Diz Marco Aurélio Garcia
Integração sul-americana deve resolver e não criar problemas
26/08/2014
- Opinión
Em evento do Instituto Lula em São Paulo, vice-chanceler chileno diz que é falsa a ideia que Aliança do Pacífico está de costas para Mercosul
Intelectuais, representantes de movimentos sociais e políticos brasileiros e chilenos se reuniram nesta terça-feira (26/08) em São Paulo para discutir democracia, integração regional e desenvolvimento inclusivo na América Latina.
Na mesa de abertura do colóquio organizado pelo Instituto Lula, os expositores ressaltaram o bom momento vivido nas relações entre os países. O vice-ministro de Relações Exteriores do Chile, Edgardo Riveros aproveitou o momento para criticar a ideia que contrapõe Aliança do Pacífico e Mercosul. Para ele, a visão de que um está de costas para o outro é falsa e afirmou que o país transandino quer ser "uma ponte entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul".
O assessor especial da Presidência da República do Brasil para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, sintetizou a importância das discussões realizadas no evento ao destacar que caminhamos para um mundo multipolar. "Poderíamos continuar divididos ou tentar estabelecer uma política de aproximação para competir neste mundo multipolar". Daí a importância dos mecanismos de integração regionais criados na América Latina.
Heinrich Aikawa/Instituto Lula
Evento desta terça-feira discutiu relação entre Brasil e Chile
"A integração para grande parte dos europeus hoje é um problema e não uma solução. A integração tem que servir para resolver nossos problemas. Se isso acontecer, o Chile poderá resolver seu problema energético, não precisará mais buscar gás em Angola, se há enormes reservas no continente", observou Marco Aurélio.
Essa integração não pode, no entanto, ser realizada a parte dos povos, ressaltaram. "O processo de integração ganha peso à medida que se aprofunda o processo entre as pessoas, instituições e organismos. A integração não deve se dar apenas em âmbito governamental", afirmou Riveros.
Marco Aurélio lembrou que o processo de ditaduras vivenciado pelo Cone Sul nas décadas de 1960-1980 de certa forma contribuiu para a criação de uma consciência latino-americana nos brasileiros devido à grande quantidade de intelectuais que se exilaram nos países vizinhos. "Muitos de nós nos tornamos latino-americanos no Chile. Antes estávamos imersos em nós mesmos".
Nenhum processo integracionista pode se dar sem "sem o mínimo de institucionalidade", ressaltou Marco Aurélio ao criticar os organismos internacionais hegemônicos. Para ele, se não forem feitas mudanças "nas organizações internacionais como a ONU, o FMI e o Banco Mundial, vamos viver em um mundo se não de ingovernabilidade, de caos. Temos visto como fizeram falta organismos multilaterais fortes" para conter crises que estouraram nós últimos tempos. Para o assessor da Presidência, os organismos multilaterais existentes não foram capazes de apresentar soluções "para o Iraque, a Síria, a Líbia, o que teve efeito terrível e desestabilizador".
Neste sentido, Riveros sublinhou que "ainda que reconheçamos a diversidade da América do Sul, formamos uma unidade e isso representa uma vantagem no século 20 porque nos confere uma identidade e um peso específico em nível internacional" e reconheceu que "ainda temos muito que avançar na convergência da integração e nos acordos políticos.
Como resultado prático dessas políticas, Marco Aurélio mencionou o trabalho desenvolvido pela Unasul (União das Nações Sul-Americanas). O organismo, segundo ele, já interveio em "crises graves na América do Sul. Tivemos uma importante reunião em Santiago quando a Bolívia estava à beira de uma guerra civil; agimos quando o Equador estava à beira de um golpe e contribuímos para apaziguar as tensões na relação entre Venezuela e Colômbia, só para mencionar alguns".
Entre os entraves que se verifica na consolidação do processo integracionista, Riveros mencionou a questão da mídia, que evidência os aspectos negativos dos países e não aposta em uma agenda positiva.
Marco Aurélio ressaltou ainda que "falta constituirmos uma rede de TV suficientemente forte na região" e pontuou como exemplo de política bem sucedida no setor a criação da Telesur, que "apesar das críticas que possamos ter ao conteúdo, é hoje um canal alternativo para notícias sobre a América Latina. As mídias tradicionais estão em certo declínio, metamorfose".
"A integração deve constituir um esquema que abra nossas fronteiras e nos permita falar em uma só voz. Para isso, precisamos da liderança do Brasil", ressaltou Riveros. Marco Aurélio, no entanto, ressaltou a importância de que a integração seja sustentada sobre bases multilaterais. "Seremos todos mais fortes se fizermos esse caminho [de união e cooperação] do que se tentarmos percorrê-lo sozinhos", concluiu.
- Vanessa Martina Silva | São Paulo
26/08/2014
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