dilma no segundo turno, sem um representante típico dela. Imaginem o que seria isso na política brasileira, Marina e Dilma no segundo turno? A Marina neste momento não está fazendo um discurso de esquerda como sempre fez, mas ela não veio das hostes da burguesia brasileira. Por mais que eu possa ter divergências com a Marina, ela tem uma origem. Ela foi companheira de partido até pouco tempo, foi ministra do governo Lula, Marina é seringueira. Até quando a imprensa brasileira vai insuflar a Marina? A direita brasileira vai ter de optar.
 
O próprio tema do Plebiscito Popular da Reforma Política pode aparecer de maneira afirmativa num segundo turno entre Marina e Dilma, enquanto o Aécio se colocaria contra.
 
Eu acho que a campanha do Plebiscito da Reforma Política é um divisor de águas na disputa política no Brasil, na explicitação da luta de classes.  Porque a oposição, a direita, não quer esse debate. O Plebiscito é muito maior do que discutir apenas novas regras eleitorais, se vai ter ou não financiamento privado de campanha. É uma outra concepção de sociedade.  Se o PSDB não for para o segundo turno, essa ideia de o povo se auto-organizar e definir o que ele quer fazer e, depois, o Congresso Nacional colocar em prática, vai crescer muito. Será que a Marina vai ficar contra isso? Se ela ficar, é sinal que ela sucumbiu totalmente. O Plebiscito vai debater a estrutura de poder como um todo. Nós vamos dizer: ‘olha, esse Congresso não tem legitimidade para me representar’. E queremos propor uma Constituinte exclusiva com a única finalidade de elaborar a reforma política, da qual um dos pilares é o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais. Isso é um baita debate ideológico. A direita não vai querer isso, ela é contra a participação popular, como demonstrou, por exemplo, no debate sobre a regulamentação da participação popular* proposta pela Dilma.
 
 *em maio deste ano, por intermédio de decreto, a presidenta Dilma propôs a criação da Política Nacional de Participação Social, tornando permanente a presença de integrantes de diferentes setores da sociedade em conselhos e órgãos de governo para apresentar propostas e participar de decisões. Esses integrantes terão mandato por tempo determinado e serão escolhidos pelas entidades que representam. A oposição ficou contra e o projeto está em banho-maria
 
22/08/2014
 
https://www.alainet.org/es/node/102659
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