Quem comanda no mundo?
20/01/2006
- Opinión
Com a autonomização da economia e o enfraquecimento dos estados-nação é ilusório pensar que os presidentes eleitos sejam os que têm o comando sobre o pais. Quem decide os destinos reais do povo não é o Presidente. Ele é refém do Ministro da Fazenda e do Presidente do Banco Central que por sua vez são reféns do sistema econômico-financeiro mundial a cuja lógica se submetem. Quando o Presidente Bush fala à nação muitos seguramente o escutam. Mas quando fala o presidente do Federal Reserve (Fed) a nação inteira pára. O que ele tem a dizer significa a vida ou a morte de muitos empregos e do destino de empresas.
Os donos do mundo estão sentados atrás dos bancos, são os que controlam os mercados financeiros, as taxas de juros, as infovias de comunicação, as tecnologias biogenéticas e as indústrias de informação. Imensos conglomerados privados atuam a nivel planetário. Sem perguntar a ninguém e sem qualquer controle delapidam o patrimônio comum da humanidade em benefício próprio. Desflorestaram em poucos anos 800.000 hectares das ilhas de Bornéu, Java, Sumatra e Sulawesi. Os incêndios projetaram fumaça do tamanho de meio continente. Esses mesmos grupos mancomunados com os nossos atuam agora na floresta amazönica. As leis de proteção ambiental são inoperantes face à fúria de conseguir dólares via exportação para o pais fazer frente aos compromissos da dívida externa e interna. O agronegócio implica desflorestar, iquidar a biodiversidade, homogeneizar a produção em escala.
Esta lógica funciona no sistema globalizado mundial, criando desigualdades e devastações ecológicas lá onde se implanta. Para 2010 prevê-se que as florestas tenham dimuido em 40%. Em 2040 o aumento dos gases de efeito estufa podem provocar um aquecimento entre 1ºC a 2ºC elevando o nível das águas oceânicas a 0,5 a 1,5 metros afetando milhares de cidades costeiras. Seis milhões de hectares de terras férteis somem por ano sob o efeito da desertificação.
As doenças infecciosas de todo tipo viajam à velocidade dos mercados. A Aids é uma pandemia na Africa. A expectativa de vida da Africa subssariana diminuiu já sete anos e em outros paises como Uganda, Zimbáue, Zâmbia recuou dez anos. No ano passado a produção econômica de Quênia, por causa da Aids, caiu em 14,5%. A África é um continente abandonado à sua própria desgraca, sequer merece ser explorado. O Papa faz discursos irresponsáveis. Se houvesse um pouco de humanidade e compaixão entre os humanos bastaria que se retirasse apenas 4% das 225 maiores fortunas do mundo para dar comida, água, saúde e educação a toda a humanidade. Estes são dados da ONU de 2004. Enquanto isso 30 milhões de pessoas ainda morrem de fome e dois bilhões são anêmicos.
Teremos tempo para que a desintegração se mostre criativa? Uma leve esperança se anuncia um pouco em todas as partes do mundo, em Seatte, em Gênova, em Porto Alegre e nos Forums Sociais Mundiais. Ai surge um anti-poder que pede uma nova justiça planetária, uma taxação significativa dos capitais especulativos, a introdução de uma renda de existência a todos os habitantes da Terra não para subsistirem mas porque simplesmente existem. A aplicação rigorosa da ética da precaução e do cuidado em questões ambientais. Esperanças. Que tenham a força da semente.
- Leonardo Boff, da Comissão da Carta da Terra
https://www.alainet.org/pt/articulo/114157?language=es
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