O novo velho continente e suas contradições:

Nossos últimos anos no planeta Terra

As pessoas de todo o mundo têm cada vez mais consciência da sua finitude. Seja pela morte individual ou pela possibilidade de extinção total, tal qual os dinossauros, como alertam os ecologistas.

29/03/2021
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A Humanidade tem planos de mudar-se para outro planeta. O físico americano Stephen Hawking assegura que, para se manter viva, a espécie precisa abandonar a Terra e colonizar outro planeta. O prazo que tem para fazer isso é de cem anos. Poucas gerações depois da nossa, portanto. As instituições de pesquisas espaciais já encontraram alguns astros em condições ambientais mais ou menos adequadas para o reinício da raça humana. Mas ainda não apareceu aquele que ofereça tudo o que a velha Terra nos oferece. Ou nos oferecia, nos tempos passados, antes de que começássemos com a sua destruição.

 

As pessoas de todo o mundo têm cada vez mais consciência da sua finitude. Seja pela morte individual, como o Coronavírus veio para lembrar, ou pela possibilidade de extinção total, tal qual os dinossauros, como alertam os ecologistas. As condições climáticas tornam-se piores a cada ano que passa, a dar razão aos que temem, anunciam e esperam a derradeira catástrofe.

 

Os cientistas de engenharia espacial lançaram a hipótese de, com o recurso de grandes propulsores, mudar a órbita da Terra por causa do aquecimento global, uma ameaça imediata, ou pela expansão do Sol, que provavelmente engolirá a Terra.

 

A alguns pode parecer trama da literatura de ficção científica, mas hoje existe a consciência de que o homem tem trabalhado cada vez mais rapidamente em busca da própria destruição.

 

As maiores e mais imediatas ameaças à vida no planeta listadas pelos órgãos ambientais são a presença cada vez maior de plástico nos oceanos; a subida dos níveis das águas modificando a paisagem com rapidez cada vez maior; a meteorologia extrema, com maior intensidade de furacões, incêndios e grandes tempestades; a degradação da vida selvagem e as alterações no bioma; a destruição das florestas; a escassez de comida e de água e a maior incidência de doenças, epidemias e pandemias causadas pelas alterações ambientais.

 

A Agência Europeia de Ambiente reconheceu o fracasso das políticas europeias de clima e ambiente e enfatizou o sentido de urgência com que o assunto precisa ser tratado. “A Europa não alcançará a sua visão de sustentabilidade e de viver dentro dos limites do planeta se continuar a promover o crescimento económico e a procurar apenas gerir os impactos ambientais e sociais”, diz um estudo da Agência. É preciso desacelerar o progresso e o consumo desenfreado dos grupos humanos mais enriquecidos, como hoje o praticamos, conclui aquele estudo.

 

Os verdes

 

A preocupação com o meio ambiente não é uma novidade, pois esteve sempre presente desde a Antiguidade. As leis do Império Romano e, antes, das antigas cidades gregas, puniam os responsáveis por poluírem as águas ou pelo abate de florestas sem autorização. Os egípcios praticavam o reflorestamento nas terras exploradas. As primeiras associações que defendiam o meio ambiente surgiram em fins do século XIX mas foi depois das duas grandes guerras na Europa que fortaleceu-se a consciência ecológica. Sua transformação em movimento organizado, nos anos 1950 e 1960, veio na esteira das agitações da contracultura, responsáveis também pela onda hippie, o pacifismo, o feminismo, a defesa dos direitos humanos, a revolução sexual e o direito das minorias.

 

Com 50 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa sendo jogados todos os anos na atmosfera e o aumento da temperatura até agora de 1por cento, parte considerável do estrago já foi feito. Garante um clima pior em todo o mundo, que não passa de uma bola de gude azul (blue marble), como nos mostrou a célebre foto tirada da nave Apolo 17 (https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Blue_Marble) .

 

A ideologia dos verdes

 

Foi este o cenário que originou o aparecimento dos partidos ecologistas, os verdes, que passaram a influir na política de praticamente todos os países, especialmente na Europa, que apresenta uma sensibilidade especial para o problema.

 

Na França, o partido Europa Ecologia – Os Verdes (EELV) foi saudado como o grande vencedor das eleições municipais de 2020 e, segundo a imprensa francesa, pintou de verde o mapa do país. Na Alemanha, o Aliança 90/Os Verdes (Bündnis 90 / Die Grünen ou Grüne) teve quase nove por cento dos votos nas eleições de 2017 e ganhou 67 cadeiras no parlamento, o Bundestag. Nas eleições municipais de 2019 obteve 20 por cento. Os verdes têm apresentado crescimento expressivo por toda parte na Europa e, além da França e da Alemanha, destacam-se também nos Países Baixos, na Irlanda, Finlândia, Dinamarca e Portugal, onde o Partido Ecologista “Os Verdes” tem se apresentado às eleições em coligação com o PCP-Partido Comunista Português. Juntos, formam a CDU-Coligação Democrática Unitária, com dois deputados no Parlamento Europeu e dez na Assembleia da República.

 

No Parlamento Europeu, diversos partidos formam o grupo Os Verdes Europeus/Aliança Livre Europeia ao qual se juntam vários deputados independentes de esquerda, regionalistas e nacionalistas. E no âmbito continental constituem o Partido Verde Europeu, criado a partir da fusão de 32 partidos ecologistas nacionais.

 

Os Verdes Europeus/Aliança Livre têm como seu porta-voz o eurodeputado Daniel Cohn-Bendit, militante dos movimentos de esquerda desde as agitações de 1968 em Paris. O Partido Verde Europeu, que participa daquela coligação, declara ter como seus fundamentos as políticas verdes, tais como a responsabilidade ambiental, a liberdade individual, a democracia, a diversidade, a justiça social, a igualdade de gênero, o desenvolvimento sustentável global, a não-violência e a paz.

 

Embora a grande maioria deles se situe no espectro da esquerda, os partidos verdes da Europa têm sido acusados de professarem uma ideologia neoliberal que flerta inclusive com o eleitorado de direita interessado em questões ambientais. Arrebataram da esquerda clássica a bandeira ambiental. O líder ecologista francês, Yannick Jadot, já se definiu como “nem de esquerda nem de direita”, que é um clássico subterfúgio da direita. Os verdes europeus são defensores do status quo e evitam o confronto com as estruturas políticas e econômicas dominantes que são, em última análise, as responsáveis pela crise ecológica do planeta. Os verdes crescem às custas de partidos que têm muitas vezes propostas mais coerentes para o enfrentamento da grave questão ambiental.

 

As bases eleitorais dos partidos verdes europeus constituem-se de um público com perfil jovem, feminino, possuidor de capital cultural e financeiro, mais forte entre os gestores do que entre os trabalhadores. Encontram-se distantes de uma linha de ação política que tenha como objetivo a ruptura com a ordem dominante.

 

O eleitorado ecologista de esquerda tem acusado os verdes de, ao chegarem ao poder, conforme ficou comprovado em suas breves experiências de governo, adotarem uma política de direita, tornando mais difícil a vida de refugiados e imigrantes. Além de darem apoio à política neoliberal adotada pela União Europeia.

 

A onda verde que cresceu na Europa seria, na verdade, o bloco neoliberal reorganizando-se. Os partidos ecologistas, quando deixam de questionar as estruturas dominantes – verdadeiras responsáveis pela catástrofe ambiental – disputam votos com a direita e garantem a dominação das sociedades pelas forças conservadoras e seus mais reacionários valores.

 

29/03/2021

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-novo-velho-continente-e-suas-contradicoes-Nossos-ultimos-anos-no-planeta-Terra/4/50236

 

 

https://www.alainet.org/de/node/211588

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