Unir a esquerda contra o ajuste e em defesa da democracia

18/08/2015
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 golpe nunca mais
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Uma vez ouvi de um ex-preso político que a esquerda só se unia na prisão. Espero que não precisemos aguardar a derradeira derrota para saber que o barco só avança se todos remarmos. Por força da conjuntura atual, de aumento da ofensiva conservadora na sociedade, vide a aprovação de pautas como a da redução da maioridade penal, o PL 4330 da terceirização (hoje no Senado como PLC 30/2015) e a PEC 171, parece que ressurge no seio da esquerda social a disposição de unir forças.

 

É nesse espírito que parecem ter surgido importantes iniciativas, das quais destacaria o Grupo Brasil e as iniciativas estaduais que vão construindo a materialidade das ações conjuntas, tal como a do Fórum dos Movimentos Sociais do Estado de São Paulo, que reúne mais de 50 organizações, lançado em maio deste ano.

 

Diversos grupos políticos fazem parte disso – alguns protagonistas das ações unitárias da esquerda brasileira, como o MST e a CUT, além de partidos políticos, associações de moradores, movimentos de mulheres, estudantes e organizações de jovens. Enfim, uma infinidade de movimentos sociais que sabem que, em determinados momentos, precisamos achar mais o que nos unifica e menos o que nos divide.

 

O Brasil atualmente vive duas graves crises. A primeira delas é de ordem econômica. A economia mundial tem crescido a taxas muito baixas e ainda sente os reflexos da crise financeira de 2008. O Brasil, embora tenha passado à margem dos efeitos mais imediatos da crise mundial, sente os reflexos da desaceleração do crescimento chinês e da opção de desenvolvimento nacional construída nesses últimos 30 anos. Há dois anos o país não cresce e o setor industrial vem registrando quedas sistemáticas.

 

Em curto prazo, não se visualizam perspectivas de melhora, vide o pífio grau de investimento na economia. Ao contrário, o que era o preâmbulo da crise econômica foi intensificado e hoje apresenta um duro cenário de recessão, potencializada pelo ajuste fiscal e monetário que penaliza os trabalhadores, faz crescer o desemprego e inicia um processo de perda real do poder de compra dos salários.

 

A segunda grave crise em que nos encontramos é uma crise política. Como já apontavam as “jornadas de junho”, o Congresso Nacional carece de legitimidade perante a sociedade. Em pesquisa recente da Confederação Nacional de Transporte (CNT) sobre a confiança dos brasileiros, para 1,1% o governo é confiável e 0,8% confiam no Congresso Nacional. Quanto aos partidos políticos, míseros 0,1% têm confiança neles.

 

A ausência de politização nas campanhas eleitorais e de verdadeiras disputas de projetos de nação contribuem para que os brasileiros tenham dificuldade de distinguir os partidos e seus interesses de classe. Além disso, a “infidelidade” partidária, a criação de partidos políticos que representam o “mais do mesmo” e as incríveis alianças políticas também são importantes elementos para essa falta de credibilidade e confiança nos mercanismos institucionais e partidários.

 

A atual dispersão da base aliada do governo do PT corrobora esse quadro e mostra o fisiologismo de alguns partidos que se regem pela posição em que ganham mais. Somente uma Assembleia Constituinte exclusiva e soberana do sistema político é capaz de construir uma verdadeira reforma do sistema político, que contribua para aproximá-lo dos brasileiros e dos seus interesses, sem o intermédio das empresas e do grande capital.

 

Sobre a crise econômica e política na qual o Brasil está imerso, há basicamente três alternativas. A primeira delas é permanecer “debaixo da cama”, torcendo para uma nova conjuntura favorável à economia brasileira e, enquanto isso, permanecer na defesa absoluta do governo e da sua política econômica.

 

Uma segunda alternativa – que paradoxalmente une a extrema direita e a extrema esquerda – é aproveitar o momento histórico para fazer avançar o impeachment da presidente Dilma. Para a direita, é a chance de retomar seu programa neoliberal e devastador dos interesses nacionais. Para essa parte da esquerda, é a possibilidade histórica de uma alternativa dos trabalhadores, o que não me parece estar colocado na conjuntura, uma vez que se observa o avanço conservador.

 

A terceira e última alternativa é avançar na construção de alternativas de unidade daqueles que defendem os interesses dos trabalhadores. No entanto, é preciso lançar-se na ousadia de criticar a atual política econômica do governo federal, apontando a oposição ao ajuste fiscal e a perda de direitos sociais, ao mesmo tempo em que se defende a democracia e se coloca contrário ao avanço conservador.

 

Certamente essa é a alternativa mais complexa, no entanto, nos parece a única possibilidade de retomar o protagonismo da esquerda nas ruas, nas grandes mobilizações, contribuindo para a politização da sociedade e a defesa de um projeto de nação soberano, democrático e popular!

 

- Juliane Furno é graduada em ciências sociais pela UFRGS, mestranda em desenvolvimento econômico na Unicamp e militante do plebiscito constituinte do comitê Unicamp

 

Crédito da foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

 

18/08/2015

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https://www.alainet.org/pt/articulo/171820?language=es
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