Defesa de Assange consegue adiar julgamento da extradição
- Opinión
“Audiência impossível e perigosa sob a quarentena”
A audiência de extradição do jornalista e fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que estava marcada para 18 de maio, foi adiada após interpelação apresentada por sua defesa de que a pandemia de coronavírus tornava o julgamento “impossível” e “perigoso do ponto de vista médico”.
Com a Grã Bretanha chegando ao dobro dos casos de Covid-19 da China, e cinco vezes o número de mortos, e o país sob rigorosa quarentena, cuja manutenção foi determinada pelo primeiro-ministro Boris Johnson, tornara-se insustentável a intenção da juíza Vanessa Baraitser de manter a data de maio.
Como o advogado Edward Fitzgerald ressaltou, não há qualquer possibilidade da audiência de extradição ser realizada de maneira justa, debaixo da quarentena decorrente da pandemia, com Assange, testemunhas, equipes jurídicas, imprensa e público impossibilitados de comparecer pessoalmente.
“Sob a epidemia de coronavírus, não é possível preparar este caso”, acrescentou Fitzgerald, que relatou não ter acesso direto a seu cliente há mais de um mês.
O recuo veio em um audiência preliminar por videoconferência na corte de Westminster na segunda-feira (27) e conforme o portal RT o julgamento do pedido de extradição apresentado pelo regime Trump poderá ser adiada até 2 de novembro, a mais próxima data onde três semanas consecutivas estão disponíveis, tempo que a juíza considera necessário para a análise do caso.
Baraitser disse que a nova data deverá ser anunciada dentro de uma semana. A promotoria apoiou o apelo da defesa de que seria “opressivo sob as circunstâncias atuais requerer que Assange” comparecesse ao tribunal enquanto a Grã Bretanha estava sob quarentena.
No mês passado, a juíza havia negado à defesa de Assange apelo para que o jornalista fosse liberado por fiança ou colocado em prisão domiciliar, em razão da pandemia. Um preso do presídio de Belmarsh já morreu de Covid-19, e seriam dezenas os casos de presos e guardas penitenciários infectados.
O risco de vida que Assange está correndo em Belsmarsh tem sido denunciado por juristas, personalidades médicas, associações de jornalistas e pelo relator da ONU sobre Tortura, Nils Melzer.
Há duas semanas, ao se completar 1 ano da detenção de Assange na ‘Guantánamo britânica’, três sindicatos de jornalistas franceses enviaram ao preso político mais famoso do mundo carta de solidariedade e de apoio à sua imediata libertação.
As entidades denunciaram que a prisão de Assange foi “puramente arbitrária, por critérios políticos” e repudiaram a decisão do juiz do caso de extradição de se recusar a libertá-lo, ou transferi-lo para prisão domiciliar, “nestes tempos de pandemia, em que as libertações são massivamente concedidas a prisioneiros de vários países do mundo”.
O fundador do WikiLeaks está sendo acusado de ‘espionagem’ por ter divulgado os documentos do Pentágono que registram crimes de guerra cometidos no Iraque e no Afeganistão, divulgados em 2010, junto com os principais jornais do mundo. Pelas acusações já mostradas, está ameaçado de 175 anos de cárcere.
Entre esses documentos oficiais, está o vídeo que ficou conhecido como “Assassinato Colateral”, filmado desde um helicóptero de guerra Apache, e que registra o massacre de civis desarmados, inclusive dois jornalistas da Reuters, e até de um pai que levava os filhos para a escola e parou para socorrer as vítimas.
Inclusive transcreve os diálogos entre o comando em terra e os pilotos, e a ordem para matar. Enquanto esses pilotos criminosos de guerra e os operadores de terra da invasão permanecem livres, quem denunciou é perseguido e ameaçado de prisão ou pior, depois de operação de “assassinato de reputação” que lhe foi movida por Washington, com a conivência de autoridades suecas, inglesas e do traíra equatoriano Lenin Moreno.
“Precisamos de você”, reiteram os jornalistas franceses na carta a Assange, que acrescenta que o jornalista australiano “se tornou um símbolo da liberdade de informar”.
Também o atual editor do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, tem advertido que em Belmarsh “a vida de Assange corre perigo cada dia e cada hora”. “É um indivíduo muito vulnerável, especialmente ante o vírus da Covid-19. Ele tem um afecção pulmonar subjacente e seria considerado em grande risco inclusive se vivesse normalmente em sociedade”, ressaltou.
A extradição de Assange por tornar público crimes estatais cometidos durante a invasão de outro país, quando ele é um cidadão australiano e o WikiLeaks não tem sede nos EUA, abriria o precedente de Washington se arrogar o ‘direito’ de encarcerar qualquer jornalista em qualquer lugar do mundo, que revele uma verdade inconveniente aos olhos da CIA, do Pentágono ou da Casa Branca.
28 de abril de 2020
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