Crise em progressão
Quadro de recessão na economia tem origem na crise política para desestabilizar o governo Dilma e se aprofunda com receituário neoliberal.
- Opinión
Tem dois anos que o Brasil vem acumulando situações de crise, cujas dimensões tornam-se cada vez mais complexas de resolução. A começar pela sua origem, a verdadeira mãe de todas as demais dimensões da crise, a política.
A crise política se instalou no país de forma ampla e profunda a partir da última eleição presidencial que concedeu a derrota, pela quarta vez, aos defensores do receituário neoliberal. Uma vez encerrado o pleito de 2014, uma parte significativa dos derrotados se insurgiu com o resultado, não mais aceitando o voto democrático como determinação da vontade popular.
De imediato, não desmobilizou recursos, tampouco energia para fazer valer a sua vontade golpista para encetar sua vontade do terceiro turno em várias modalidades: (1) a solicitação da recontagem dos votos, (2) o questionamento da validade do financiamento dos vencedores, (3) a mobilização de rua e (4) a impetração do processo de impeachment até obter a vitória do desejado em apenas 22 meses após ter sido derrotada democraticamente nas eleições presidenciais de 2014.
Tal com a UDN que desde 1950, após descobrir que não chegaria ao poder pelo voto popular, alçou o golpe como meio antidemocrático de chegada ao poder. Mesmo que interrompido com a morte de Getúlio Vargas, em 1954, se tornou vitorioso, dez anos depois, em 1964.
Da crise política fundada no abandono do caminho democrático por parte da oposição derrotada, instaurou-se, a partir de dezembro de 2014, a crise econômica. A tática do governo reeleito de buscar romper com o bloco oposicionista através da cooptação com cargos representantes legítimos, não se mostrou eficaz.
Pelo contrário. A entrada de personagens novos que haviam contribuído com o programa do candidato de oposição derrotado, como no caso do Ministério da Fazenda, implicou adotar medidas equivalentes ao receituário neoliberal, desfraldando a recessão por meio de contingenciamento do gasto público e elevação do custo de produção com juros elevados, aumento dos preços administrados, desvalorização cambial, entre outros.
Com a recessão anunciada e em progresso nos seus maléficos efeitos, o governo eleito foi perdendo parte de sua base de apoio. Simultaneamente, sem conseguir romper o cerco midiático e de massa constituído efetivamente pela oposição derrotada, aparece, então, a crise de governo.
Com a saída do vice-presidente do governo, o movimento golpista ganhou maior impulso, agregando parte que faltava para se tornar majoritário no parlamento. Da instauração do impeachment até a derrocada do governo eleito democraticamente em 2014 foi um passo rápido.
A ascensão do vice-presidente era esperada com remédio para superar a crise de governabilidade, pois significaria a reformatação de uma nova maioria parlamentar suficiente para pôr fim simultaneamente às dimensões política e econômica da crise nacional. Decorridos mais de seis meses do golpe constituído, descobriu-se que o governo de plantão frustrou enormemente as esperanças vendidas.
A ingovernabilidade mantém-se insuperável, o que agrava ainda mais as dimensões política e econômica da crise atual no Brasil. Sinal disso são as indicações a apontar um novo golpe dentro do golpe atual, inoculando de tal forma na sociedade o germe da crise institucional, cujo desfecho parece ser cada vez mais incerto.
- Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Unicamp
05/12/2016
http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2016/12/crise-em-progressao-9760.html
Del mismo autor
- Capitalismo de investimentos fantasmas e empresas zumbis 13/10/2021
- O trabalhador no sistema Hamlet 11/08/2021
- Novíssima maquinaria e o trabalho no início do século 21 27/07/2021
- Dólar no pior cenário desde o fim do padrão ouro 22/06/2021
- Mudanças para o desenvolvimento não liberal 20/05/2021
- Trabalho na América Latina e a pandemia 24/06/2020
- Extrema direita, economia parada e conexão com os pobres 22/06/2020
- Economia solidária pós-pandemia deve pautar os futuros governos progressistas 18/05/2020
- Capitalismo e a Covid-19 05/05/2020
- A indústria do medo e o crescimento do partido da segurança 28/04/2020
Clasificado en
Clasificado en:
Crisis Económica
- Geraldina Colotti 07/04/2022
- Julio C. Gambina 07/04/2022
- Rafael Bautista S. 06/04/2022
- Julio Gambina 04/04/2022
- José Ramón Cabañas Rodríguez 01/04/2022