O maior genocida vivo: Pinochet, Milosevic ou Kissinger?
01/07/2002
- Opinión
Finalmente chegou ao Brasil o livro do jornalista britânico
radicado nos EUA, Christopher Hitchens: "O julgamento de Kissinger"
(Boitempo Editorial), com todo o dossiê de acusações contra o
ex-secretário de Estado norte-americano, complementado com um
prefácio à
segunda edição inglesa do livro - dos mais vendidos no ano passado
nos EUA
e na Inglaterra -, em que Hitchens atualiza as acusações a Kissinger.
Agora podemos julgar quem é o maior genocida vivo. As acusações
contra Pinochet se encontram no processo de Baltasar Garzón contra o
ex-ditador chileno e aquelas contra Milosevic estão no processo do
Tribunal Penal Internacional de Haya. Não somente falta alguém neste
Tribunal, como um dossiê que fundamente o processo. É o que o livro
de
Hitchens faz com grande profissionalismo e acuidade.
No prefácio à nova edição, escrito este ano, Hitchens retoma cada
um dos capítulos do dossiê - Indochina, América Latina, Timor Leste,
Washington - agregando novas provas e desdobramentos das acusações.
Tudo
enquadrado na constatação com que Hitchens inicia seu prefácio:
"Quando
surgiu no que hoje parece ser a pré-histórica primavera de 2001, este
livro provocou certo desprezo de alguns setores, e por duas razões.
Alguns
se recusaram a acreditar que as evidências apresentadas contra Henry
Kissinger pudessem ser verdadeiras. Outros, ainda que admitindo a
veracidade dos documentos oficiais, mesmo assim duvidavam da simples
idéia
de colocar figura tão poderosa ao alcance da lei".
Hitchens observa, na conclusão do seu prefácio, como Kissinger se
preocupa, em seu último livro - "Os EUA precisam de uma nova política
externa?" - com os perigos de uma nova doutrina legal da "jurisdição
universal". Essa preocupação, segundo Hitchens, se revelou real
quando um
magistrado argentino convocou Kissinger para responder sobre a
Operação
Condor, quando ele foi visitado, de passagem por Paris, em maio de
2001,
por um policial francês convocando-o a comparecer no dia seguinte ao
Palácio de Justiça para responder a perguntas sobre o desaparecimento
de
cinco cidadãos franceses no Chile, o que fez com que Kissinger
fugisse do
país apressadamente na tarde desse mesmo dia.
Os tribunais chilenos já escreveram várias vezes a Kissinger
pedindo sua colaboração para esclarecer o caso Charles Horman - o
jornalistas norte-americano sequestrado e desaparecido no Chile, cujo
caso
foi relatado no filme "Missing". A própria Corte Federal dos EUA
acusa
Kissinger pela "execução sumária" do general chileno René Schneider.
O
Arquivo de Segurança Nacional dos EUA intima Kissinger a devolver 50
mil
páginas de documentos públicos que ele havia retirado ilegalmente ao
deixar o cargo, o que faz Hitchens prever que novas revelações
assustadoras de crimes e de mentiras cometidos por Kissinger possam
vir à
tona nos próximos anos, propiciando assim "a justa oportunidade de
que
algumas das vítimas, por iniciativa própria, busquem por justiça nos
tribunais americanos e de outros países".
Nós mesmos, os brasileiros, protagonizamos um dos episódios
significativos dos novos e duros tempos com que se enfrenta
Kissinger.
Tendo aceito um convite do rabino Harry Sobel para discursar numa
cerimônia da colônia judaica em São Paulo, quando seria condecorado
pelo
presidente FHC, Kissinger acabou desistindo, depois de ter confirmado
sua
vida, à última hora, em função da campanha contra sua vinda, que
prognosticava grandes manifestações de repúdio a ele, a FHC e a seus
anfitriões. Alegou problemas de saúde, mas pouco tempo passou até que
se
revelou, no New York Times, que, como se imaginava, sua decisão veio
do
temor de ter que responder a algumas das requisições de depoimento e,
eventualmente, até mesmo de ordens de prisão que poderiam ser postas
em
prática contra ele. E que teria sido aconselhado pelo governo FHC a
não
vir, deixando de correr o risco que agora corre Kissinger em qualquer
país
do mundo para o qual viaje, ficando ele tolhido do que mais lhe
agradava,
viajar e exibir-se para a grande mídia, o que não lhe foi possível,
nem
sequer para o lançamento do seu novo livro.
Finalmente Hitchens oferece, para os que desejem aprofundar-se
ainda mais nas pesquisas e no tema, que se valham do seu site:
www.enteract.com/~peterk. Antes, leiam o livro e votem: quem é o
maior
genocida vivo: Pinochet, Milosevic ou Kissinger?
https://www.alainet.org/pt/articulo/106035
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