Junho: Querétaro a sexta estela (O PAN e o México da mudança. Parte 1: sim, meu querido, aqui dizer "um imbecil de direita" é uma redundância, e dizer "um corrupto de direita" é um projeto de país)
11/02/2003
- Opinión
Para chegar na metade do calendário, a mão e o olhar se unem.
Juntos contemplam um mês, JUNHO, e uma palavra, QUERÉTARO.
Querétaro. Quase um milhão e meio de habitantes em 2000,
segundo o INEGI e mais de 25 mil maiores de cinco anos que
falam línguas indígenas.
Indígenas otomíes-hñahñus, mazahuas, nahuas, pames, huastecos,
zapotecos, totonacas e purépechas sobrevivem em terras onde
quem manda são o racismo e a prepotência e onde a estupidez
tem status de programa de governo.
Junho. Querétaro. A pedra é de novo uma nova nuvem branca. Voa
alto. Não por temer a estupidez canina que despacha no palácio
do governo. É para melhor apreciar o que acontece aqui.
Querétaro é um dos melhores exemplos do que o Partido de Ação
Nacional pode fazer... bom, é melhor dizer "desfazer", como
governo.
A nuvem chega até à chamada "Serra Gorda". De cima, localiza
Toluquilla, chamado também de "Pico do Jorobado", e repousa
num dos dois jogos de bola que aí estão. Do mesmo modo que em
Ranas, perto daqui, as terras do Pico do Jorobado abundam em
sulfureto vermelho de mercúrio ou cinébrio, que naqueles
tempos era muito apreciado na América Central porque era um
símbolo de vida e era chamado "sangue da terra".
Daqui a nuvem pode ver a comunidade camponesa "La Veracruz",
que a cada 15 dias envia uma comissão à cidade capital do
estado, Querétaro, para dar acompanhamento jurídico a uma ação
que tem contra o INAH. A razão é que o INAH expropriou vários
hectares destes queretanos e pretende pagá-los na base de 20
centavos por hectare.
Sim, 20 centavos. O leitor trate de encontrar como escrever o
símbolo dos centavos no computador ou numa máquina de escrever
(inclusive, haverá quem me lembre como se escreve a mão", ou,
melhor ainda, trate de viver com uma indenização de 20
centavos. Além disso, os camponeses dos arredores de
Toluquilla reivindicam que sejam eles mesmos a trabalharem,
explorarem e conservarem esta região.
Mas Querétaro, a capital, é um lugar onde governam a
intolerância e o racismo. Em outubro do ano passado,
integrantes do grupo Kurinit denunciaram perante a Comissão
Estadual de Direitos Humanos que o delegado do Centro
Histórico do município de Querétaro, Francisco Javier
Contreras Rancel, proibiu-lhes de praticar suas danças em
praça pública com o argumento de que "davam uma aparência ruim
à imagem urbana" da capital. Também os grupos punks são
hostilizados pelo "bom governo" queretano. Mas esta turma
passa muito longe de ficar intimidada, continua em sua cultura
e resistência, e se vincula a outros movimentos e grupos.
É que Querétaro não é só a imagem patética do PAN no governo,
é também, e sobretudo, a imagem esperançosa de uma resistência
que tem muitos nomes e rostos: União das Mulheres Indígenas e
Camponesas de Querétaro (UMIC), Unidade Cívica Felipe Carrillo
Puerto, Associação Nacional das Mulheres Organizadas em Rede
de Querétaro, Associação Nacional dos Produtores de Bovinos e
Caprinos Delegacia de Querétaro, Frente Independente das
Organizações Sociais, Associação Queretana Independente de
Promoção e Defesa dos Direitos Humanos AC.
Nesta cidade há uma colônia chamada "Nueva Realidad". A
colônia indígena é conhecida porque as manifestações e a luta
por estas terras foram lideradas pelos membros do conselho
indígena da Frente Independente de Organizações Sociais (FIOS
na época, hoje FIOZ), apesar da detenção de seus líderes em
1998, e das tentativas de divisão, em "Nueva Realidad" vem se
tentando o resgate de manifestações culturais que ainda
acontecem em suas comunidades de origem (município de
Amealco). Desta forma, são incentivados grupos que têm a ver
com o resgate das festas, dos trajes, da música e, com os
pesquisadores da Universidade Autônoma de Querétaro, da
preservação e divulgação da língua oral e escrita.
A falta de atenção para com as demandas sociais e o caráter
repressor cada vez mais descarado do governo têm propiciado a
iniciativa de uma rede incipiente de organizações e grupos da
sociedade civil que giram em torno dos direitos humanos. Faz-
se necessário enfrentar o elevado grau de repressão e
impunidade das várias autoridades e corpos policiais. Este
estado descaradamente repressor e cínico não se dirige somente
às organizações ou grupos independentes, também os membros dos
partidos de oposição têm apresentado denúncias. Ordens de
prisão guardadas para amedrontar, acompanhamento de atividades
públicas e até privadas, ameaças telefônicas, danos a casas e
carros, retenção de recursos e falta de verbas (como no caso
da Universidade Autônoma de Querétaro), "coças" estimuladas
pelas próprias autoridades, são alguns exemplos do "estado de
direito" promovido por Ação Nacional.
Tanto entre os camponeses, como entre os operários, há um
enorme descontentamento. A falta de incentivos e programas de
auxílio à produção, a migração para os Estados Unidos, os
altos índices de desemprego (negados pelos dados oficiais) e
as poucas oportunidades de trabalho são uma constante. Além
disso, a utilização dos programas de governos e de obras
"entregues" a empresas de funcionários públicos ou familiares
tem gerado mal-estar.
Os meios de comunicação e os deputados que têm feito as
denúncias são cooptados ou ameaçados. São fortes os rumores
sobre o envio de cheques do governador à Assembléia
Legislativa para bloquear a informação ou aprovar iniciativas
do executivo.
Enquanto isso, no Centro de Readaptação Social (CERESO) de San
José el Alto, dois zapatistas civis, Sergio Gerónimo Sánchez e
Anselmo Robles, transformam sua prisão em resistência. Estes
dois homens só continuam presos pela soberba do cachorro que
late no palácio do governo.
A nuvem sobe para apreciar melhor o que acontece na casa do
Poder. Aí está a capital de Querétaro, governada pelo famoso
Firuláis Loyola. A história deste recusado do elenco de atores
do filme 101 Dálmatas ("é cinzento demais", disseram os
produtores) é digna de constar na memória do Partido de Ação
Nacional e em sua plataforma de governo.
"(...) No processo [eleitoral] de 1997, o PAN aposta tudo em
ganhar a capital do estado, pois considera inalcançável o
cargo de governador. Por isso, para o município de Querétaro,
apresenta o seu candidato mais forte, Francisco Garrido
Patrón, e para o governo do estado lança alguém de pouca
conta, um verdadeiro neófito nas questões políticas e pouco
agraciado em inteligência e senso comum, Ignácio, Loyola Vera,
engenheiro agrônomo saído do Tecnológico de Monterrey, e cujos
laços políticos até o momento eram mais de corte priista do
que panista, pois o próprio Loyola é casado com uma prima
irmão de Fernando Ortiz Anara (que foi candidato pelo PRI ao
governo do estado no mesmo pleito de Loyola) e, de acordo com
alguns jornalistas, Ignácio Loyola militou numa organização
priista durante a sua juventude. Passadas as eleições se
divulgam os resultados e o PAN não ganha só a prefeitura de
Querétaro voltando a ganhar a de San Juan Del Rio, como ganha
também o governo do estado; o mais surpreso disso tudo, é o
próprio Loyola..." (Rúben Lugo Sánchez, "Poder e Videocracia
no México, o caso Querétaro". Terceiro Congresso Virtual de
Antropologia 2002. "Cidade Arqueológica" www.naya.org.ar).
O triunfo de Ação Nacional realmente mudou o cenário deste
estado. Sim, agora Querétaro e San Juan del Rio estão cheios
de outdoors anunciando os "grandes feitos" do PAN, ou seja,
vasos de barro e cestos de lixo!
As besteiras do Firuláis Loyola já são lendas de exportação.
Em setembro de 2001, o "senhor governador" fez o que parecia
impossível: surpreender o México e o mundo com uma descoberta
que já é programa de governo nas administrações panistas.
Demonstrando que é homem, perdão, cachorro de palavra, Loyola
declarou, numa transmissão de rádio do programa "Avances",
quanto segue: "Vou lembrar aos amigos que me ouvem, aos muitos
jornalistas que me perguntaram sobre quanto ia ganhar no caso
de chegar a ser governador, eu disse que iria ganhar 20 por
cento mais do que estaria ganhando o diretor da empresa que
melhor paga no estado e na verdade estava bem atrás. Mas pelo
menos como último ponto eu vou cumprir este compromisso de
campanha, e digo a vocês o tanto que seu amigo vai fazer,
porque vou me desdobrar. Acredito que já cumpri e que
demonstrei que posso ganhar, se um diretor de empresa ganha
esta quantia, eu acredito que o governador deve ganhar mais
como prometi na minha campanha". (Notimex, 24 de setembro de
2001).
O Firuláis (que deveria estar num circo porque um cachorro que
faz contas é sempre uma atração) fez seus cálculos e anunciou:
360 mil Pesos mensais. Condescendente, sublinhou: "360 mil
Pesos, menos os descontos, provavelmente fique com uns 200
mil, mas também não é muito (...), nenhum outro político tem
mais responsabilidade do que este servidor e há sim alguns que
ganham mais e de mão cheia".
"Ganham mais?" Quem escreve isso não é um cachorro, mas se
arrisca a fazer contas: 200 mil Pesos mensais limpos, ao
cambio de 10 Pesos por um dólar, são 20 mil dólares mensais,
que somam algo em torno de 240 mil dólares por ano (sem contar
adiantamentos, bonificações e sei lá eu quantas coisas mais,
mas o Firuláis as conhece). No estudo "Os salários dos altos
funcionários no México a partir de um quadro comparativo", dos
pesquisadores do CIDE, Laura Carillo Anaya e Juan Pablo
Guerrero A., aponta-se que, em 2002, o presidente dos Estados
Unidos tinha um salário limpo de 243 mil e 600 dólares anuais.
De tal forma que este é o tamanho do Loyola, que ganharia
quase o mesmo tanto que Bush (creio eu que é por ter o mesmo
coeficiente intelectual) e mais do que ganham juntos os
presidentes de Argentina, Brasil, Chile e Espanha.
A "modéstia" do Firuláis não pára por aí. Para um evento de 15
dias, Loyola gastou 63,9 milhões de Pesos na construção do
"Ecocentro Expositor" (mais conhecido como "egocentro"). A
licitação da obra fede. A Assembléia Legislativa detectou que
a construção foi entregue a Oliver SA de CV sem concorrência
alguma. Aos questionamentos, o Firuláis respondeu que foi pelo
bem do povo. Na cidade de Querétaro, que em época de chuvas
sofre inundações, o governo panista gastou 210 mil Pesos, mas
não em melhorar a rede de esgoto, mas sim em comprar um
veículo anfíbio que, obviamente, não serve pra nada (Cfr.
Rúben Lugo Sánchez, Op. Cit.).
Na capital do estado, se promove o "México da Mudança" que o
PAN quer. A instalação de postos de controle policiais em
pleno centro as cidade (violando a constituição que, oh que
paradoxo!, foi aprovada aqui), junto com a exibição de
policiais de "elite" em motocicletas e luxuosas patrulhas, que
têm a nobre missão de cuidar de empresários e turistas,
definem claramente o projeto panista de nação.
Para ajudar a governar, nada como a família. O irmão do
governador é sócio da filial local da TV Asteca e, com algumas
rádios e alguns jornais, as "cachorradas" de Loyola são
rapidamente ocultadas.
Mas, ainda assim, há quem não se deixa controlar. A que segue
é uma nota de Reforma, que valeu ao correspondente deste
jornal o roubo do seu carro no interior de sua casa:
"Suspeitam de desvio de recursos por parte de Loyola.
Sublinham que o enriquecimento do atual governador de
Querétaro é inexplicável. Por Fernando Paniagua/Grupo Reforma.
Querétaro. México (30 de janeiro de 2003). O deputado estadual
independente, Marco Antonio León Hernández, revelou que o
governador Ignácio Loyola Vera comprou, para as obras de
construção de sua casa, mármore importando da França a um
custo de 6 milhões de Pesos, razão pela qual se suspeita de um
provável enriquecimento ilícito. Entrevistado pelo noticiário
local, Enlace, Leon Hernández garantiu (...): «Aí vai um dado
preciso e concreto que tenho em minhas mãos e que a seu
momento terei de dizer: nestes dias chegou pra ele da França
um carregamento de mármore por uma quantia de 6 milhões de
Pesos», disse". (Grupo Reforma. Serviço de Informação).
E antes, em outubro, saiu a seguinte nota sobre uma espécie de
castelo que ele constrói para si às escondidas: "À imagem e
semelhança de Los Pinos,Loyola constrói uma casa. Francisco
Flores Hernández, El Financiero, quarta-feira 2 de outubro.
Com o objetivo de construir a sua casa de campo, o governador
Ignácio Loyola Vera invadiu 20 hectares de terras ejidais na
comunidade de Ajuchitlancito, no município de Pedro Escobedo,
denunciaram ejidatários do lugar. Apesar da expropriação da
qual foram objeto, os inconformes informaram que 20
ejidatários foram intimados pelo governador Ignácio Loyola
Vera, sob a acusação de expropriarem 100 hectares de terreno.
Em coletiva de imprensa, Bráulio Álvares Botello, a nome dos
216 ejidatários atingidos, mostrou documentos que confirmam a
propriedade destes, relatou que apesar da inquietação dos
moradores por estar sabendo da enorme casa a ser construída,
não lhes foi permitido o acesso e pessoas não identificadas só
os informaram que os terrenos supostamente invadidos pertencem
ao governador Ignácio Loyola Vera".
E isso não é tudo. Em julho de 2001, em meio ao grande
estardalhaço pelo grupo de espionagem descoberto no estado do
México, o Firuláis reconheceu que realizava, como parte da
"segurança do estado", o mesmo tipo de espionagem. Diante das
denúncias públicas, a PGR interveio intimando-o a depor e ao
negar-se lhe enviarem um questionário que, de acordo com
alguns meios de informação locais, ele respondeu por escrito.
Até agora a PGR se negou a tornar públicas as respostas.
Para resumir: Loyola é tão popular que, contra ele, há só oito
processos políticos pendentes. O Firuláis é um fenômeno
isolado em Ação Nacional? Parece que não. Seus atrevimentos de
reizito e suas corruptelas se repetem em deputados, senadores,
governadores e prefeitos deste partido político. Diego
Fernández de Cevallos está aí para confirmá-lo.
Todo o debate sobre o fato de que a luta no PAN é entre os
doutrinários (seguidores de Manuel Gómez Morín) e os Bárbaros
do Norte é uma farsa. Hoje, em Ação Nacional não há ninguém
que realmente reivindique o pensamento de Gómez Morín. E
depositaram o estudo e a sistematização do pensamento de Gómez
Morín em Rodriguez Prats (senador plurinominal do PAN por
Tabasco e artífice da manutenção do PRI no governo deste
estado), que até 1993 foi dirigente do PRI no estado. Este
senhor, conhecido pela total ausência de ideologia panista e
que foi integrado às fileiras do PAN por Fernández de
Cevallos, escreveu um libelo com o título: "A grande herança
doutrinária do PAN". Ele é (supostamente) o encarregado de
formar os quadros políticos do PAN no "ideário" de Gómez
Morín. Tempos atrás, isso provocou o desgosto de José Angel
Conchello, que saiu enojado de um destes cursos de "formação"
repreendendo a direção panista por colocar um recém-chegado
nesta tarefa.
A única e verdadeira doutrina do PAN atual é a religião do
poder e do dinheiro. Tem sido este o processo que veio se
formando já há vários anos. Neste processo, uma pessoa tem
sido chave: Diego Fernández de Cevallos. Ele tem conseguido,
numa resposta da deusa Kali, ter seus braços colocados nos
homens e mulheres do dinheiro, na classe política de todos os
partidos, nos governadores de todos os partidos, nos setores
fáticos da igreja, com seus congêneres, os chefes do
narcotráfico, e, também, no interior do PAN.
Diego Fernández de Cevallos (Cidade do México, 1942) começou
sua carreira política vinculado ao grupo de extrema direita
universitária, MURO, fundado por Abascal pai. Este grupo de
inspiração fascista foi utilizado pelas autoridades
universitárias, até antes de 1966, como instrumento de
repressão e controle interno da universidade. Durante 1968,
era dirigente da juventude panista e quis aparentar uma
suposta proximidade ao movimento, que não foi além de algumas
declarações. Quando Pablo Emilio Madero foi dirigente do PAN,
Diego foi congelado e por alguns anos sua estrela se eclipsou.
Foi resgatado por Luis H. Alvarez e à sua sombra começou a
construir seu poder pessoal.
Do ponto de vista pessoal, ele herda a carteira de clientes de
Manuel Gómez Morín (todos homens muito poderosos). Aqui inicia
uma relação com os donos do dinheiro que será sua plataforma
de lançamento. Após um breve enfrentamento com Carlos Castillo
Peraza, Cevallos se torna o chefe do PAN, controlando a parte
fundamental da sua estrutura burocrática, com uma carteira de
clientes que se aproveitam de informações privilegiadas para
ganhar processos contra o Estado, com o controle de setores
importantes dos senadores e deputados de outros partidos (não
se deve esquecer que quando a contra-reforma indígena foi
aprovada na base do "Fast Track", o deputado do PRI Rocha
Cordeiro se enquadrou e disse aos panistas presentes: "Digam
ao chefe Diego que está servido").
Os priistas já chamam Diego Fernández de Cevallos só de
"Chefe". Nos círculos das procuradorias têm encontrado um
apelido mais adequado para ele que, além do mais, o retrata
melhor: La Coyota (apelido que ele deve detestar, pois sempre
se deu ar de muito "machinho").
Alguns exemplos que evidenciam o tráfico de influências de La
Coyota: o caso da empresa Del Valle que ganhou uma ação contra
a Fazenda pelo pagamento do IVA, argumentando que o seu
produto era um suco natural e que as frutas estavam isentas do
IVA. O incrível é que a "justiça" obriga a Fazenda a devolver
o IVA a dita empresa por vários anos. Mas acontece que este
IVA não foi pago pela empresa, mas sim pelos consumidores, e,
contudo, se decide devolver este dinheiro à empresa. Quem era
o representante jurídico desta empresa? Diego Fernández de
Cevallos. Quanto embolsou La Coyota? Cerca de um milhão e
seiscentos mil Pesos.
A família Ramos Millán ganha uma disputa de terras contra o
Ministério da Reforma Agrária, o que significa que esta
instância deve pagar uma quantia superior a todo o seu
orçamento para o ano. Quem era o seu representante jurídico?
Diego Fernández de Cevallos. Quanto para La Coyota? Um milhão,
duzentos e catorze mil Pesos. Se somarmos a isso o que ele
leva pelo resgate do banco Atlântico-Bital (uns 13 milhões de
Pesos), teríamos que La Coyota, o "chefe" dos priistas,
embolsou tranqüilamente mais de 15 milhões de Pesos. (Dados
extraídos de "Dinheiro". Enrique Galván Ochoa. La Jornada, 12
de julho de 2002).
Além disso, La Coyota Fernández de Cevallos comprou 20
hectares de terra localizados diante do Novo Aeroporto
Intercontinental de Querétaro, que o seu cachorro, o Firuláis
Loyola, constrói. Por estas terras, La Coyota pagou "somente"
um milhão e quinhentos mil Pesos (Notimex, 2 de agosto de
2002), ou seja, algo assim como 75 mil Pesos por hectare (uma
"pequena" diferença em relação aos 20 centavos por hectare que
pagaram aos camponeses de Toluquilla, Querétaro).
O Senhor dos Céus, Amado Carrillo, está internado no hospital
Santa Elena. Supostamente morre nesta clínica depois de uma
lipoaspiração. Quem é o representante jurídico deste hospital?
Diego Fernández de Cevallos. Quanto levou pela "recomendação"
e quanto pela "morte" do narcotraficante? È um mistério. O
próprio chefe do narcotráfico foi velado numa funerária cujo
representante jurídico é Fernando Gómez Mont (sócio e filho
adotivo de Fernández de Cevallos).
Alguns anos atrás, a PGR apontou que a Financiadora Anáhuac
(naquela época, propriedade do filho de Miguel de la Madrid e
de seu sobrinho) foi acusada de ser um lugar para a lavagem de
dinheiro do narcotráfico. Seu representante jurídico? Diego
Fernández de Cevallos.
Estes são alguns dos "clientes" de La Coyota. Esta carteira de
clientes tornou-o um dos homens mais ricos do México, sem que
os refletores sejam apontados para a sua fortuna e suas
falcatruas de advogado.
De Carlos Salinas de Gortari em diante, parece que o objetivo
de Fernández de Cevallos tem sido o de ser o segundo homem
mais importante do país, sem ser presidente do México, ou
seja, sem os incômodos que isso implica. La Coyota foi peça-
chave para tirar a pressão social contra Salinas de Gortari,
promovendo a queima das cédulas eleitorais de 1988; foi quem
esboçou a idéia de que "Salinas era um presidente ilegítimo
que poderia se legitimar com suas ações", ainda que tenha sido
outro a expressá-la. Foi o encarregado de promover e votar
todas as iniciativas políticas e econômicas do salinismo que
desmantelaram a riqueza nacional e a entregaram nas mãos de um
punhado de aventureiros que, da noite pro dia, se tornaram
ultramilionários (todos clientes de La Coyota).
Ao mesmo tempo, conseguiu introduzir vários de seus peões no
poder priista, desta forma, Fernando Gómez Mont foi assessor
de Ernesto Zedillo para a mudança na lei sobre todo o sistema
judiciário, sobretudo no que diz respeito a aposentar uma boa
parte dos velhos juízes da Suprema Corte de Justiça. A
surpresa para os deputados e senadores do PAN foi que quando
foram discutir a lei, do outro lado da mesa estava o seu
correligionário, Gómez Mont. Quando foram se queixar com
Fernández, este simplesmente sorriu disfarçadamente.
Outro de seus peões, Fauzi Hamdan, também foi assessor de
Zedillo, enquanto era deputado estadual do DF. Mais
recentemente, veio à tona a importância que este indivíduo
teve entre "os Amigos de Fox". A questão seria saber para quem
ele trabalhou. Hoje em dia, ninguém, nem sequer o IFE, tem
tanta informação sobre "os Amigos de Fox" como Fernández de
Cevallos. Daí a reação virulenta de Lino Korrodi. Ele soube
que Diego soube e sabe que sabe e não quer ser o bode
expiatório dos conflitos (Tragédias? Farsas?) palacianos. Um
palpite gratuito ao IFE e à PGR: investiguem a relação Hamdan-
Fernández de Cevallos e a relacionem com "os Amigos de Fox"
(aconselho o uso e máscaras, pois o que encontrarão não
cheirará nada bem).
Não seria arriscado pensar que Fernández de Cevallos quer
reinstalar no país uma reedição do Callismo (ou "cevallismo").
Um poder fático atrás do trono. Um poder a serviço dos homens
e das mulheres do dinheiro, com uma corte que o adula ou que,
fingindo-se oposição, não é outra coisa a não ser o seu bobo-
da-corte. Em última instância, este indivíduo é o retrato vivo
e fiel do sistema político mexicano.
Se numa época foi isso que significou Saturnino Cedillo, em
seguida Gonzalo N. dos Santos, posteriormente Rúben Figueroa e
Carlos Hank González, hoje, de colarinhos brancos e ternos
Armani, em seu Jaguar de bancos de couro, o sistema político
mexicano é desenhado por um indivíduo de baixa qualidade
chamado: Diego Fernández de Cevallos, vulgo La Coyota.I
O Firuláis Loyola e La Coyota Fernández de Cevallos não são
todo o PAN. Mas são os mais escandalosos rebentos da amostra
que Ação Nacional oferece como programa de governo. Porque a
corrupção e a imbecilidade não geram só dinheiro para aqueles
que se "doutoram" neles, mas também se tornam uma forma de
fazer política, a do "governo da mudança".
Esgrimindo uma estúpida intolerância, de mãos dadas com a
direita católica e com argumentos "filosóficos" de revista de
salão de beleza, o PAN já é governo.
Carlos Monsivais, talvez o analista mais lúcido e contundente
do avanço da direita no México, no deserto (para a crítica
política) da mídia de 2000, sobre o que seria do país com ele,
então, "governo da vitória cultural" (ou, também, "governo de
centro-esquerda" para os promotores do "voto útil"), e, hoje,
"governo da mudança". Com Jenaro Villamil, na já desaparecida
coluna Por mi madre, bohemios, Monsivais dissecava naquela
época o cadáver do sistema político mexicano e o que via
naquele tempo é agora terror quotidiano nas terras mexicanas.
A seguir, alguns exemplos do que encontrou nos dias da euforia
da "mudança":
- "Convidarei para a minha equipe de trabalho as melhores
pessoas de Aguascalientes. Não me importa de que partido
sejam, não me importa de que religião sejam, só não vamos
convidar bichas". Prefeito eleito de Aguascalientes, Luis
Armando Reynoso Fermat, dias antes de tomar posse em 1998.
Citado pelo líder priista Armand López Campa. Nota de Mario
Luis Ramos Rocha, Página 24, 26 de agosto de 2000.
- "Quem é o culpado de um estupro? Culpada é a criança que vai
nascer? Então por que vão matá-la? Que capem o estuprador".
(Mas se as medidas mais eficazes forem as preventivas, que o
façam antes que ele estupre alguém). Bispo Onésimo Cepeda.
Nota de Diego Padillo, Unomásuno, 7 de setembro de 2000.
- "As autoridades ligadas à educação do governo panista da
Baixa Califórnia aprovaram um regulamento que, entre outras
coisas, proíbe, nas escolas secundárias, o uso de maquiagem,
minissaias ou sapatos com saltos modernos, para evitar a
depravação moral (claro, o salto obriga ao meneio, o meneio
provoca o tenteio, o tenteio desemboca no ateu. A R.). Os
garotos não podem se apresentar de cabelo cumprido, já que
isso infringe o princípio formador dos bons hábitos da escola
secundária". (Companheiros do voto útil, a história lhes dá
razão antes do tempo). Nota de Alberto Cornejo, La Jornada 21
de setembro de 2000).
- "A escultura de Sebastián para receber o novo milênio e
fomentar a arte urbana (Sic, que se congela em pose de
admiração) é tão importante como a água potável numa colônia"
(Menos, porque a água potável carece de forma artística
durável). Governador do PAN Eduardo Rosales, num debate sobre
o orçamento do monumento de Sebastián, citado por Juan José
Doñan, Público, 30 de setembro de 2000. De início, segundo o
PAN de Guadalajara, o projeto não custaria um centavo ao
município, pois seria bancado pelos patrocinadores, e seria
através de concurso. Em seguida, se notificou que seria
entregue diretamente a Sebastián por "seu grande prestígio" e
porque "não ia cobrar pelo seu trabalho" e se não havia sido
levada em consideração a opinião dos moradores de Guadalajara
era porque "a autoridade não pode consultar cada cidadão". Até
o momento, o custo atinge quase os 21 milhões de Pesos,
bancados quase integralmente pelo governo.
- Do repertório do governador Fernando Canales Clariond (hoje
secretário da Economia): "Os incêndios continuam. Não sou
bombeiro. (Diante da explosão da Cydsa com mais de 60 pessoas
feridas). As mulheres e as crianças se envenenaram com os
gases, se envenenaram sozinhas. Não vou e ponto. Não sei
consertar os tanques, o problema é deles, não meu, não sou um
perito, não se trata de fazer um espetáculo. Os habitantes de
Nuevo León não precisam usar o Viagra, há bastante vigor neste
sentido".
- "A primeira coisa é entender que a organização de um governo
ou de uma série de instituições nada mais é a não ser um meio
para obter um fim. E, além do mais, era evidente que os
ajustes são uma necessidade imperiosa. É como se você tivesse
um fusca e agora o que você precisa é de uma Ferrari ou se o
seu carro tem pneus normais e agora você entra num terreno
muito acidentado. Claro que há que se fazer ajustes!... (Mas
não recomendamos fazer algo indevido para conseguir um fusca.
A prática R.). Neste trabalho, você precisa entender que você
não é uma flor e sim um vaso (Sic, que se multiplica até a
pós-graduação). O vaso não deve ser mais bonito do que a flor.
Por isso, tenho que me concentrar e estar aberto a ouvir,
ouvir e ouvir. Quando você dá uma opinião, é porque já ouviu
todo mundo". (Sic que vá para o otorino). Senhor Ramón Muñoz,
responsável pela consulta nacional para escolher os melhores
homens de Vicente Fox. Entrevista de Alberto Aguirre, Milênio
Diário, 13 de novembro de 2000.
- "Antes de negociar o aumento dos mínimos, deve-se definir o
modelo de país que desejamos (Convencida pela surpresa, só
neste instante a R. se dá conta de que o governo do presidente
Fox não definiu o modelo de país que desejamos. E, por outro
lado, ainda não está aposentada a Constituição da República
que, em seu artigo 123 diz alguma coisas sobre os salários).
Se quiserem altos índices de inflação, voltemos ao velho
esquema de oferecer aumentos de emergência, aumentos loucos ao
extremo (De acordo da R.: melhor promovermos reduções sensatas
para incutir respeito na escassez patriótica), mas este
caminho já mostrou o seu fracasso". Ministro do Trabalho,
Carlos Abascal. Nota de Armando Flores, Reforma, 30 de
novembro de 2000.
Há mais coisas do PAN, muito mais... mas a nuvem já levanta de
novo seu branco vôo e, levada por um vento que canta com José
Alfredo Jiménez "Fomos nuvem que o vento separou / fomos
pedras que sempre se chocaram / gotas d'água que o sol secou /
bebedeiras que não terminaram", entra em julho e vá para
Guanajuato...
Das montanhas do sudeste mexicano.
Subcomandante Insurgente Marcos.
México, janeiro de 2003
https://www.alainet.org/pt/active/4329?language=en
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