Doze anos de conquistas, e os mesmos desestabilizadores de sempre
- Opinión
Em agosto, o presidente Evo Morales alcançou legal e legitimamente o recorde de permanência sucessiva no comando do aparato estatal boliviano (12 anos, ou 4.578 dias como presidente), o que o torna o fenômeno político mais importante da história do país. Ao mesmo tempo, ocorrem tentativas desesperadas da oposição de direita para desestabilizar o país.
O ex-ministro Hugo Moldiz, denunciou tentativas “irresponsáveis” de setores da oposição para convulsionar o país, com o objetivo de desprestigiar a gestão do governo e propagar um discurso que assegura que o presidente Evo Morales não dá garantias de estabilidade econômica e política, confrontando uma realidade que demonstra os grandes avanços alcançados em 12 anos de gestão.
Entre os desestabilizadores incapazes de elaborar propostas para o país estão os ex-presidentes Carlos Mesa e Tuto Quiroga, além do reitor da Universidade Maior de San Andrés (UMSA), Waldo Albarracín. Os três asseguram que o país ficará ingovernável caso não sejam respeitados os resultados do referendo de 21 de fevereiro de 2016, fazendo um disfarçado apelo à violência política, muito parecido com os observados costumeiramente na Venezuela e na Nicarágua.
“O mundo está vendo que há plena democracia na Bolívia, as pessoas podem dizer livremente suas opiniões e tomar ações em função de suas próprias convicções”, afirmou Moldiz, e completou dizendo que está claro que “não acontece absolutamente nada (na Bolívia) que possa ser considerado como uma restrição à democracia e os conteúdos de livre pensamento”.
De acordo com todas as pesquisas de opinião, a média de aprovação da gestão em doze anos de governo supera os 55%. Significa dizer que a população reconhece as obras realizadas pelo governo, a intensidade do trabalho e a honestidade demonstrada pelo presidente Morales.
“Estes apelos disfarçados em favor da violência política, baseados em negar a existência de uma ordem democrática, são uma estratégia que prejudica a oposição, que deveria se sentar para dialogar entre seus próprios líderes para ver como chegar a um acordo e ter um só candidato, e para construir um projeto que possa apresentar ao país”, comentou Moldiz.
Em sua condição de líder histórico, Morales é o eixo e o nó articulador de outros dois fatores que tornam possível a revolução boliviana: a força organizada do povo e o projeto alternativo. Entre 2006 e 2009, Evo presidiu o velho Estado, e agora lidera o Estado Plurinacional, superando o condutor da revolução de 1952, Víctor Paz Estenssoro, que acumulou 12 anos como mandatário do país de forma descontinuada (teve três mandatos: 1952-56, 1960-64 e 1985-89).
Nesse contexto, foi incorporado ao plano de governo o projeto alternativo que articula o questionamento à colonialidade do poder e ao sistema capitalista dentro do Plano Nacional de Desenvolvimento – que significou a nacionalização do petróleo, a Assembleia Constituinte, a anulação do neoliberalismo, entre outras medidas –, e agora se discute a materialização da Agenda 2025.
Os analistas indicam que esta não é uma revolução para instalar uma protoburguesia no poder, como ocorreu em 1952, e sim para constituir um bloco de poder sob a liderança indígena camponesa, operária e popular, para dar vida ao processo de mudanças na revolução mais profunda da história boliviana.
Evo foi capaz de articular a resistência ao neoliberalismo desde a crise de abril de 2000, quando se desenvolveu a “Guerra da Água”. Houve outros referentes na sublevação popular, como Felipe Quispe, mas Morales condensava melhor os sonhos e as esperanças da mais ampla gama das classes subalternas. Após a derrota do neoliberalismo, em outubro de 2003, e da tentativa da embaixada estadunidense de impor seu presidente em junho de 2005, a poderosa insurgência indígena camponesa, operária e popular obteve uma histórica vitória político-eleitoral em dezembro de 2005.
Para Moldiz, não é possível divorciar o Evo líder político do Evo presidente, e embora tenha havido momentos em que essa relação entrou em crise, cada vez isso aconteceu ele saiu fortalecido. Por isso Evo Morales está decidido a ser candidato, uma vez mais, nas eleições de 2019.
A força da sua liderança, fundada no protagonismo dos movimentos sociais, está desfazendo vários mitos da história da Bolívia, como o que dizia que a diversidade classista e nacional-cultural impedia que qualquer candidato obtivesse mais de 50% dos votos em um primeiro turno eleitoral. Evo conquistou 54% em 2005, e quatro anos depois alcançou 64% de respaldo, sem contar 67% no referendo revogatório de 10 de agosto de 2008. Em 2014, ele obteve 62% da votação.
Morales está demostrando que o Estado nas mãos de uma direção revolucionária é um instrumento capaz de administrar eficientemente os serviços públicos e de buscar o bem comum, ao não se manter submisso às forças cegas da economia de mercado (empresas multinacionais e agentes do modelo neoliberal), já que é regido por um novo bloco de poder (indígena, camponês, operário e popular) que se guia em função dos interesses da imensa maioria da população.
Ao se distanciar das recomendações do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, Morales pode almejar resultados entre os mais impressionantes em todo o continente, e certamente os melhores da história econômica boliviana: o PIB quase se quintuplicou (passou de 6 a mais de 35 bilhões de dólares), e as exportações – que se mantiveram estacionadas em um bilhão de dólares ao ano durante duas décadas – foram multiplicadas por 10 em seu período.
A Bolívia se transformou na primeira economia da região nos últimos quatro anos, graças à política de nacionalizações e à aplicação de um modelo que gera excedentes e os redistribui à população através de distintos mecanismos, provocando uma ênfase na demanda interna.
Também foi destruído o mito de que a Bolívia necessita dos Estados Unidos e dos países do capitalismo central, devido a uma política exterior soberana e diversificada. Como já dizia o desaparecido líder socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz: “é errado pensar que somos dependentes por sermos pobres, a verdade é que somos pobres por sermos dependentes”.
Moldiz recorda que se quebrou também o mito de que “os índios não sabem governar”, abrindo um processo de descolonização das estruturas políticas, materiais e simbólicas que outorgavam à “branquitude” uma superioridade sobre a “indianitude”. Ele também demonstrou que um governo de esquerda pode ser eficiente, deixando para trás o preconceito sobre a participação e a liderança estatal: é possível redistribuir a riqueza e fazer obras de envergadura sem colocar em risco a estabilidade econômica e a soberania.
Agora, ele terá que demonstrar que um projeto anticapitalista – o socialismo comunitário para o bem-estar – é o que a Bolívia necessita para continuar no rumo da soberania política e da independência econômica.
Como é óbvio, segundo Moldiz, a revolução boliviana enfrenta momentos – como o de agora – de contrarrevolução, onde a direita tenta emplacar a teoria do fim do ciclo progressista na região e a restauração conservadora, que pretende destruir tudo o que se fez nos últimos doze anos, apoiada no discurso de pedir respeito ao referendo de 21 de fevereiro de 2016, que impediu a modificação do artigo 168 da Constituição para permitir uma nova reeleição presidencial.
A resposta a esta ameaça está nas mãos de Evo e do povo organizado.
- Sullkata M. Quilla é antropóloga e economista boliviana, e analista associada ao Centro Latino-Americano de Análise Estratégico (CLAE). estrategia.la
Tradução de Victor Farinelli
20/09/2018
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