Linha divisória
25/07/2006
- Opinión
Difundiu-se na imprensa o esquema que divide a América Latina entre uma esquerda “boa” e uma esquerda “ruim”. Quem faz a divisão é de direita, preocupado em dividir a esquerda e cooptar a que considera “boa”.
A “boa” não sairia do modelo neoliberal, respeitaria a livre circulação do capital, assim como a propriedade privada, mesmo aquela improdutiva. Ela incluiria os governos brasileiro, uruguaio, argentino, chileno, o peruano. A “ruim” afetaria a livre circulação, taxando o capital financeiro, nacionalizando recursos naturais, expropriando terras e até mesmo indústrias. Estariam nela os governos cubanos, venezuelano e boliviano.
As diferenças evidentemente existem, embora amalgamá-las em grupos não dá conta de todos os casos. O governo argentino, por exemplo, renegociou a divida externa do país, interveio em alguns mercados – de carne, de gasolina – para pressionar os preços, entre outras medidas heterodoxas. Enquanto que o governo chileno é um exemplo extremo de aplicação ortodoxa do modelo neoliberal em todos os planos. Da mesma forma, Cuba é um país socialista, com um comando centralmente planificado da economia, enquanto a Bolívia e também a Venezuela possuem uma economia predominantemente capitalista.
Mas o que esse esquema esconde e não explica é porque todas essas forças mantêm uma grande aliança na América Latina, constituindo um poderoso bloco de centro-esquerda. Isto se dá porque a verdadeira linha divisória na América Latina não é entre uma esquerda boa e outra ruim. A linha divisória se dá entre os que estão a favor das políticas de livre comércio – expressas nos Tratados de Livre Comércio, que incluem sempre aos EUA – e os que estão a favor dos processos de integração regional – ALBA, Mercosul, Comunidade Sul Americana de Nações.
Esta linha colocou aos governos brasileiro, argentino, uruguaio, paraguaio, boliviano, venezuelano e cubano, de um lado, a favor dos processos de integração regional. Do outro lado, o Chile, a Colômbia, o Peru, países da América Central e outros do Caribe, que já assinaram ou estão em processo de assinar tratados de livre comércio bilaterais com os EUA. O Equador esteve próximo de assinar um TLC com os EUA, mas as mobilizações dos movimentos populares – prioritariamente os indígenas – de abril e maio deste ano, impediu que isso acontecesse, até que o atual presidente, Alfredo Palácios, atendendo a uma das demandas das mobilizações, expulsou a empresa de petróleo estadunidense, Occident, com o que Washington rompeu as negociações para assinar o tratado.
O governo que assinar um TLC condena, a longo prazo, o país a não poder legislar sequer sobre meio ambiente, menos ainda sobre sua moeda e, principalmente, estará atado a uma relação de subalternidade com a economia mais forte do mundo, a dos EUA. Daí a importância da continuidade da política externa brasileira, que funciona como eixo de unidade da linha divisória da integração contra os TLCs – linha que define o futuro dos países do continente.
https://www.alainet.org/fr/node/116257?language=en
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