Sair do sufoco

04/05/2002
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Dos 170 milhões de habitantes do Brasil, 120 milhões estão fora do mercado de consumo supérfluo; 15 milhões são agricultores sem-terra; 3 milhões são crianças de 7 a 14 anos de idade fora da escola; 500 mil são meninas que sobrevivem da prostituição; 50 mil são crianças que trabalham em depósitos de lixo, catando sobras; e cerca de 10 milhões estão desempregados. Frente à falência do Estado na área social, e do agravamento das precárias condições sociais, em especial na área de saúde, a população de baixa renda - cerca de 100 milhões de pessoas - recorre aos cultos (afro-brasileiros, evangélicos ou católicos) como esteio de consolo e expectativa de soluções em meio às dificuldades de vida. Nas últimas duas décadas, há um crescimento vertiginoso de Igrejas e cultos neopentecostais, de forte acento carismático, onde os mais pobres e marginalizados procuram uma chave de leitura para o seu sofrimento e encontram, ali, estímulo à mudança de vida pessoal (abandono do alcoolismo etc.) e prosperidade familiar. É sintomático constatar que a Igreja Universal do Reino de Deus, de perfil neopentecostal, surgida em 1977, já se encontra implantada em mais de 40 países, e que o padre católico Marcelo Rossi consiga aglutinar, numa missa, cerca de 600 mil fiéis, sem contar os que a assistem pela TV. O que mais ocupa e preocupa o brasileiro, hoje, é como sair do sufoco, não importa se engolindo baratas ou trancafiado numa casa num programa de TV, jogando na loteria ou recorrendo à religião. Tomara que ele descubra que eleição também alivia sofrimentos ou aprofunda-os, dependendo de como se vota. * Frei Betto é autor de "Hotel Brasil"
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