Destaques internacionais do ano de 2013

18/12/2013
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O ano se abriu e se fechou com duas perdas notáveis: Hugo Chavez, na Venezuela, e Nelson Mandela, na África do Sul.

Em ambos os casos, levantaram-se dúvidas sobre o processo político nos seus respectivos países após seu desaparecimento. Na África do Sul, a questão ainda está em aberto, entrando em 2014. Na Venezuela, Nicolás Maduro, vice de Chavez, foi eleito e empossado como presidente na sequência. Mais para o fim do ano, seu partido venceu as eleições municipais no país, frustrando as expectativas conservasdoras de que a morte de Chavez poria fim – ou pelo menos em perigo imediato – a chamada revolução bolivariana.

Os episódios em torno da Venezuela foram um dos que apontam para uma continuidade das vitórias de esquerda na América do Sul e Latina:  foi reeleito o presidente equatoriano, Rafael Correa e novamente eleita a presidenta chilena Michele Bachelet. Bachelet derrotou Evdelyn Matthei, candidata do presidente conservador Sebastian Piñera, soterrando a pretensão alardeada na mídia conservadora de que a eleição de Piñera significaria, quatro anos atrás, o começo do fim do “ciclo de esquerda na América do Sul.

Ainda na região, o depois da eleição e posse de Horacio Cartes como presidente, o Paraguai começou seu processo de reintegração no Mercosul.

Em compensação, o candidato conservador Juan Orlando Hernández foi declarado vencedor das eleições presidenciais em Honduras, derrotando Xiomara Zelaya, num processo denunciado por várias organizações presentes como fraudulento.

O ano foi marcado por um considerável avanço na perspectiva de uma solução negociada entre as FARC e o governo colombiano, nas conversações mantidas em Havana, Cuba.

O Uruguai espantou o mundo com a legalização de todo o ciclo da maconha, do plantio ao consumo, sob o controle do Estado.

Num giro mais amplo ao redor do mundo o primeiro destaque a ser registrado é o das denúncias do ex-agente da CIA Edward Snowden e os temas conexos daí decorrentes: seu asilo na Rússia; a espiongem contra dirigentes em escala mundial, como no caso da presidenta Dilma Rousseff e da chanceler Angela Merkel na Alemanha; o cancelamento da viagem da presidenta brasileira aos Estados Unidos; a interceptação do avião presidencial boliviano; o asilo de Snowden em Moscou; a detenção arbitrária do brasileiro David Miranda em Londres; a apresentação de uma proposta para haver um marco regulatório sobre direitos na internet pelo Brasil e a Alemanha à ONU,  entre outros.

A Igreja Católica foi sacudida duplamente: primeiro pela surpreendente renúncia do Papa Bento XVI, pondo fim a uma hegemonia estritamente conservadora de quase 35 anos, desde a posse de João Paulo II em 1978. Segundo, pela eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, que se tornou o Papa Francisco I. Desde sua eleição o novo Papa vem marcando o mundo católico por uma série de inflexões doutrinárias no sentido de uma maior liberalização e atuação da Igreja em várias frentes, além de por juma tentativa de impor um saneamento do Banco do Vaticano.

No Egito o ano foi marcado pela deposição do presidente eleito Morsi e pela volta dos militares ao poder de fato, num “mubarakismo” sem Mubarak. Na Tunísia realizou-se a nova edição do Forum Social Mundial, e o ano foi caracterizado por uma série de turbulências sociais e políticas que culminaram com a tentativa de formar uma coalizão governante entre o partido islâmico Ennaddha e a oposição laica.

Na África, além da morte de Mandela, o ano foi marcado pelas intervenções armadas francesas, retomando, em nome de uma política humanitária, velhos hábitos coloniais.

Nos Estados Unidos a marca do ano foi o confronto  entre o presidente, os democratas e os republicanos no Congresso, que levou o país a uma série de impasses financeiros e políticos.

O ano se encerrou com a abertura de algumas perspectivas históricas. A reaproximação – lenta e gradual – entre os Estados Unidos e o Irã abriu o caminho para um primeiro acordo sobre a questão nuclear deste país. Esta nova condição reforça a possibilidade de que em 2014 se encontre uma solução negociada para a guerra civil na Síria, a partir de conversações de paz em Genebra, a partir de janeiro.

Na Alemanha um marco histórico foi  estabelecido pelo novo governo de coalizão entre a CDU (e sua co-irmã bávara, a CSU) da chanceler Angela Merkel e o SPD do agora vice-chanceler Sigmar Gabriel, ao proporem a adoção de um salário mínimo nacional, o que não havia no país. A proposta de 8,50 a hora deverá entrar em vigor a partir de 2015. Sua adoção escandalizou a ortodoxia econômica européia, a começar pelas publicações The Economist e Financial Times.

Na OMC o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo foi eleito secretário-geral da organização. Considerado um hábil diplomata, Azevêdo conseguiu umprimeiro acordo comercial perto do final do ano, coisa que não acontecia na entidade há muito tempo. Criticado como inusificiente por muitas organizações não-governamentais, o acordo foi considerado como positivo por outros analistas por ser um primeiro passo na reabilitação de uma organização que só vinha apresentando impasses.

Impasse também é a palavra que se pode usar para assinalar as negociações internacionais em torno de uma agenda para a questão climática, como ficou demonstrado na última reunião da ONU sobre o tema, em Varsóvia. Prossegue, de um modo geral, a tensão entre os países em desenvolvimento e o mundo desenvolvido sobre quem vai pagar a conta da necessária diminuição das emissões de gás carbônico e outros na atmosfera.

Em várias frentes houve abalos ou mesmo recuos, junto a avanços, no campo do direito ao casamento e união de pessoas do mesmo sexo. Na França, a sua aprovação provocou massiços protestos da direita. Na Croácia um plebiscito rejeitou a união, enquanto na Índia uma decisão da Suprema Corte voltou a criminalizá-la, baseando-se numa lei de 1861, ainda dos tempos coloniais. Na Rússia a adoção de leis cerceando a propaganda e a prática das chamadas “uniões gays” chegou a abalar a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, em 2014. Na Baviera quatro comunidades – inclusive a capital, Munique – rejeitaram a possibilidade de sediarem a competição no futuro, através de um surpreendente plebiscito.

Last, but not least, ainda em meio às manifestações de junho – que alcançaram repercussão mundial – o Brasil, conquistando a Copa das Confederações na final contra a Espanha, voltou a ser incluído entre os possíveis favoritos no mundial de 2014.
 
 
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