Razões para não votar em Aécio Neves

15/10/2014
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Eu me chamo Euclides Mance, sou paulista, de Mogi das Cruzes, e votarei em Dilma Rousseff para presidente do Brasil. Essas são as minhas razões para não votar em Aécio Neves.
 
1. Não se deve votar em Aécio Neves, porque o Brasil e a América Latina não podem ficar submetidos aos interesses econômicos dos Estados Unidos.
 
Fiel à tradição do PSDB, Aécio Neves diz em seu Programa de Governo que fará um “reexame das políticas seguidas no tocante à integração regional para [...] restabelecer a primazia da liberalização comercial e [...], em relação ao Mercosul, [...] flexibilizar suas regras a fim de poder avançar nas negociações com terceiros países”, devendo “merecer atenção especial a Ásia [...], os EUA e outros países desenvolvidos”, com uma “estratégia de negociações comerciais bilaterais, regionais e globais, para por fim ao isolamento do Brasil, priorizando a abertura de novos mercados e a integração do Brasil às cadeias produtivas globais.” [Diretrizes Gerais – Plano de Governo Aécio Neves – PSDB, 2014, p. 56]
 
É justamente essa liberalização comercial o que os Estados Unidos mais querem há muito tempo, para quebrar o Mercosul e inundar o Brasil e a América Latina com produtos norte-americanos, favorecendo a geração de empregos nos Estados Unidos, e para ampliar o seu poder de decisão sobre as economias latinoamericanas por meio de suas empresas. Essa política geraria desemprego em nosso país e nos países vizinhos, em razão da queda de vendas dos produtos locais, como ocorreu nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
 
A integração da América Latina e dos BRICS, que se fortaleceu com os Governos Lula e Dilma, é um grande entrave para o projeto neoliberal norte-americano, que sempre almejou construir a Área de Livre Comércio das Américas. Aécio Neves deixa claro, em seu programa de governo, que defende não apenas a liberalização comercial, mas o estabelecimento de negociações comerciais bilaterais com os Estados Unidos, que busca retomar e expandir sua hegemonia econômica sobre toda a América Latina, enfraquecendo a coesão regional: dividir para conquistar!
 
Ainda sobre esse trecho do programa do PSDB, cabe salientar que, segundo o Banco Mundial, os seis maiores países em desenvolvimento (Brasil, Rússia, Índia, China, Indonésia e México) representam 32,3% de todo o PIB global e que os seis maiores países desenvolvidos (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália) representam 32,9% 2. Segundo o Banco Mundial, em estudo publicado em abril deste ano, o Brasil é atualmente a sexta maior economia global, considerando-se o produto nacional segundo o critério de câmbio ou a sétima, considerando-se a paridade de poder de compra das moedas nacionais, respondendo por nada menos que 56% do PIB da América Latina3. Nada disso seria possível se estivéssemos isolados e desintegrados das cadeias produtivas globais, como erroneamente diz o Programa de Governo de Aécio Neves.
 
2. Não se deve votar em Aécio Neves, porque o projeto de desenvolvimento do Brasil não pode ficar subordinado às forças do mercado, que concentram a riqueza e empobrecem a maioria da população.
 
Uma parte dos brasileiros, com menos de 25 anos, que já nasceu na era da Internet, talvez não saiba que desde o final da ditadura militar, em 1985, temos diferentes projetos de desenvolvimento em disputa no Brasil: o autoritário, que enaltece o Estado repressivo e auto-referenciado; o neoliberal, que enaltece e empodera os atores do mercado; e o projeto democrático e popular, que depende da participação dos atores populares da sociedade civil na formulação e sustentação das políticas, para poder avançar na transformação do país em benefício da maioria da população.
 
 
- Euclides Andre Mance é filósofo. Nos anos 1980 e 1990 foi professor universitário de Filosofia da Ciência e Filosofia Latino-Americana. Atuou como consultor da Unesco e FAO em projetos de Desenvolvimento Sustentável. É coordenador do Instituto de Filosofia da Libertação e Diretor Executivo de Solidarius Brasil. Entre seus livros estão A Revolução das Redes e Redes de Colaboração Solidária, publicados pela Editora Vozes.
https://www.alainet.org/fr/node/164762
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