Domesticaram nossa mente!

13/07/2008
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Domesticaram nosso Tempo.
Hora de acordar.
Dormir,
De rir, chorar, brincar, sexo.
Temos relógios para tudo.
Em algum desses ponteiros deve apontar a felicidade.

Domesticaram a Cultura. Tudo é pop ou descartável. Uma confusão assola as bocas.
Minha cultura ou Sua cultura?
Paladinos informam o que seja cultura, e o que não é.
Nossa cultura popular vendida como suvenir pra turista da mesma forma extorquida no passado pelos “descobridores”. A cultura do pobre virou subproduto, é como ele é; enxergado, engraçado, divertido, mas pouco inteligente. A confusão impera, e o distanciamento da cultura nos leva a crer que não merecemos cultura. O imperador não tem olhos para nossa cultura!

“Sempre que eu ouço a palavra cultura
saco meu revólver
Sempre que eu ouço a palavra cultura
saco meu talão de cheques
saco meu talão de cheques.”
Fellini

Domesticaram as nossas Letras. Agora temos normas e condutas impostas pela minoria, pois a maioria é burra e não sabe escrever. O pitoresco encanta nas novelas pra saciar risadas. E vamos rindo, porem Chico bento não encontra mais petróleo no seu terreno, agora apenas soja tangenica.O escritor fantasma anuncia, não importa o resultado final. Quem manda no meu texto é o Word.

Domesticaram nossa Língua.
Aprender a língua do emprego.
A língua do intelectual.
A escrita do medico.
A fala do advogado.
Nossa fala não está relacionada a nada disso.
Reinstalar, reinstalar, reinstalar!!!
A utopia de todos falarmos chinês em algum filme high tech, contudo não estará longe o dia que todo cidadão fale inglês.
Good Luck!

Domesticaram nossas Dores. Usamos remédios pra tudo, mesmo que a coincidência ataque os ouvidos desatentos.
A mesma empresa da solução bem pode ser a do problema.
Presos a um vicioso circulo, viciados em remédios e porcarias artificiais, e o ciclo continua.

Domesticaram os Índios. Jogaram eles nas escolas pra soletrar o obscuro, decifrar sentidos confusos. Jogaram-lhe em reservas, espaços marcados para sua vida primitiva, deixemo-los brincarem.
Afinal são os novos pobres coitados, se repete em bocas universitárias tragadas pela cerva barata. O índio tem vestimentas, embora farrapos, e já é bem capaz de você confundi-lo com um mendigo.

“Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha”
Legião Urbana. Índios.

Domesticaram a Natureza. , hojendia tudo precisa ser controlado,
E o homem tem muita pressa, ele parece preocupado com futuras agressões ao meio ambiente, mas no fundo só quer manter algumas folhinhas verdes. Uma planta no meio da cidade brotando de cimento. Varias, calculadas para daqui a alguns anos fazer sombra para algum pedestre que ali parado e hipnotizado com o gigante outdoor. Urbanização, eis um dos nomes que deram para a escravidão da natureza.

Domesticaram os Homens. Inventaram para ele classes de homens, gêneros, e nunca mais fomos irmãos. Pintaram papeis com a palavra liberdade.
“Liberdade sem oportunidade e uma dádiva do demônio” Chomsky.
Soltaram os negros.Viva! Agora podemos andar pela rua, mas não encosta demais crioulo. Seus antepassados passaram a vida inteira apanhando em nome da maldição da pele. Mas agora temos cotas e direitos.
“Eles nunca tiraram na verdade os grilhões de nossas pernas. Nossa mente é que não os vê mais.”
Vovô Zaire.
Esqueça os corpos, domesticá-los da muito trabalho, duas guerras mundiais. A mente é o melhor suvenir.
Publicidade é o melhor remédio.
E as crianças são o futuro da nação.
Comendo plástico, sorrindo para seu novo pai.
Aquele que educa, ensina, acorda-a e da lição.
A tv.
Nela vemos Madalenas espancadas.Estrangeiros mutilados.Idosos arrebentados.
O sangue serve aos deuses!

Eles chegaram em nossas terras. Os tratamos como deuses e ganhamos o chão sujo. Despojaram as mulheres, trouxeram doenças e pragas. Chamaram nos de preguiçosos, estupraram as mais lindas filhas e sugaram nossas riquezas, acreditando serem o que reluz, esqueceram da natureza.
Os deuses são cegos!
Mulheres que se rejeitam a dar de mamar seus filhos bastardos, somos marcados a ferro, temos muitos donos. Donos que tiraram-nos de aldeias, tribos, para servi-los em terras estrangeiras. Fomos esquecidos pelos deuses, como Eles dizem, nossa pele traz a marca da maldade. A cor do desespero. Botam grilhões nas pernas, e riem ao espancar-nos. Chupam a mocidade das formosas, e chutam para fora os idosos. Vamos fazer feijoada com os restos, só nos restou rezar sobre o luar e lutar.
Os Deuses são surdos!
Lutando a vida toda por algo, identidade, mas agora nos marcam com estrelas amarelas e somos obrigados a perder até nossos dentes. Os banheiros são um convite para morte, talvez seja melhor, pois matamos Jesus, Eles repetem isso enquanto furam nossos olhos.
Deuses são vingativos!!
Pior que isso, apenas ter incentivado Adão a comer a fruta proibida. Carregamos a vergonha entre as pernas.
Obrigadas a servir, a não amar e ser maltratadas em nome de alguma honra.
Pisoteadas por cavalos.
A vergonha agora no ventre por mais um filho que vai passar fome.
Deuses são machos!
Deram nos liberdade, paises, estados, lideres, leis, punições, televisões.
Vendem nossas mazelas para o horário nobre.
Privativos e marchas, muitas marchas em nome dos mortos que não voltam.
Porem!
Continuamos a usar o mesmo uniforme de babacas!!

A terra não esta morrendo, está sendo morta.
E aqueles que a estão matando têm nomes e endereços.

Utah Phillips
(retirado do livro, No Logo, Naomi Klein.)


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