Cadê o amiguinho rico do Temer?

07/09/2016
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Quando a mídia monopolista quer destruir uma reputação, seja por motivos políticos ou econômicos, ela promove um cruel bombardeio. Manchetes garrafais, fotos deformadas, matérias diárias e o coro dos colunistas venais nos jornais, revistas, sites e emissoras de rádio e televisão. Já quando ela deseja proteger alguém, ela simplesmente realiza uma operação de blindagem. A denúncia até é feita, mas logo depois some do noticiário, não vira capa dos impressos e nem motivo de comentários ácidos na rádio e tevê. É um refinado padrão de manipulação, conforme já ensinou Perseu Abramo, que realça ou omite o que interessa aos barões da mídia. O caso do Judas Michel Temer é bastante emblemático.

 

 

MST destampa o bueiro

 

Em maio passado, quando o MST ocupou uma fazenda em Duartina, no interior paulista, a imprensa informou que ela pertencia a um "amigo rico" do então vice-presidente. Na época, a Folha relatou que a propriedade estava registrada em nome de João Batista Lima Filho, coronel da PM, e da empresa Argeplan. "Ele nega ser dono do imóvel, de 1.500 hectares (o equivalente a 2.100 campos de futebol), que produz eucalipto e tem criação de gado e que foi invadido [sic] nesta segunda-feira (9 de maio). A Justiça de Duartina atendeu ao pedido de reintegração de posse de Lima e determinou a saída dos manifestantes do local. Em caso de descumprimento, a multa diária era de R$ 5.000 por invasor".

 

A reportagem fez questão de destilar o seu ódio ao MST. "A Folha esteve no local no dia da invasão e identificou pichações externas no imóvel. Além disso, tratores foram danificados, animais foram abatidos para consumo dos invasores e árvores foram tombadas para bloquear o acesso à fazenda por Duartina". Mas também informou, sem maior escarcéu: "A propriedade rural está registrada no nome de Lima, amigo de Temer desde os anos 1980, e da Argeplan Arquitetura e Engenharia. O coronel tornou-se sócio da empresa em 2011, com 50% de participação. Nos anos 1990, tanto Lima como a Argeplan contribuíram para as campanhas de Temer à Câmara. Em 1994, a empresa doou a ele ao menos R$ 100 mil (R$ 490 mil em valores atualizados)". Nada de adjetivos ou críticas!

 

Folha desconfia da fortuna do PM

 

Dias depois, numa matéria mais crítica, a própria Folha questionou as relações de amizade entre o coronel reformado e Michel Temer, que já havia tomado de assalto o Palácio do Planalto - ainda de forma temporária. Matéria assinada pelos jornalistas Reynaldo Turollo Jr. e Catia Seabra, revelou que "uma empresa que tem como sócio o dono de uma fazenda frequentada por Michel Temer no interior de São Paulo ganhou forte impulso como fornecedora da Polícia Militar do Estado na época em que o hoje presidente interino comandava a Secretaria de Segurança Pública de SP, nos anos 1980 e 1990".

 

"A Argeplan Arquitetura e Engenharia tem como um dos donos o coronel aposentado da PM João Baptista Lima Filho, amigo de Temer e seu ex-assessor na secretaria. Lima e Argeplan são proprietários da fazenda Esmeralda, em Duartina (SP), que serviu de refúgio para Temer em diversas ocasiões e foi invadida pelo MST, como retaliação à chegada do peemedebista à Presidência... A Argeplan é uma empresa que assinou contratos de consultoria com a Segurança Pública quando Temer era o titular, função que exerceu três vezes entre 1984 e 1993. Em 1993, por exemplo, houve ao menos dois contratos de R$ 500 mil (em valor corrigido)".

 

"Da União, a Argeplan passou a receber pagamentos por obras a partir de 2011, ano em que Temer assumiu a vice-presidência. De 2011 a 2016, a empresa levou R$ 1,1 milhão por serviços em uma ferrovia e em uma rodovia. Também obteve nesse período contratos na Aviação Civil e na usina de Angra 3, sob investigação na Lava Jato. Lima, que assessorou Temer na secretaria de 1984 a 1986, diz que a empresa era só uma 'salinha' quando começou a atuar como consultora em obras da PM... Em 1991 e 1992, quando era chefe do Centro de Suprimentos e Manutenção de Obras da PM, o próprio Lima contratou a Argeplan para projetos da PM. Um contrato de 1992 teve aditivos e chegou a R$ 2,2 milhões (R$ 8,6 milhões, em valor corrigido) em 1995. Lima nega conflito de interesses".

 

"Lima aposentou-se da PM em 1993, com cerca de R$ 15 mil mensais. Em 2000, o coronel adquiriu um dúplex de 446 metros quadrados com seis vagas na garagem na região do Morumbi. O valor venal é de R$ 3,3 milhões – no mercado, estima-se que supere R$ 5 milhões. Questionado sobre suas fontes de renda à época, disse que, para responder, precisaria organizar seus impostos de renda, receitas e despesas dos últimos 30 anos. Conforme a matrícula do imóvel, o dúplex havia sido adquirido em 1995 por uma offshore sediada no Uruguai, a Langley Trade Co Sociedad Anônima".

 

A bomba da revista Época

 

Na sequência, a revista Época, da famiglia Marinho, publicou uma matéria ainda mais ácida sobre o assunto - não se sabe por quais motivos oportunistas. Assinada pela jornalista Ana Clara Costa, a reportagem recebeu um título agressivo: "PM amigo de Temer acumulou fortuna estimada em R$ 15 milhões em imóveis". Também vale conferir alguns trechos:

 

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Fazendas, imóveis em São Paulo e 50% de participação na construtora Argeplan, especializada em prestar serviços para o setor público. Ultrapassa R$ 15 milhões o resumo patrimonial do coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, amigo há mais de 30 anos do vice-presidente Michel Temer... A fazenda Esmeralda, cuja área de 484 hectares (o equivalente a três parques do Ibirapuera), ocupa quatro municípios no interior de São Paulo, é avaliada em pelo menos R$ 10 milhões por negociadores de terras da região de Duartina, onde está localizada. 

 

A fazenda está em nome da Argeplan, da qual Lima é sócio. Um proprietário de terras de Duartina ouvido pela reportagem de 'Época' afirma que a fazenda abrigou durante mais de 10 anos a criação de gado nelore, mas que, nos últimos anos, havia mudado a produção da propriedade para a plantação de eucalipto, tendo como principal cliente a Fibria.

 

Tanto Lima quanto a Argeplan foram citados por José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, como intermediários na arrecadação de recursos ilícitos em um dos contratos da Eletronuclear, investigado no âmbito da Operação Lava Jato. Em sua proposta de delação premiada, revelada com exclusividade por 'Época', Antunes aponta Lima como “pessoa de total confiança de Michel Temer”. Antunes detalhou os meandros de um contrato fechado entre a Engevix e a Eletronuclear, e que tem a Argeplan como integrante. 

 

Segundo Antunes, Lima também seria próximo do almirante Othon Pinheiro, presidente da Eletronuclear nos governos Lula e Dilma, que foi preso na Lava Jato, acusado de corrupção nos contratos de Angra 3. Segundo dois chefes do PMDB e um lobista do partido, o almirante foi indicado por Temer e pelos senadores do PMDB – Temer nega ter feito a indicação. Consta da proposta de delação de Antunes que “Lima foi diretamente responsável pela indicação de Othon junto a Michel Temer, e por sua manutenção no cargo de presidente da Eletronuclear”.

 

Além da fazenda Esmeralda, a Argeplan possui mais 274 hectares na região de Duartina. Já Lima, como pessoa física, é dono ainda da Fazenda Bela Esperança, de 542 hectares, e de mais 115 hectares em propriedades menores no entorno. Com o preço do hectare em Duartina em torno de R$ 20 mil (ou R$ 50 mil o alqueire), o patrimônio de Lima na região ultrapassa R$ 13 milhões, a considerar apenas as terras, sem levar em conta as benfeitorias feitas ao longo dos anos. Em São Paulo, o coronel é dono de dois imóveis avaliados em R$ 2 milhões: um apartamento duplex no bairro do Morumbi e uma sala comercial na avenida Francisco Morato, na zona Sul da capital. 

 

O crescimento patrimonial do ex-PM teve início na década de 2000, com a aquisição das primeiras glebas de terra em Duartina. Em 2005, comprou a fazenda Bela Esperança, vizinha da Esmeralda. Lima aparece como sócio da Argeplan apenas em 2011, segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, apesar de já atuar como representante da empresa desde, pelo menos, a década de 2000. Segundo a Junta, o ex-PM adquiriu metade da construtora por apenas R$ 250 mil. O valor é incompatível com o vulto dos contratos firmados pela construtora à época. Em 2011, a Argeplan se consorciou à Engevix por meio de uma empresa finlandesa, a AF Consult, para a execução de um contrato de R$ 164 milhões. Aposentado pela corporação, Lima, aos 74 anos, recebe R$ 23 mil mensais do Estado de São Paulo.

 

Lima é do círculo próximo do vice-presidente Michel Temer desde os tempos em que ele assumiu cargos de alto escalão no governo de Franco Montoro, em São Paulo. Um exemplo da confiança que o vice já depositou no coronel remonta a 1984, quando um acusado por tráfico de drogas no Rio de Janeiro envolveu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo em suas denúncias. Temer, que era secretário, e teve a imagem abalada, mandou um de seus homens de confiança, o então Major João Baptista Lima Filho, à capital fluminense para averiguar o caso. 

 

Quando Temer foi candidato a deputado federal, em 1994, tanto Lima quanto a Argeplan e seu outro sócio, Carlos Alberto Costa, fizeram doações para a campanha do vice. A Argeplan doou R$ 150 mil (ou R$ 993 mil em valores corrigidos), o equivalente a 40% do total arrecadado por Temer com empresas naquele ano, o que fez da construtora a maior doadora do vice em 1994, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Já Lima e Costa doaram três linhas telefônicas à campanha do peemedebista. Depois de 1994, tanto a Argeplan quanto seus sócios sumiram das listas de doadores do vice-presidente.

 

O vice-presidente reconhece a amizade de longa data com Lima, mas nega que tenha confiado a ele qualquer tipo de intermediação em seu nome. Temer também nega qualquer relação com a Argeplan. O vice afirmou, por meio de sua assessoria, que as doações de campanha feitas pela Argeplan em 1994 foram devidamente declaradas ao TRE, assim como as doações feitas por demais empresas. A Argeplan afirmou, em nota, que a propriedade rural invadida pelo MST foi “adquirida de maneira regular, a partir de 1986”. E que “todas as áreas de propriedade da Argeplan e do Sr. João Baptista Lima Filho são absolutamente regulares”. A empresa não deu declarações sobre a relação com Temer.

 

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As revelações do Estadão

 

As revelações sobre o "amigo rico" de Michel Temer também foram parar no Estadão, mas bem mais tarde. Em matéria publicada no final de junho, o jornalista Fausto Macedo informou que a Argeplan, "que tem como sócio o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima Filho - amigo e ex-assessor do presidente interino Michel Temer"-, participa de um contrato milionário nas obras da Usina Termonuclear de Angra 3, no Rio. 

 

Segundo segundo a reportagem, o negócio teria envolvido propina na Eletrobrás dentro do esquema de corrupção comandado pelo PMDB na estatal. Com custo estimado em R$ 14 bilhões e com as obras atrasadas, Angra 3 envolveu propinas de 1% nos contratos ao partido do presidente, segundo confessaram à força-tarefa da Lava Jato os delatores das empreiteiras UTC, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A construção sob a responsabilidade da Eletronuclear - controlada pela estatal Eletrobrás - foi dividida em vários pacotes contratuais.

 

As graves denúncias envolvendo o "amigo rico" do usurpador, porém, logo foram esquecidas pela mídia chapa-branca - que deve estar garfando muita grana em anúncio publicitário do covil golpista. Na TV Globo, por exemplo, elas não tiveram qualquer repercussão. Os seus "calunistas", sempre tão indignados com "corrupção", concluíram que as denúncias "não vem ao caso". Protagonista do "golpe dos corruptos", a mídia monopolista preferiu acionar sua operação-abafa, blindando o Judas Michel Temer - mas não se sabe até quando! O mercenarismo da mídia privada é uma praga muito forte.    

 

 7 de setembro de 2016

http://altamiroborges.blogspot.com/2016/09/cade-o-amiguinho-rico-do-temer.html

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/180092?language=es
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