Grito dos excluídos
26/08/2001
- Opinión
No Dia da Pátria, Sete de Setembro, realiza-se neste ano, pela
nona vez consecutiva, o Grito dos Excluídos. Seu lema é incisivo
e contundente: "Tiram as mãos... O Brasil é nosso chão!".
Como em todos os anos, o Grito alerta para causas com
evidente incidência nos destinos da Pátria. Está clara a
advertência sobre a importância de salvaguardar nossa soberania.
Os destinos do país não podem ser entregues a mãos estranhas,
guiadas por ambições de exploração e de submissão do Brasil a
interesses hegemônicos de impérios que pretendem se impor pela
ameaça da força e pelos ardis do mercantilismo.
Por isto, em coerência com a causa, o Grito promove uma campanha
contra a implantação da Alca. Dado que a proposta pode ser
tentadora, com promessas ilusórias de chegarmos com rapidez aos
delírios do primeiro mundo rico e esbanjador, a campanha convida
para a necessária precaução: "Em defesa da nossa soberania,
vacine-se contra a Alca!".
A melhor vacina contra a alienação é a consciência crítica da
cidadania. Por isto, a campanha abre o espaço para a participação
popular, e promove um abaixo-assinado, para solicitar a
convocação de um plebiscito oficial sobre a Alca.
No projeto da Alca estão envolvidos todos os países da América
Latina. O Grito dos Excluídos, nascido no Brasil, já inspirou a
mesma postura de alerta e de vigilância nos países irmãos da
América Latina. A afirmação da própria nacionalidade não
significa ignorar a existência de pátrias irmãs, com quem somos
chamados a realizar a "Pátria Grande", no respeito pela
identidade de cada nação e na solidariedade em busca das soluções
que vão entrelaçando cada vez mais nossos destinos. E' diferente
a postura hegemônica de quem quer dominar, da postura solidária
de quem quer promover o respeito e o relacionamento fraterno
entre os povos. Por isto, o Grito já tem sua expressão
continental, que neste ano clama "Por Trabalho, Justiça e Vida".
Poucas iniciativas tiveram uma receptividade tão grande como o
Grito dos Excluídos. A esta altura de sua história, é conveniente
conferir as razões de sua rápida afirmação, que o tornaram um
fato de referência nacional e de significação mundial.
Ainda lembro o contexto em que pela primeira vez surgiu a idéia.
Estávamos numa reunião da coordenação nacional da Cáritas
Brasileira. Era o início de 1995, ano da Campanha da Fraternidade
sobre Os Excluídos. Na tempestade de idéias para levar adiante o
tema do ano e inseri-lo nas atividades do Setor Pastoral Social,
alguém propôs realizar o "Grito dos Excluídos", à semelhança do
"Grito da Amazônia", e do "Grito da Terra". Não demorou para
todos dar-nos conta da potencialidade da sugestão, se
encontrássemos maneiras de mobilizar os excluídos, e dar-lhes
oportunidade para que de fato gritassem para o Brasil o que
estavam sentindo e vivendo.
Pois bem, a partir daí, aceita a idéia, tratou-se de encontrar as
estratégias de implementá-la. A primeira delas foi amparar a nova
iniciativa no processo já em andamento. Para isto, nada melhor do
que acoplar o Grito dos Excluídos com a Romaria dos Trabalhadores
a Aparecida. E incluí-lo na dinâmica de reflexão e mobilização da
Semana Social Brasileira. Como data simbólica, emergiu com
evidência o Sete de Setembro, dia da Pátria, dia de afirmar a
inclusão como direito de todos os cidadãos.
Estavam colocados os ingredientes para se levar adiante a
iniciativa, inserindo-a no processo de resgate da cidadania,
buscado pela ação das Pastorais e Movimentos Sociais.
Realizada com sucesso a primeira edição do Grito, em 1995, a
iniciativa contou com a pronta articulação do Setor Pastoral
Social da CNBB, que no ano seguinte conseguiu inserir o Grito dos
Excluídos nas atividades de preparação do Jubileu do ano 2000.
Assim, o Grito era assumido oficialmente pela CNBB, e passava a
contar com a pronta e eficaz adesão dos Movimentos Sociais, que
se identificaram com os seus objetivos e com a sua organização.
Mas o sucesso do Grito não se baseia tanto na estratégia de sua
promoção. Ele continua tendo repercussão pelo acerto da causa que
aponta. Coloca o dedo na moleira. Toca a ferida central do
sistema neo-liberal, causador de concentração e produtor de
exclusão. Esta causa merece ser identificada com mais clareza,
para desnudar suas entranhas. Por hoje, vamos escutar o Grito dos
Excluídos. Ele impõe respeito e pede consideração, simplesmente
por vir de onde vem.
https://www.alainet.org/pt/articulo/108285?language=es
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