Stedile: o que se disputa na Venezuela é a renda petroleira
- Opinión
João Pedro Stédile, coordenador do MST e da Via Campesina Brasil, criticou duramente o ataque internacional orquestrado contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela.
O líder dos sem-terra expôs ainda como os interesses econômicos são a real motivação contra o governo Maduro.
"No fundo, a disputa não é pelo governo Maduro, a disputa é pela renda petroleira, que durante todo século 20 foi apropriada indevidamente pelas empresas estadunidenses e por uma minoria de oligarcas venezuelanos, que viviam como marajás! E isso acabou", destaca.
Confira abaixo a íntegra do texto:
O povo brasileiro vem sendo bombardeado todos os dias por mentiras e manipulações da grande imprensa sobre a situação da Venezuela. As acusações vão desde um governo ditatorial, migração em massa, povo passando fome e até violência diária nas ruas , cometida pela polícia , contra todos.
Vamos aos fatos. Desde que Chavez assumiu o governo pelas urnas em 1999, foram realizadas dezoito eleições. Duas delas o governo perdeu. A oposição direitista governa três estados importantes. Foi o país do planeta que mais eleições diretas realizou em toda história.
Saíram do país, no último ano, em torno de 30 mil venezuelanos para a Colômbia e Brasil. Mas há na Venezuela 3 milhões de colombianos e mais de 15 mil haitianos. A Venezuela é um grande importador de alimentos, e quem importa são empresas privadas e o governo. Nunca se gastou tanto dólares em comida como agora.
De abril a agosto de 2017, a direita adotou a tática ucraniana de produzir o terror. O medo, o caos, para provocar um golpe, tentando dividir as forças armadas e pedindo intervenção militar estrangeira! Adotou as mais diversas formas de violência física e social, seguindo os manuais da CIA. Tudo era praticado por jovens mercenários e lúmpens, pagos em dólar. Mataram, nesse processo, 95 pessoas. Cinco foram mortas pelas forças da ordem e noventa eram chavistas, assassinados pelos mercenários.
A resposta do governo foi convocar uma constituinte, para repactuar a sociedade. O povo entendeu e somou-se de forma massiva. Ainda que a participação não fosse obrigatória, participaram mais de 8 milhões de eleitores , a maior participação dos últimos vinte anos. Com a eleição da constituinte, o povo derrotou politicamente o terror e a tática ucraniana.
A oposição retirou-se das ruas com seus mercenários e participou com seus euros e dólares das eleições para governadores no dia 22 de outubro.
Mas o império não se aquietou, e Trump ameaçou com bloqueio econômico, naval e invasão militar! Santa paciência! O imperador falastrão não conhece o povo da Venezuela, nem a América Latina, nem as leis internacionais. Essa ameaça apenas serviu para criar uma coesão ainda maior entre as forças armadas e o povo venezuelano. E uma agressão militar levaria milhões de trabalhadores de toda a América latina a se manifestarem.
No fundo, a disputa não é pelo governo Maduro, a disputa é pela renda petroleira, que durante todo século 20 foi apropriada indevidamente pelas empresas estadunidenses e por uma minoria de oligarcas venezuelanos, que viviam como marajás! E isso acabou.
A obrigação de todos os militantes, de todos os movimentos populares e partidos de esquerda é defender o povo da Venezuela e o processo bolivariano.
Ou assumir que está do lado do império e de seus aliados mercenários dentro da Venezuela! No Brasil, os movimentos populares e partidos políticos nos articulamos em mais de sessenta entidades no comitê Paznavenezuela, para nos manifestar e apoiar de todas as formas possíveis a paz naquele país. Você pode aderir, entre na página com o mesmo nome, e promova atividades de solidariedade em seu espaço social de atuação. Já os golpistas , sua imprensa e alguns oportunistas, seguem vomitando mentiras, como se tivessem alguma moral, de criticar e algum governo de outro golpista.
A história não falha, e no futuro as gerações saberão quem eram os golpistas e mercenários a serviço apenas do capital estrangeiro.
João Pedro Stedile é coordenador do MST e da Via Campesina Brasil
14 de Fevereiro de 2018
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