Derrotar a ALCA para garantir nossa soberania
03/02/2004
- Opinión
Este é o objetivo dos mais de 1200 delegados dos 35 países
presentes no III Encontro Hemisférico Contra a Alca, em Havana,
Cuba, entre os dias 26 e 29 de janeiro de 2004. Ali estavam
representados diversos movimentos sociais, sindicatos, igrejas,
Ongs, entre outras.
Continua difícil a situação de todos os países que estão sob
domínio das políticas neoliberais com aprofundamento da crise
econômica em todos eles. Para Oswaldo Martinez, do Comitê
Organizador do Encontro, "o neoliberalismo favorece apenas o
desenvolvimento das transnacionais e de alguns ricos nestes países .
Por outro lado, impede o desenvolvimento sócio-econômico de nossos
países, faz crescer a pobreza, multiplica a desigualdade, elitiza a
educação, saúde e empobrece cada vez mais as culturas de nossos
países."
Segundo ele, hoje, o PIB da América Latina por habitante é
inferior ao de 1997; há 20 milhões de pobres a mais que em 1997 e a
taxa média de desemprego subiu a quase 11%, sendo que só nas
cidades, há mais de 17 milhões de desempregados. Foram enviados para
o exterior 29 bilhões de dólares a mais do que o capital que entrou
e a dívida, na maioria dos países, superam o percentual de 50% do
PIB.
De 2001 a 2003, enquanto se realizaram as negociações da ALCA,
a América Latina pagou 461 bilhões de dólares pela dívida externa,
ou seja, 150 bilhões por ano.
Apesar destes dados, pouco ou nada se falou sobre esta situação
nas negociações da ALCA. Daí o slogan muito repetido durante o
Encontro: "Ou barramos a ALCA ou renunciamos a nossa soberania."
Houve um importante avanço na luta contra a ALCA neste
encontro. Todos nos demos conta e saímos convencidos que somente
mobilizações massivas e simultâneas permitirão fortalecer a nossa
luta e derrotar o projeto imperialista de imposição da ALCA.
Neste sentido, o plano de ação destaca algumas datas como
fundamentais neste processo continental de luta contra a ALCA.
Somando-se a uma proposta que partiu do IV FSM – Fórum Social
Mundial, realizado na Índia, será realizada uma grande manifestação
mundial contra a guerra, pela retirada imediata das tropas
americanas do Iraque e pelo ressarcimento dos danos causados pela
guerra a este país..
Outras duas datas importantes tem a ver com a realização do
encontro dos ministros que negociam a ALCA, que acontecerá este ano,
no Brasil, com data a ser definida. Os países também realizarão
manifestações quando da convenção do partido republicano de Bush que
deverá confirmar sua candidatura à reeleição para o cargo de
presidente dos EUA. Nestas datas, além das grandes manifestações em
todos os países, serão realizadas vigílias e mobilizações contra a
ALCA em frente às embaixadas americanas, a fim de impedir a
reeleição de Bush, já que os participantes do encontro consideram
este cidadão uma ameaça permanente e um perigo constante para a
humanidade.
Como pontos importantes neste processo de avanço da luta contra
a ALCA, queremos destacar o fato de se ter definido como eixo comum
articulador, barrar a implantação da ALCA, permitindo a soma de
muitas forças e levando a organizar marchas, consultas, calendários
comuns; enfim, superando a departa-mentalização; o trabalho
pedagógico de conscientização das massas que as consultas e
plebiscitos suscitaram; as manifestações massivas realizadas em
Quebec, Quito, Porto Alegre, Buenos Aires, La Paz, Cancun e Miami.
A Campanha também permitiu que um tema complexo, oculto, discutido
apenas por técnicos e governantes, se tornasse um tema discutido
pelo povo, pelos movimentos sociais, de forma a fazer entender que a
ALCA é uma estratégia de dominação econômica, política, militar e
cultural do governo estadunidense. Por fim, nos demos conta que a
luta não é apenas contra a Alca, mas, principalmente contra o
sistema capitalista. A luta contra a Alca é um dos campos de
batalha.
Entretanto, ainda há algumas debilidades a serem superadas
neste processo: é necessário que ocupemos mais os espaços dos meios
de comunicação; falta-nos uma proposta alternativa, aglutinadora e
suscitadora da unidade popular continental; precisamos realizar mais
ações de massa continentais e simultâneas para que possam causar
maior impacto; ampliar nossas articulações com outros setores como
universidades, prefeituras, parlamentares etc e precisamos de uma
agenda propositiva em contraposição a agenda do capital;
Não podemos deixar de destacar ainda, a solidariedade com que
Cuba tratou os participantes do Encontro. Cuba, após 45 anos de
revolução socialista, continua dando lições para a humanidade.
Principalmente lições de que é possível, com boa vontade e seriedade
política, priorizar a saúde e a educação do povo, resistindo às
imposições do imperialismo. Apesar das enormes dificuldades
econômicas desta pequena ilha, sobretudo pelo resultado do bloqueio
econômico imposto pelo governo estadunidense, Cuba mostrou para o
mundo que um novo modelo é possível e necessário.
* Luiz Bassegio, Secretário do Grito dos Excluídos Continental e da
Coordenação da Ccampanha Continental contra a Alca.
https://www.alainet.org/pt/articulo/109334?language=es
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