Caminhos para a retomada do crescimento econômico

02/12/2014
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Nesse momento, o imperialismo e as forças neoliberais arquitetam um cerco político sobre o próximo governo Dilma. Disputam cada milímetro de espaço no governo. Através da imprensa conservadora e das chantagens do capital financeiro tentam impor ao próximo governo justamente o programa que foi derrotado nas urnas. Trata-se da tentativa de retomar a agenda neoliberal no processo de condução da economia para os próximos quatro anos.
 
Não foi por acaso, portanto, a propaganda intensa e intransigente liderada por alguns veículos de comunicação para que a presidenta Dilma anunciasse uma equipe econômica que seja da “confiança do mercado”. Para delírio das hostes rentistas, a presidenta cedeu e anunciou Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.
 
Entretanto, a escolha de Joaquim Levy, um economista de cunho liberal-monetarista, não ocorreu somente devido às pressões da burguesia financeira e do dispositivo midiático conservador. Mais dois elementos devem ser levados em consideração. O primeiro é a tentativa do governo de criar as condições para um ambiente econômico que favoreça a retomada dos investimentos produtivos e que ao mesmo tempo não entre em choque com o capital financeiro. O segundo é, em função da sinalização dada ao mercado financeiro, a aposta de conseguir uma trégua no campo da luta política e assim obter margens para avançar na concretização da reforma política, numa possível lei de regulação dos meios de comunicação, dentre outras.
 
Uma coisa é certa. O dilema da retomada do crescimento econômico brasileiro nos próximos quatro anos exercerá grande influencia na luta pela hegemonia política no nosso país porque influenciará diretamente na renda e capacidade de consumo das massas populares. Por isso é inútil querer separar a condução da economia do processo da luta política.
 
As forças conservadoras apostam numa situação em que a economia se mantenha estagnada como ocorre atualmente ou mesmo que entremos numa situação de recessão marcada por índices de crescimento negativo que provocaria desemprego e perdas salariais. A presidenta Dilma sabe que este eventual cenário catastrófico na economia corroeria sua popularidade e abriria espaço para as forças conservadoras concretizarem o cerco político contra o governo. Então como evitar este possível cenário desfavorável na economia? Ou seja, como retomar o crescimento da economia e, assim, abrir caminho para aprofundar a cidadania política e social em nosso país?
 
A variável fundamental que determina o crescimento econômico é o investimento. O investimento é que proporciona o emprego e renda. O investimento é um ato que depende da expectativa de retorno do setor privado. Claro que o “espírito animal” dos investidores, como diria Smith, numa situação de crise está em baixa. É nesta hora que entra o Estado com pesados investimentos para criar demanda efetiva, impulsionar o consumo e fazer a economia retomar o crescimento. Neste sentido, o Estado brasileiro deve buscar os recursos estreitando as margens de lucros do capital financeiro em nome do bem estar comum do povo brasileiro.
 
É preciso ressaltar que o imperialismo e as forças neoliberais do nosso país se opõem a uma retomada do crescimento econômico acompanhado de distribuição de renda. Só será possível enfrentar tais forças inimigas de forma consequente se o governo Dilma vincular a retomada do crescimento econômico com um Projeto Nacional de Desenvolvimento. No conteúdo desse projeto está a industrialização soberana pautada por progresso técnico nacional e ao mesmo tempo de ponta, o que exige pesados investimentos em educação, ciência, tecnologia e da invenção cultural. Além de aprofundar a integração latino-americana em curso.
 
Um Projeto Nacional de Desenvolvimento pressupõe a preparação de uma força social de massas para dar sustentação e legitimidade social além de abrir espaço para as reformas estruturais. Essa alternativa requer apostar na construção da organização popular e na formação de um amplo bloco de forças sociais hegemonizadas pela classe trabalhadora. Entretanto, a opção do governo de dormir com o inimigo neoliberal confunde inviabiliza esta opção.
 
A aposta de fazer concessões na economia para os dogmas neoliberais e, quem sabe, obter trégua na luta política tem tudo para dar errado. E isto será constatado nos próximos dois anos quando nos depararmos com a frágil situação da economia. Nesta situação “Inês já é morta”. O resultado será uma crise política profunda que atualizará ainda mais a necessidade de uma Constituinte exclusiva do sistema político ou entraremos numa regressão neoliberal.
 
- Editorial da edição 614 do Jornal Brasil de Fato
 
02/12/2014
 
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