O legado maldito de W.
08/11/2008
- Opinión
Orlando (EUA)
Bush será comparado a Mikhail Gorbachev, ex-premier da extinta URSS. Eles terão na História, um lugar bem especial. Gorbachev por ação. Bush, por inação
Annus Terribilis! Foi com essa expressão em latim que a rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, se referiu ao terrível ano de 1994, quando seu filho, o príncipe Charles, ainda casado com a princesa Diana foi morar em casa separada da princesa, porque já eram públicos os comentários das traições mútuas do casal. Dois anos depois, eles se divorciaram. A rainha usou a expressão latina no singular porque foi apenas um ano. Caso fosse a soberana dos Estados Unidos e se referisse aos oito anos de George W. Bush na Casa Branca, ela diria, do alto de sua majestade que os EUA viveram seus Anni Terribili. Foram oito terríveis anos, principalmente para a classe média desse país.
Os dois mandatos de George W. Bush foram tão terríveis e esgotaram de tal forma a paciência do povo que internautas se deram ao trabalho de criar um site ao qual, quando acessado, a qualquer hora do dia ou da noite, informa exatamente quantos dias, horas, minutos e segundos faltam para George W. deixar a Casa Branca.
Nos Estados Unidos, Bush só consegue ser menos impopular do que o arquinimigo saudita Osama Bin Laden, um dos autores intelectuais ao ataque do World Trade Center, em Nova York. E, assim mesmo, há dúvidas sobre o percentual de impopularidade entre esses dois homens unidos pela sociedade comercial de seus países, parceiros na exploração de campos de petróleo e pelo célebre 11 de setembro de 2001.
George Bush, no momento, conta com 25% de popularidade. Mais de 40% menos do que contava nos meses que se seguiram ao ataque às torres gêmeas.
Legado maldito
A lembrança de seu mandato será a de cidadãos dormindo dentro de carros por terem perdido suas casas, o painel de Wall Street com setas vermelhas mostrando a queda das Bolsas, torturas de prisioneiros políticos em Abu-Ghraib, no Iraque, crianças e adolescentes revistados na fronteira do Iraque com a Síria por agressivos soldados estadunidenses e os olhares profundos das mulheres afegãs, perplexas diante da barbárie de uma guerra sem sentido, enquanto George Bush jogava golfe no seu rancho no Texas.
Mas ele também será lembrado por outras razões. Mesmo sendo de mundos, sistemas e valores diferentes, George Wallace Bush será comparado a Mikhail Gorbachev, ex-premier da extinta URSS. Eles terão na História, um lugar bem especial. Um porque ajudou na queda do comunismo no Leste europeu; outro porque deu a largada para o descrédito do capitalismo no mundo ocidental. Gorbachev por ação. Bush, por inação.
Sim, George W. deixa um legado maldito. E seu sucessor terá uma tarefa gigantesca para reerguer um país que está desgastado por uma crisse financeira que se anuncia prolongada, por duas guerras que solapam ainda mais a economia dos Estados Unidos e, principalmente, por ter sido o responsável pela maior crise de confiança que o povo estadunidense já viveu.
O precedente da atual crise só encontra paralelo no início do século 20, quando os Estados Unidos viram ruir, pela primeira vez, os pilares de seu capitalismo irresponsável e devorador, em 1929. Três anos depois, as urnas deram o troco e o povo elegeu o democrata Franklin Delano Roosevelt, o presidente que levou o país ao século 20 e o principal construtor do império tal o conhecemos.
Guerra e mais guerra
Antes de completar dois anos de governo, George Bush, a pretexto de encontrar o "inimigo número 1 dos Estados Unidos" (aqui, cada dia há um inimigo público número 1), ou seja, Osama Bin Laden, bombardeia Kabul em 8 de outubro de 2001. O bombardeio contou com o sempre beneplácito apoio da Inglaterra que, desde sempre dá suporte aos ataques dos Estados Unidos, seja contra a destruição da Ioguslávia, seja no massacre aos civis do Iraque, onde quer que um povo se levante para contestar a supremacia dos Estados Unidos, lá estará desfraldada também a bandeira inglesa.
A guerra do Afeganistão é mais um desses conflitos que envolvem criador e criatura. Foram os EUA, com apoio do Paquistão e Arábia Saudita quem entregara poder aos talibans, reforçara os fundamentalistas (entre eles, Bin Laden) contra as forças soviéticas que ocupavam o país e, agora, em mais um surto psicótico, o criador ia destruir a criatura.
Por ser um país cuja infraestrutura fora liquidada nos anos da guerra contra a União Soviética, os estrategistas do Pentágono e, principalmente Donald Rumsfeld, secretário de Defesa, acreditavam que os soldados dos Estados Unidos tomariam o país em questão de semanas. Mas o Afeganistão foi uma grande surpresa. Divididos em clãs, diferente de Milosevic e Saddam Husseim, os talibans são inimigos difusos e a guerra completou sete anos há um mês, com milhares de mortos de lado a lado.
O regime dos talibans caiu, mas os Estados Unidos até hoje não conseguem sair do país e o Afeganistão mergulhou numa violência sem fim, com 900 soldados estadunidenses mortos logo no primeiro ano e cerca de 4 mil feridos (entre eles alguns que se tornaram inválidos) e as tropas da OTAN, aliados dos EUA, não controlam todo o país.
A guerra do Afeganistão ainda se arrastava, quando novamente os estrategistas do Pentágono, ajudados com informações "precisas" da CIA (Agência Americana de Inteligência) fazem chegar ao presidente Bush, nas célebres reuniões matinais do Salão Oval da Casa Branca, que o homem todo poderoso do Iraque, Saddam Hussein, vinha armazenando um arsenal de guerra capaz de explodir o mundo. Obviamente, foi Rumsfeld quem levou a notícia e iniciou sua cruzada, desta vez com apoio do vice-presidente Dick Chenney, para o ataque ao Iraque. Demorou pouco para que George Bush se lançasse em mais uma aventura. E essa começou exatamente no dia 20 de março de 2003, quando os soldados com seus aliados italianos, ingleses e espanhóis avançaram sobre o sul do Iraque. matando mil pessoas (a maioria, civis) logo no primeiro ataque, enquanto a capital Bagdad e Najaf eram brutalmente bombardeadas. Bagdad resistiu por 20 dias e, no dia 9 de abril de 2003 foi dominada pelas tropas inimigas.
Cem mil mortos depois, já em 2007, os Estados Unidos, que pensavam fazer apenas uma "manobra" no Iraque, enfrentam uma ferrenha oposição iraquiana. De um lado, os sunitas, que não aceitam o comando do poder Executivo nas mãos dos xiitas. De outro, os xiitas que se recusam a integrar os sunitas pró-EUA às forças de segurança que vão controlar o país depois da retirada dos invasores. Os Estados Unidos estavam tão despreparados para essa guerra que, em 2003, tentavam recrutar, às pressas, civis que falassem árabe para traduzir as informações chegadas nessa língua que eles desconhecem. Mal sabem que a língua árabe é diferente em cada região.
A maior potência do planeta não sabe o que fazer com suas tropas no Iraque e no Afeganistão. Já certos da impossibilidade de vitória, tentam bater em retirada numa operação que não seja tão humilhante para os brios patrióticos do povo estadunidense. E essa tarefa, também gigantesca, será de responsabilidade do novo presidente.
Torturas
Num país onde a palavra democracia é repetida quase como mantra, a tortura de prisioneiros de guerra – que eles pensavam ser uma prática de povos selvagens, como os vietnamitas, por exemplo – é considerada um ato que ultrapassa os limites da covardia. Pois bem, ainda com feridas abertas desde o Vietnã, a sociedade estadunidense foi surpreendida com as primeiras imagens da selvageria cometida por seus "bravos" soldados. E não eram informações ao léu. A denúncia vinha acompanhada de filmes feitos pelos próprios soldados que, não satisfeitos de torturar civis e militares iraquianos, se divertiam fotografando com seus telefones celulares. E ali, Bush começou a perder as rédeas e a própria guerra que ele pensava que seria outro passeio pelo Oriente Médio.
Como se não bastassem a força das imagens, há menos de 20 dias, os jornais trouxeram uma notícia que, até então, era apenas uma suspeita de setores da intelligentsia do país. A denúncia desabou feito um míssil entre os cidadãos que viam a guerra apenas como um "mal necessário". Ela informava que a tortura contra prisioneiros de guerra fora autorizada pelo governo dos Estados Unidos. Era o que faltava para desabar ainda mais a confiança do povo no seu governo e criar brechas na crença das instituições que eles tanto prezam.
Sono profundo
Tudo isso resultou numa espécie de "despertar do gigante adormecido". Num movimento ainda vagaroso, mas com sinais de consistência, a sociedade deste país passou a discutir política, a se interessar pelo debate entre os dois principais partidos e, principalmente, a tirar seu título de eleitor.
Num país onde o voto não é obrigação, 75% dos estadunidenses entre 20 e 29 anos decidiram se registrar para votar nas eleições deste ano. E desses, 68%, se registraram como democratas (quando alguém tira o título de eleitor nos Estados Unidos tem a opção de declinar o nome partido no qual pretende votar ou, então, marcar um xis na opção "independente"). O fato é assunto dos principais comentaristas e cientistas políticos e, alguns deles, chegam a temer pelo resultado desse despertar.
As notícias sobre autorização de tortura se misturavam às notícias sobre a recessão que a cada dia se aprofunda e apresenta. O chamado "americano tranqüilo", aquele cara que acorda às seis da manhã, toma café, vai trabalhar e às seis da tarde chega em casa, beija maquinalmente a esposa, janta, liga a TV, paga as contas em dia, paga os impostos e não sabe sequer o nome dos senadores do seu Estado começou então a se indagar sobre as podridões que o cercam e, a cada dia, mais se inquietam com os rumos de um país onde a ordem, por incrível que pareça, é a tradução livre da frase de Lênin, "Sonhos, acredite neles", que aqui recebeu o tom direto e diz "acredite nos seus sonhos".
O novo presidente dos Estados Unidos não vai ter tempo de sonhar muito. O legado que lhe será entregue por George W. Bush no dia 20 de janeiro, é de um país cuja riqueza não será suficiente para tapar os rombos abertos por uma das mais desastradas administrações do Ocidente nos últimos 20 anos.
Fonte: Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br
Bush será comparado a Mikhail Gorbachev, ex-premier da extinta URSS. Eles terão na História, um lugar bem especial. Gorbachev por ação. Bush, por inação
Annus Terribilis! Foi com essa expressão em latim que a rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, se referiu ao terrível ano de 1994, quando seu filho, o príncipe Charles, ainda casado com a princesa Diana foi morar em casa separada da princesa, porque já eram públicos os comentários das traições mútuas do casal. Dois anos depois, eles se divorciaram. A rainha usou a expressão latina no singular porque foi apenas um ano. Caso fosse a soberana dos Estados Unidos e se referisse aos oito anos de George W. Bush na Casa Branca, ela diria, do alto de sua majestade que os EUA viveram seus Anni Terribili. Foram oito terríveis anos, principalmente para a classe média desse país.
Os dois mandatos de George W. Bush foram tão terríveis e esgotaram de tal forma a paciência do povo que internautas se deram ao trabalho de criar um site ao qual, quando acessado, a qualquer hora do dia ou da noite, informa exatamente quantos dias, horas, minutos e segundos faltam para George W. deixar a Casa Branca.
Nos Estados Unidos, Bush só consegue ser menos impopular do que o arquinimigo saudita Osama Bin Laden, um dos autores intelectuais ao ataque do World Trade Center, em Nova York. E, assim mesmo, há dúvidas sobre o percentual de impopularidade entre esses dois homens unidos pela sociedade comercial de seus países, parceiros na exploração de campos de petróleo e pelo célebre 11 de setembro de 2001.
George Bush, no momento, conta com 25% de popularidade. Mais de 40% menos do que contava nos meses que se seguiram ao ataque às torres gêmeas.
Legado maldito
A lembrança de seu mandato será a de cidadãos dormindo dentro de carros por terem perdido suas casas, o painel de Wall Street com setas vermelhas mostrando a queda das Bolsas, torturas de prisioneiros políticos em Abu-Ghraib, no Iraque, crianças e adolescentes revistados na fronteira do Iraque com a Síria por agressivos soldados estadunidenses e os olhares profundos das mulheres afegãs, perplexas diante da barbárie de uma guerra sem sentido, enquanto George Bush jogava golfe no seu rancho no Texas.
Mas ele também será lembrado por outras razões. Mesmo sendo de mundos, sistemas e valores diferentes, George Wallace Bush será comparado a Mikhail Gorbachev, ex-premier da extinta URSS. Eles terão na História, um lugar bem especial. Um porque ajudou na queda do comunismo no Leste europeu; outro porque deu a largada para o descrédito do capitalismo no mundo ocidental. Gorbachev por ação. Bush, por inação.
Sim, George W. deixa um legado maldito. E seu sucessor terá uma tarefa gigantesca para reerguer um país que está desgastado por uma crisse financeira que se anuncia prolongada, por duas guerras que solapam ainda mais a economia dos Estados Unidos e, principalmente, por ter sido o responsável pela maior crise de confiança que o povo estadunidense já viveu.
O precedente da atual crise só encontra paralelo no início do século 20, quando os Estados Unidos viram ruir, pela primeira vez, os pilares de seu capitalismo irresponsável e devorador, em 1929. Três anos depois, as urnas deram o troco e o povo elegeu o democrata Franklin Delano Roosevelt, o presidente que levou o país ao século 20 e o principal construtor do império tal o conhecemos.
Guerra e mais guerra
Antes de completar dois anos de governo, George Bush, a pretexto de encontrar o "inimigo número 1 dos Estados Unidos" (aqui, cada dia há um inimigo público número 1), ou seja, Osama Bin Laden, bombardeia Kabul em 8 de outubro de 2001. O bombardeio contou com o sempre beneplácito apoio da Inglaterra que, desde sempre dá suporte aos ataques dos Estados Unidos, seja contra a destruição da Ioguslávia, seja no massacre aos civis do Iraque, onde quer que um povo se levante para contestar a supremacia dos Estados Unidos, lá estará desfraldada também a bandeira inglesa.
A guerra do Afeganistão é mais um desses conflitos que envolvem criador e criatura. Foram os EUA, com apoio do Paquistão e Arábia Saudita quem entregara poder aos talibans, reforçara os fundamentalistas (entre eles, Bin Laden) contra as forças soviéticas que ocupavam o país e, agora, em mais um surto psicótico, o criador ia destruir a criatura.
Por ser um país cuja infraestrutura fora liquidada nos anos da guerra contra a União Soviética, os estrategistas do Pentágono e, principalmente Donald Rumsfeld, secretário de Defesa, acreditavam que os soldados dos Estados Unidos tomariam o país em questão de semanas. Mas o Afeganistão foi uma grande surpresa. Divididos em clãs, diferente de Milosevic e Saddam Husseim, os talibans são inimigos difusos e a guerra completou sete anos há um mês, com milhares de mortos de lado a lado.
O regime dos talibans caiu, mas os Estados Unidos até hoje não conseguem sair do país e o Afeganistão mergulhou numa violência sem fim, com 900 soldados estadunidenses mortos logo no primeiro ano e cerca de 4 mil feridos (entre eles alguns que se tornaram inválidos) e as tropas da OTAN, aliados dos EUA, não controlam todo o país.
A guerra do Afeganistão ainda se arrastava, quando novamente os estrategistas do Pentágono, ajudados com informações "precisas" da CIA (Agência Americana de Inteligência) fazem chegar ao presidente Bush, nas célebres reuniões matinais do Salão Oval da Casa Branca, que o homem todo poderoso do Iraque, Saddam Hussein, vinha armazenando um arsenal de guerra capaz de explodir o mundo. Obviamente, foi Rumsfeld quem levou a notícia e iniciou sua cruzada, desta vez com apoio do vice-presidente Dick Chenney, para o ataque ao Iraque. Demorou pouco para que George Bush se lançasse em mais uma aventura. E essa começou exatamente no dia 20 de março de 2003, quando os soldados com seus aliados italianos, ingleses e espanhóis avançaram sobre o sul do Iraque. matando mil pessoas (a maioria, civis) logo no primeiro ataque, enquanto a capital Bagdad e Najaf eram brutalmente bombardeadas. Bagdad resistiu por 20 dias e, no dia 9 de abril de 2003 foi dominada pelas tropas inimigas.
Cem mil mortos depois, já em 2007, os Estados Unidos, que pensavam fazer apenas uma "manobra" no Iraque, enfrentam uma ferrenha oposição iraquiana. De um lado, os sunitas, que não aceitam o comando do poder Executivo nas mãos dos xiitas. De outro, os xiitas que se recusam a integrar os sunitas pró-EUA às forças de segurança que vão controlar o país depois da retirada dos invasores. Os Estados Unidos estavam tão despreparados para essa guerra que, em 2003, tentavam recrutar, às pressas, civis que falassem árabe para traduzir as informações chegadas nessa língua que eles desconhecem. Mal sabem que a língua árabe é diferente em cada região.
A maior potência do planeta não sabe o que fazer com suas tropas no Iraque e no Afeganistão. Já certos da impossibilidade de vitória, tentam bater em retirada numa operação que não seja tão humilhante para os brios patrióticos do povo estadunidense. E essa tarefa, também gigantesca, será de responsabilidade do novo presidente.
Torturas
Num país onde a palavra democracia é repetida quase como mantra, a tortura de prisioneiros de guerra – que eles pensavam ser uma prática de povos selvagens, como os vietnamitas, por exemplo – é considerada um ato que ultrapassa os limites da covardia. Pois bem, ainda com feridas abertas desde o Vietnã, a sociedade estadunidense foi surpreendida com as primeiras imagens da selvageria cometida por seus "bravos" soldados. E não eram informações ao léu. A denúncia vinha acompanhada de filmes feitos pelos próprios soldados que, não satisfeitos de torturar civis e militares iraquianos, se divertiam fotografando com seus telefones celulares. E ali, Bush começou a perder as rédeas e a própria guerra que ele pensava que seria outro passeio pelo Oriente Médio.
Como se não bastassem a força das imagens, há menos de 20 dias, os jornais trouxeram uma notícia que, até então, era apenas uma suspeita de setores da intelligentsia do país. A denúncia desabou feito um míssil entre os cidadãos que viam a guerra apenas como um "mal necessário". Ela informava que a tortura contra prisioneiros de guerra fora autorizada pelo governo dos Estados Unidos. Era o que faltava para desabar ainda mais a confiança do povo no seu governo e criar brechas na crença das instituições que eles tanto prezam.
Sono profundo
Tudo isso resultou numa espécie de "despertar do gigante adormecido". Num movimento ainda vagaroso, mas com sinais de consistência, a sociedade deste país passou a discutir política, a se interessar pelo debate entre os dois principais partidos e, principalmente, a tirar seu título de eleitor.
Num país onde o voto não é obrigação, 75% dos estadunidenses entre 20 e 29 anos decidiram se registrar para votar nas eleições deste ano. E desses, 68%, se registraram como democratas (quando alguém tira o título de eleitor nos Estados Unidos tem a opção de declinar o nome partido no qual pretende votar ou, então, marcar um xis na opção "independente"). O fato é assunto dos principais comentaristas e cientistas políticos e, alguns deles, chegam a temer pelo resultado desse despertar.
As notícias sobre autorização de tortura se misturavam às notícias sobre a recessão que a cada dia se aprofunda e apresenta. O chamado "americano tranqüilo", aquele cara que acorda às seis da manhã, toma café, vai trabalhar e às seis da tarde chega em casa, beija maquinalmente a esposa, janta, liga a TV, paga as contas em dia, paga os impostos e não sabe sequer o nome dos senadores do seu Estado começou então a se indagar sobre as podridões que o cercam e, a cada dia, mais se inquietam com os rumos de um país onde a ordem, por incrível que pareça, é a tradução livre da frase de Lênin, "Sonhos, acredite neles", que aqui recebeu o tom direto e diz "acredite nos seus sonhos".
O novo presidente dos Estados Unidos não vai ter tempo de sonhar muito. O legado que lhe será entregue por George W. Bush no dia 20 de janeiro, é de um país cuja riqueza não será suficiente para tapar os rombos abertos por uma das mais desastradas administrações do Ocidente nos últimos 20 anos.
Fonte: Brasil de Fato
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