O tubo vai fechar

28/02/2019
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Passamos as últimas décadas ouvindo da extrema direita acusações de que a esquerda tinha como objetivo empobrecer a população e dividir todos os bens materiais dos cidadãos. A esquerda era acusada também de querer acabar com a liberdade de imprensa e com os direitos básicos da sociedade democrática. Nada disso, porém, ocorreu nos governos ditos "de esquerda" no Brasil. O grande fenômeno do momento é que a própria extrema-direita, representada pelos governos Temer e agora Bolsonaro, é quem está executando com primor estas pautas.

 

Em apenas 30 meses eles conseguiram ampliar a pobreza jogando milhares de famílias nas ruas. Liquidaram com as leis trabalhistas reduzindo a renda e colocando milhares de trabalhadores na informalidade. Já são 13 milhões de desempregados, 52 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e 15,2 milhões na miséria. O nosso PIB recuou para o nível de 8 anos atrás, sendo que 63 milhões de brasileiros estão inadimplentes. Destes, muitos se viram obrigados a hipotecar suas casas ou vender tudo para pagar os juros bancários.

 

Na semana passada, o banqueiro-ministro Paulo Guedes apresentou uma proposta de reforma da previdência que preserva os privilégios e as altas pensões de militares, juízes, promotores e políticos. Pretendem ampliar a idade e o tempo de contribuição para o pedido de aposentadoria. Se a proposta do governo for aprovada sem alterações, no futuro próximo correremos o risco da aprovação do benefício-morte. Seria algo como oferecer para as famílias a morte sem dor e a cremação gratuita dos velhos desempregados.

 

Como prometido, a carga tributária das empresas deve ser reduzida. Já a lei sancionada por FHC em 1995 que isenta a tributação dos lucros e dividendos nas aplicações financeiras continua. Só para constar, o lucro líquido dos cinco maiores bancos do Brasil ultrapassa os R$100 bilhões anuais. São os bancos e as investidoras brasileiras que estão, de fato, tomando nossas casas e nossos bens materiais. São eles que cobram as maiores taxas de juros do planeta e controlam, com seu poder financeiro, muitos políticos importantes, grupos de comunicação e até setores da Justiça. Não é à toa que a grande mídia vem apoiando abertamente as privatizações e as reformas que reduzem os direitos dos trabalhadores. Tudo em nome do interesse primeiro do tal mercado. Mesmo os que defendem o liberalismo não conseguem explicar porque os melhores nomes para tocar a economia do país são sempre banqueiros: Henrique Meirelles, Paulo Guedes, Joaquim Levy...

 

Após seis anos de crescimento robusto dos países emergentes, a quebra do Lehman Brothers em 2008 causou um impacto significativo em países como o Brasil. A crise reduziu investimentos e provocou perdas reais de salários. Dez anos se passaram e o setor financeiro agora aproveita a oportunidade para recuperar ganhos que perderam na época da bonanza do consumo e do crescimento. A conta está sendo executada pela extrema-direita numa aliança com os conservadores. O comandante deste novo grupo é Donald Trump que fez de tudo para eleger Bolsonaro. O capitão se viabilizou junto a banca financeira que vai levando rapidamente as nossas riquezas. Quem temia perder a casa está perdendo bem mais, autoestima e as perspectivas para o futuro. Tem coisas na vida que a gente só dá valor quando perde. A democracia e os direitos sociais estão ameaçados. A onda direitista ainda não desceu, quando o tubo fechar será a hora dos progressistas surfarem de volta a terra firme. Para isso temos que dar boas braçadas e não deixar ninguém pra trás.

 

- Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e integrante do Jornalistas pela Democracia

 

27 de Fevereiro de 2019
https://www.brasil247.com/pt/colunistas/florestanfernandes/385320/O-tubo-vai-fechar.htm

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/198455?language=en
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