Mutirão por um Novo Brasil
08/05/2004
- Opinión
Dando continuidade ao processo das Semanas Sociais, realizou-se em Brasília, nos
dias 6 a 9 de maio, o Seminário Nacional de lançamento da 4ª SSB – Semana Social
Brasileira – que tem como lema: "Mutirão por um Novo Brasil".
Já foram realizadas três semanas sociais. A primeira, em 1991, tratou do mundo
do trabalho – desafios e alternativas; a segunda de 1993 a 1995 teve como tema
Brasil: alternativas e protagonistas e a terceira, de 1997 a 1999, teve como
foco o tema das dívidas sociais.
O seminário que lançou a 4ª semana social brasileira tratou de temas como: o
papel do estado; soberania x império (Dívida, Alca e FMI), forças sociais e a
precarização do trabalho (migrações e exclusão social). Participaram no
seminário, representantes de pastorais sociais, das igrejas, movimentos sociais,
entidades, ONGs, etc.
Constatações
Vivemos uma profunda crise que atinge toda a dimensão humana e o nosso planeta.
São necessárias mudanças de rumo que só acontecerão através da atuação da
sociedade.
Entre outras coisas, constatou-se que, do ponto de vista econômico, em 2003,
houve uma perda de 12% do valor do salário mínimo. Enquanto em 2002 o trabalho
representava 50% da renda nacional, em 2003 baixou para 36%, ou seja, houve uma
perda de 14% do valor do trabalho em relação ao total da renda nacional. Há seis
milhões de crianças que vivem abaixo da linha da miséria. E o déficit de moradia
no Brasil é de oito milhões. Por outro lado, no ano de 2003, tivemos um
superávit de 66 bilhões de reais, sendo que pagamos com juros e encargos da
dívida pública 138 bilhões de reais. Os gastos com 16 setores que compõem a área
social foram de apenas 70 bilhões de reais.
Por um lado, isso revela uma face da crise em que vivemos e, por outro, nos
damos conta de que algo está errado e deve ser mudado. Os participantes
enfatizaram que o Estado não pode continuar sendo controlado pelas elites
nacionais e nem ser instrumentalizado pela ambição do capital financeiro.
O Dr. Dalmo Dalari, um dos conferencistas do Seminário de abertura da 4ª SSB
disse que "vivemos momentos de perplexidade e, perguntou se não é possível
termos um projeto próprio e soberano?" Para Tânia Bacelar, assessora do encontro
"o presidente Lula caiu numa armadilha e é refém dos credores nacionais e
internacionais". Marcos Arruda, também assessor disse que "infelizmente o
presidente renunciou a um projeto de ruptura com o modelo vigente, e o que é
pior, aderiu ao mesmo. Não é isto que nós queremos."
Os participantes destacam a urgente necessidade de "O Brasil se libertar das
dependências injustas a que foi submetido e que se revelam, sobretudo no alto
preço que precisa pagar aos credores tanto internacionais como internos."
União das forças sociais
No final do seminário foi publicado "A carta ao povo brasileiro" (Brasil: Mutirão por um novo Brasil Por Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB). Nela os
participantes destacam o papel da sociedade civil e a necessidade urgente de
mobilizações para que ocorram mudanças, entre outras, na política econômica.
"Para a construção de uma sociedade solidária é indispensável a união das forças
sociais, sobretudo num momento em que as dificuldades convidam para a dispersão
e o desânimo".
A quarta semana social brasileira será um processo de 3 anos. Vai ser um grande
mutirão, pois todos acreditam que "outro Brasil é possível, necessário e
urgente".
* Luiz Bassegio, secretário do Grito dos Excluídos Continental.
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