Ato pela volta da ordem constitucional em Honduras marca o Encontro Regional das Américas da Marcha Mundial de Mulheres
Mulheres em marcha contra o golpe em Honduras
16/08/2009
- Opinión
Entoando palavras de ordem como “Ni golpe en Honduras, ni golpe en las mujeres”, cerca de 100 mulheres atravessaram o centro da cidade de Cochabamba, na Bolívia. O ato marcou o encerramento do encontro organizado pela Marcha Mundial de Mulheres (MMM) entre os dias 10 e 12 de agosto, e expressou em mobilização concreta um dos eixos de atuação da MMM: paz e desmilitarização.
“Estamos atentas, resistindo à criminalização dos movimentos sociais, que tem vários exemplos aqui na América Latina, e à militarização crescente, cujo golpe de Honduras é a expressão mais recente e forte”, declarou Miriam Nobre, a integrante do secretariado internacional da MMM.
A representante do Centro de estudos da Mulher de Honduras, Lidice Ortega, reforçou a importância das manifestações de solidariedade internacional com o seu país. “Isto é uma mostra a mais de que Honduras está passando por um golpe militar que afeta o mundo inteiro e ter uma manifestação que se chama “todos somos Honduras” na Bolívia nos faz sentir que não estamos sozinhas.”
Segundo Ortega, uma importante luta política nesse momento, abraçada pelo movimento neste encontro, é impedir as eleições que o governo militar instalado no país pretende convocar, exigindo da Organização das Nações Unidas (ONU), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Organização dos Estados Americanos (OEA) que retirem todos os seus técnicos desse processo. “Não se pode chamar as eleições em um marco de ilegalidade e de militarização absoluta do país”, sentenciou.
Movimento feminista e Bolívia
O primeiro encontro regional das Américas da MMM aconteceu em 2004, em Cuba, sob o calor da luta contra a Alternativa de Livre Comércio das Américas (Alça). De acordo com Nobre, derrotada a Alca, o continente se encontra em outro momento: o de afirmação das nossas alternativas para uma integração desde os povos. E a Bolívia foi escolhida como o melhor lugar para acolher esse momento da luta. “Ao mesmo tempo, nossa organização aqui na Bolívia precisava ter mais força para estar implicada nos processos tão importantes que estão acontecendo aqui. Precisamos fortalecer aqui nossa capacidade de fazer relação entre as mulheres da cidade e do campo”, completou.
A representante do Programa Integral de Desenvolvimento de Bairro (PIDEB) de Tarija, departamento ao sul da Bolívia, Mary Eva Vacaflor, destacou que o problema da agricultura não pode ser só das camponesas, mas um problema alimentar de toda a Bolívia “que está morrendo de câncer.” Além disso, ela fez coro com Nobre sobre o fortalecimento da organização feminista no país. “Devemos participar do processo de mudança que vive a Bolívia e não deixar que ele seja feito só pelos homens.”
Porém, alguns exemplos de participação feminista no “processo de cambio” boliviano já estão em andamento. A integrante da organização Matriz de Mulheres Juana Azurdu Padilla, Silvia Quispe, destacou atuação feminista na elaboração da Carta Orgânica do município e do departamento de La Paz. Este documento será a base da legislação específica dessas circunscrições e faz parte do processo – impulsionado pela Nova Constituição Política de Estado - de discussão das autonomias regionais em relação ao Estado Plurinacional da Bolívia. “Nossa proposta é que haja paridade e alternância de gênero em todos os cargos públicos, dos mais baixos aos mais altos, uma vez que a Nova Constituição garante a equidade de gênero no país”, afirmou Quispe, que é delgada da assembléia que elabora a Carta Orgânica municipal e do Conselho Autonômico Departamental.
O encontro
Reunindo 65 mulheres de 16 países das Américas, o Encontro Regional das Américas da Marcha Mundial de Mulheres apontou, para 2010, outras duas ações dentro do eixo de atuação “paz e desmilitarização”. Regionalmente, a proposta do Movimento de Mulheres contra a Guerra da Colômbia é realizar um encontro latino-americano neste país, questionando a forma do governo Uribe de lidar com os conflitos sociais e a sua adesão à estratégia militar estadunidense, além de pensar alternativas para a desmilitarização da região.
Mundialmente, Nobre destacou a atividade a ser realizada no dia 17 de outubro do próximo ano, no Congo. “Lá a violência contra as mulheres com arma de guerra é muita difundida e nós queremos debater este conflito que também acontece pelo interesse das transnacionais em extrair os recursos naturais do Congo. Queremos mostrar a ligação entre outros conflitos mundo a fora, todos relacionados com a atuação comum das transnacionais, a conivência de vários governos nacionais, a presença de interesses utilizados pelos Estados Unidos, pela União Européia”, explicou. Segundo Nobre, a atuação das forças de segurança da ONU no Congo, através da Monuc (Missão das Organizações das Nações Unidas na República Democrárica do Congo), são muito parecidas com a atuação da Minustah – a operação militar da ONU no Haiti, capitaneada por tropas brasileiras. “Em todas as ações de nossa jornada de lutas contra a presença de tropas militares também pediremos a retirada das tropas do Haiti”, finalizou.
La Paz, Bolívia
- Vinicius Mansur, Correspondente de Brasil de Fato
https://www.alainet.org/fr/node/135788
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