Cia controlará fake news

26/09/2018
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Tem passado despercebidos, no Brasil, os movimentos feitos pelo governo americano para controlar cada vez mais a internet e as redes sociais.

 

Aproveitando-se das acusações, nunca provadas, de que a Rússia teria influenciado as últimas eleições norte-americanas, hipótese francamente ridícula, o governo dos EUA vem redobrando seus esforços para concretizar um agenda há muito sonhada: controlar crescentemente a internet e as redes sociais e usá-las para seus fins geopolíticos.

 

Assim, o Congresso norte-americano ameaçou há pouco tempo regular as mídias socais. Exigiu do Facebook, Twitter, Google etc. maior empenho no combate às chamadas fake news.

 

As companhias, em vez de defenderem a livre expressão e o livre fluxo de informações de forma neutra, concordaram em fazer uma cruzada contra as fake news.

 

O mais “interessante”, contudo, é que elas se escusaram de fazerem filtros elas mesmas. Decidiram “terceirizar” esse trabalho de decidir o que é e o que não é verdade, o que pode e o que não pode circular nas redes. Mais interessante ainda é para quem elas estão terceirizando a tarefa de controlar as informações circulantes.

 

Na última quarta-feira, o Facebook anunciou que cooperará com o International Republican Institute (IRD) e com o National Democratic Institute (NDI) para controlar as suas informações e fazer verificações de conteúdo.

 

Esses dois institutos foram criados na década de 1980, custeados pelo governo norte-americano, com o intuito de “promover processos democráticos no mundo”.

 

Na realidade, eles são sub-organizações do infame The National Endowment for Democracy (NED).  Essa última organização nada mais é que um braço da CIA, que tem papel cada vez mais ativo na chamada guerra híbrida, destinada a desestabilizar regimes hostis ao governos dos EUA.

 

Mediante o NED, o governo dos EUA oferece suporte financeiro, material, logístico e técnico para meios de comunicação, partidos políticos, organizações estudantis, ONGs, editoras etc. que estejam dispostos a promoverem “valores democráticos” e, sobretudo, desestabilizar regimes considerados perigosos aos interesses dos EUA.

 

O NED deu e dá apoio ao antichinês Tibetan Youth Congress, aos grupos da praça Maidan, na Ucrânia, aos dissidentes do regime chavista, ao grupos jihadistas contra o regime Assad etc.

 

Nas campanhas eleitorais, em particular, o NED atua nas redes sociais direcionando mensagens a grupos de interesses e formando “ondas de informação”. Eles atuaram para desestabilizar alguns países, como a Turquia em 2013, e, mais recentemente, a Venezuela e o Irã. No Brasil em 2013, na campanha presidencial e depois da posse da presidenta Dilma, em 2015, tivemos a atuação suspeita de agentes políticos poderosos nas redes sociais.

 

Segundo Allen Weinstein, que ajudou a criar a legislação que criou o NED, “muito do que fazemos hoje era feito de forma sigilosa pela CIA há 25 anos”. Agora, no entanto, o apoio à guerra híbrida é feito de forma mais aberta, sob o manto da promoção dos valores democráticos e do combate aos regimes supostamente ditatoriais.

 

Se bem sucedido, o controle da internet e das redes sociais pelo NED e seus institutos, mediante a escusa do combate às “fake news”, dará ao governo dos EUA um novo instrumento poderosíssimo para afirmar seus interesses geoestratégicos no mundo.

 

Na prática, isso significará o estabelecimento de uma espécie censura mundial às informações que circulam na internet e nas redes sociais. Aquilo que for considerado fake, ao sabor dos interesses do governo norte-americano e de seus aliados, poderá ser impedido de ser divulgado. Já as informações de interesse dessas potências poderão circular livremente e serem “turbinadas” pelas redes sociais.

 

Some-se a isso a queda da neutralidade da rede, princípio básico que assegura tratamento igualitário às informações, e teremos, de fato, a formação de um Brave New World destinado ao controle geopolítico das informações em rede.

 

Dessa forma, a internet, que surgiu como o campo da liberdade informação e divulgação, como alternativa democrática aos oligopólios tradicionais da produção e disseminação de informações, poderá se transformar em seu exato oposto: o mais poderoso instrumento de falsificação da realidade e de dominação geopolítica.

 

- Marcelo Zero é sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

 

26 de Setembro de 2018

https://www.brasil247.com/pt/colunistas/marcelozero/370084/Cia-controlar%C3%A1-fake-news.htm

 

https://www.alainet.org/fr/node/195550?language=es
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