A “solução Michel” para estancar a Lava Jato
- Opinión
O usurpador Michel Temer não indicou um mero juiz para o STF. Pela norma regimental do STF, Alexandre Moraes será, automaticamente, o juiz responsável pela revisão das ações penais da Lava Jato julgadas pelo pleno do Supremo.
As ações julgadas pelo pleno, e não por um das duas turmas do STF, são as que envolvem os presidentes da República, do Senado e da Câmara – os próceres da república que freqüentam as planilhas de propina da Odebrecht com os apelidos “MT”, “Índio” e “Botafogo”.
O currículo profissional e o perfil militante- partidário do tucano Alexandre Moraes causaram balbúrdia. O PSDB será o único partido a ter representação orgânica no STF – não apenas com um, mas com dois do total de onze juízes que integram a Suprema Corte. A retrospectiva indica que o PSDB e seus políticos implicados em corrupção, que contam com a fidelidade partidária e a lealdade funcional de Gilmar Mendes [PSDB/MT], a partir de agora terão em Alexandre Moraes [PSDB/SP] outro militante a seguir a mesma trajetória.
Outra razão para a balbúrdia – e, seguramente, não menos significativa – é que Temer age em benefício próprio para proteger-se a si mesmo e também ao “Índio” e ao “Botafogo”, peças-chave para a aprovação dos projetos anti-populares e anti-nacionais no Congresso.
O mais relevante, entretanto, é que com a indicação do tucano, o bloco golpista avança na “solução Michel”, o acordo PMDB-PSDB para deixar a Lava Jato “delimitada onde está”, conforme comentou o senador Jucá ao operador de propinas na Petrobrás Sérgio Machado.
Deixar a Lava Jato “delimitada onde está”, no vocabulário dos golpistas corruptos, significa enterrar a Operação, porque os objetivos planejados já foram alcançados com o impeachment fraudulento da Presidente Dilma e com a destruição da imagem do Lula e do PT.
Para Temer, campeão em menções nas delações e, por isso, potencial multi-réu no STF, o custo do desgaste pela controvertida indicação será compensado com a “gratidão política” do indicado. A ampliação dos domínios do PSDB nos estamentos judiciais e no aparelho de Estado abre a perspectiva de maior controle da Lava Jato e de um judiciário ainda mais parcial, mais seletivo e mais aparelhado para combater adversários/inimigos políticos.
Além de já contar com o apoio incondicional de Gilmar, aquele que viaja de carona no avião presidencial e que costuma visitá-lo no Palácio aos domingos para organizar as tramóias políticas, Temer passará a ter um segundo defensor declarado no STF.
No regime de exceção, a mídia não só não questiona como naturaliza o fato do réu viajar junto e receber na intimidade o juiz que preside seu julgamento no TSE. Não será diferente desta vez, quando o futuro réu no STF indica como seu principal julgador um aliado político-partidário com o perfil de Alexandre Moraes.
Os golpistas estão dando um passo importante para abortar a Lava Jato. As dezenas de delações ainda guardadas em sigilo pelo procurador-geral Rodrigo Janot atingem gravemente a turba que perpetrou o golpe de Estado, daí a encruzilhada em que se encontram.
O conteúdo das delações e dos processos mantidos em sigilo porque não implicam Lula e o PT, atinge centralmente políticos, dirigentes, empresários, lobistas e diretores de estatais do PSDB, do PMDB e do bloco golpista.
Com o golpe consolidado e o Brasil derretido em profunda depressão, a questão agora, como disse Romero Jucá, é “estancar a sangria” da Lava Jato com a “solução Michel”.
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