Macri espionou mais de 400 jornalistas para vetar críticas em 'eventos glamorosos', como reunião do G20

11/06/2020
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Escândalo no país irmão: enquanto políticos bolsonaristas incitam, nas redes sociais, a coleta de dados de militantes de esquerda e opositores ao governo de ultradireita, a Argentina vive dias agitados após virem à tona denúncias graves e repletas de documentos sobre práticas ilegais de espionagem realizadas no país durante o governo de Mauricio Macri. A convite do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, o comunicador argentino Javier Tolcachier explicou o conteúdo das denúncias e como o mega-empresário utilizou o aparato de inteligência, à frente da presidência argentina, para catalogar vozes dissonantes a partir de práticas criminosas. Leia, a seguir, a íntegra do artigo, produzido com exclusividade para o Barão de Itararé.

 

 

Espionagem a jornalistas e dirigentes, prática ilegal e habitual do governo Macri

 

Durante o governo de Maurico Macri, a Agência Federal de Inteligência (AFI) organizou um esquema de espionagem massiva sobre jornalistas, acadêmicos, dirigentes de organizações a sociedade civil, fundações, câmaras empresariais e outras instituições.

 

A informação, que veio à tona através de diversos meios de comunicação, se desprende da apresentação judicial realizada na sexta-feira, 5 de junho, pela atual interventora e responsável pela re-organização do organismmo, Cristina Caamaño.

 

A ação teve como objetivo fazer um escrutínio e fichar dados pessoais de quem solicitou credenciamento para a cobertura da Cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC) - celebrada na Argentina em dezembro de 2017 - e da reunião do G20, ocorrida no país entre o final de novembro e o começo de dezembro de 2018.

 

Tais eventos deveriam servir para catapultar a administração de Macri ao cenário mundial como fiel vassalo dos mandatos do neoliberalismo e, portanto, nada e nem ninguém deveria trabalhar para “manchar” tão precioso propósito.

 

Para a ocasião, os espiões organizaram informação detalhada sobre 403 jornalistas, 28 personalidades acadêmicas e 59 nomes entre referências do mundo empresarial e de organizações da sociedade civil.

 

De maneira ilegal, a agência revisou os perfis em redes sociais para catalogar preferências ideológicas, além de ter usado bases de dados do Estado para extrair dados trabalhistas, financeiros e filiações de parentesco.

 

As informações coletadas sobre trabalhadores da imprensa incluiu não apenas possíveis vozes dissonantes e críticas ao governo, simpáticas à oposição ou ao movimento “antiglobalista”, mas também atingiu muitos jornalistas de veículos que praticaram uma verdadeira “blindagem midiática” ao governo de Macri, como o grupo Clarín, o La Nación e o Infobae.

 

Tal acontecimento revela uma motivação inquestionável: o temor de uma administração elitista, seus asseclas e assessores de segurança, de que alguma voz dissonante possa interferir em seus glamorosos eventos.

 

Além desta causa, a Justiça também investiga Macri e vários de seus funcionários em outras quatro frentes em curso devido às violações cometidas contra a Lei de Inteligência argentina. Entre elas, a espionagem ilegal que teve como principal alvo a ex-presidenta e atual vice-presidente da nação, Cristina Fernández de Kirchner, junto a numerosos dirigentes sociais, líderes sindicais e personalidades políticas.

 

Os expedientes contêm informes sobre infiltração de espaços opositores ao macrismo, interceptação de e-mails, gravações, fotografias e arquivos armados pelo órgão de inteligência. Segundo a legislação vigente no país, é vedado o armazenamento de informação sobre pessoas que realizem atividades lícitas, como por exemplo pertencer à determinada corrente política, produzir informação ou expressar opiniões.

 

Conforme revelou o diário Página 12, nesta terça-feira (9), em nota assinada por Sofia Caram e Raúl Kollman, as ações de espionagem tiveram envolvimento de um conjunto de “polícias, agentes, advogados, jornalistas, policiais de Buenos Aires, narcotraficantes e barrabravas (grupos de torcidas de futebol)”, o que, para além da gritante ilegalidade das ações, expõe, também, a proximidade do governo de Macri a grupos de delinquentes.

 

Pressão e extorsão contra juízes, vazamentos e operações de imprensa, espionagem massiva e ilegal a jornalistas e opositores: o repertório mafioso de ações que foi denunciado repetidas vezes ao longo dos quatro anos de desgraça neoliberal promovida pelo governo Macri começa a ser exposto com abundante material comprobatório perante à Justiça.

 

Justiça que, por sua vez, agora espera por seu próprio processo de depuração e regeneração.

 

Para além dos necessários vereditos, a história já emitiu sua sentença: o povo argentina eleva a sua voz e exige “nunca mais!” a este tipo de práticas e seus protagonistas.

 

- Javier Tolcachier é pesquisador do Centro Mundial de Estudos Humanistas e comunicador na agência internacional de notícias Pressenza. Para o Barão de Itararé

 

10 Junho 2020

http://baraodeitarare.org.br/site/noticias/internacional/macri-espionou-jornalistas-para-vetar-criticas-em-eventos-glamorosos-sediados-na-argentina-como-reuniao-do-g20

 

 

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/207186?language=es
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