Será Jean Wyllys apenas o primeiro autoexilado de um novo regime miliciano?
- Opinión
“Eu, particularmente, sou a favor de um “paredão” profilático para determinados entes… O Jean Willis, por exemplo, embora não valha a bala que o mate e o pano que limpe a lambança, não escaparia do paredão…” (Desembargadora Marilia Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em 29 de dezembro de 2015).
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Como a desembargadora Castro Neves continua solta, três anos após fazer a ameaça, o deputado federal reeleito Jean Wyllys (PSOL-RJ) decidiu renunciar ao mandato e se autoexilar para sobreviver ao novo regime miliciano-fundamentalista, instalado no país há apenas 25 dias, 55 anos após o golpe militar que o presidente Jair Bolsonaro defende.
A gente esquece, mas em 1964 e 1968 muitos outros brasileiros perseguidos pelo regime militar partiram para o autoexílio.
Entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Será que Wyllys, desafeto declarado dos Bolsonaros e colega de partido de Marielle Franco, vereadora assassinada no ano passado, será apenas o primeiro de uma nova lista de cidadãos autoexilados por não se sentirem seguros de viver em seu próprio país?
Na quinta-feira, Bolsonaro pai e o filho Carlos comemoram no Twitter a decisão do deputado, enquanto as redes sociais eram congestionadas por manifestações de outros brasileiros também querendo ir embora, apavorados com a nova ordem em marcha.
Em lugar de oferecer garantias de vida a Jean Wyllys, como se espera de um chefe de Estado, a primeira providência de Bolsonaro, ao retornar da Suíça nesta sexta-feira, foi receber, no Palácio da Alvorada, o filho Flávio, denunciado nos últimos dias por suas ligações com suspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco.
Mas não são só as milícias que colocam em risco a vida do deputado.
Além da desembargadora Castro Neves, Wyllys, primeiro parlamentar assumidamente gay a encampar a agenda LGBT no Congresso, ao anunciar a sua decisão citou também o caso do ator pornô e deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP), recém eleito pelo partido do presidente, que o acusou de defensor de pedofilia.
Em entrevista exclusiva ao repórter Carlos Juliano Barros, da Folha, o líder LGBT disse que se sente “quebrado por dentro”.
“A pena imposta, por exemplo, ao Alexandre Frota (indenização de R$ 295 mil) não repara o dano que ele produziu ao atribuir a mim um elogio da pedofilia. Eu vi minha reputação ser destruída por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada”.
Sobrevivendo com uma escolta policial desde a morte de Marielle Franco, Wyllys pergunta:
“Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um carro blindado e sob escolta? Quatro anos da minha vida não podendo frequentar os lugares que eu frequento?”
O dramático depoimento de Jean Wyllys não sensibilizou nenhuma autoridade do governo federal até o momento.
O ex-juiz Sergio Moro, que se tornou garoto-propaganda da nova ordem em Davos, e tem sob o seu comando a Polícia Federal, mantém obsequioso silêncio sobre os últimos acontecimentos.
Por não querer ser mártir nem herói, seguindo o conselho de Pepe Mujica, um símbolo da luta pela democracia na América Latina, Jean Wyllys resolveu jogar a toalha, puxar o time, viver em outro lugar mais civilizado.
“Quero cuidar de mim e me manter vivo”, desabafou o deputado no final da entrevista, resumindo um sentimento que se alastra pelo país, ameaçado cada vez mais pelo poder das milícias fora de controle.
É tudo triste, muito triste, assustador, acintoso, inacreditável mesmo o que está acontecendo nestes primeiros dias do novo governo.
Até quando isso vai durar?
Vida que segue.
25 de janeiro de 2019
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