Ao povo brasileiro e ao presidente Lula
01/11/2002
- Opinión
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se dirige ao povo
brasileiro e ao Presidente Lula para falar sobre a situação de nosso país e
da luta pela Reforma Agrária. Estamos movidos pela esperança e pela
confiança de que é possível um outro Brasil, onde mulheres, homens,
crianças, jovens e idosos tenham todos uma vida digna e feliz.
1. O Brasil sofreu oito anos de um modelo econômico neoliberal implementado
pelo governo FHC, que só aumentou o sofrimento do povo e trouxe graves
prejuízos para quem vive no meio rural, com o aumento da pobreza, da
desigualdade, do êxodo, da falta de trabalho e de terra.
2. O povo brasileiro disse não a este modelo econômico e agrícola. Votou
maciçamente nas mudanças e elegeu o Presidente Lula. É uma vitória do povo.
E uma derrota das elites e de seu projeto.
3. O MST combateu este modelo e por isso fomos perseguidos e injuriados.
Pagamos um alto preço com massacres, prisões, mentiras sistemáticas e o
descaso com as famílias sem terra. Nós nos engajamos em todas as campanhas
eleitorais, desde 1989, para que houvesse mudança. Agora, nos sentimos
orgulhosos e vitoriosos por termos elegido o Presidente Lula.
4. O latifúndio e o modelo neoliberal são a causa da fome, do desemprego,
da pobreza, do a! nalfabetismo e da falta de desenvolvimento no meio rural.
5. Temos certeza de que é possível derrotar o latifúndio, pela organização
do povo e pela vontade política do novo governo. Para nós, o inimigo é o
latifúndio, e o governo Lula vai desempenhar um papel fundamental para
democratizar a propriedade da terra no Brasil.
6. Precisamos construir um novo modelo agrícola, que priorize o mercado
interno, a produção de alimentos e a distribuição de renda. Para isso é
necessário valorizar a agricultura familiar e as cooperativas, viabilizar e
descentralizar as agroindústrias. O Estado deve reassumir o seu papel na
agricultura e garantir o direito dos agricultores produzirem suas sementes
e desenvolverem técnicas adequadas ao meio ambiente e à qualidade dos
alimentos.
7. É necessário garantir a educação pública para toda população do meio
rural, como forma de conquista da dignidade e do desenvolvimento.
8. Nosso papel como movimento social é cont! inuar organizando os pobres do
campo, conscientizando-os de seus direitos e mobilizando-os para que lutem
por mudanças. Manteremos a necessária autonomia em relação ao Estado, mas
contribuiremos em tudo o que for possível com o novo governo, para que haja
a tão sonhada reforma agrária.
9. Temos a oportunidade, neste momento, de realizar a tarefa histórica de
implementar uma verdadeira reforma agrária, para democratizar o acesso à
terra e eliminar a fome, o desemprego e as injustiças sociais.
10. Conclamamos a todos os trabalhadores e trabalhadoras, à sociedade
brasileira em geral, para que se organizem, se mobilizem, e nos ajudem a
fazer a reforma agrária. Um Brasil mais justo e igualitário é possível. A
hora é esta!
Caruaru, agreste pernambucano, novembro de 2002.
Coordenação Nacional do MST, Assessoria de Comunicação da Secretaria
Estadual do MST - BA
https://www.alainet.org/fr/node/106566
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