‘Judiciário tem que dizer se vai seguir a Constituição e a Lei ou se vai continuar seguindo a Globo’
- Opinión
O economista gaúcho e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse nesta segunda-feira (22) que, no julgamento que ocorrerá dia 24 de janeiro no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, não é o ex-presidente Lula que estará no banco dos réus, mas o próprio Judiciário. “Aqui em Porto Alegre, nós não vamos julgar o Lula, mas sim o Poder Judiciário. Ele tem que dizer ao povo brasileiro se vai continuar seguindo a Constituição e os ditames da lei ou se vai continuar seguindo a Globo e fazendo sentenças de acordo com a vontade da burguesia brasileira”, disse Stédile durante entrevista coletiva no acampamento instalado por movimentos sociais do campo no Anfiteatro Por do Sol.
Para ele, o processo envolvendo Lula é “completamente irreal ou surreal”. “Não há nada nos autos que leve à sua condenação. Pior ainda, uma juíza federal de Brasília, na última semana, sequestrou o apartamento que, supostamente, seria a prova do crime, como propriedade da OAS, por uma dívida que esta empresa tem.”
Sobre o possível resultado do julgamento, o líder do MST assinalou que há três hipóteses possíveis: a condenação por 3 a 0, a condenação por 2 a 1 ou a absolvição por 2 a 1. Ele descartou a possibilidade da absolvição por 3 a 0, por considerar que o voto do desembargador João Pedro Gebran, pelas declarações que o mesmo já fez fora do processo, deve ser pela condenação de Lula. “Até porque ele tem amizade com o Moro. Existe uma promiscuidade entre eles que não deveria existir. Ficam fazendo elogios públicos um para o outro. Não é assim que os juízes devem proceder nos processos. Isso nos leva a crer que João Pedro Gebran já tomou a sua decisão. Agora, sobre a decisão dos outros dois juízes, ninguém sabe o que pode acontecer”.
João Pedro Stédile fez um balanço positivo da marcha que reuniu militantes da Via Campesina, do MST, do MPA, do MAB e de outras organizações, no início da manhã desta segunda-feira, em Porto Alegre. “Fomos muito bem atendidos pelos companheiros brigadianos. Agradeço a civilidade que eles tiveram. Na imprensa, houve um clima de animosidade nos últimos dias, mas felizmente chegamos a um acordo com o Ministério Público Federal que nos levou a planejar o acampamento aqui. A passeata foi muito bonita, da ponte até aqui. Passamos pelo centro da cidade e não houve absolutamente nenhum incidente, nem com motoristas nem com pedestres. Ao contrário, fomos muito bem recebidos, sobretudo no centro da cidade”.
Pelas estimativas de Stédile, somente o acampamento no anfiteatro Pôr do Sol deverá reunir cerca de 5 mil militantes do campo vindos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Ao todo, ele calcula em mais de 30 mil os manifestantes que devem chegar à capital gaúcha. Ônibus vindos de diversos estados estão chegando a Porto Alegre e devem engrossar a mobilização para a concentração na Esquina Democrática, no final da tarde desta quarta, que será seguido por uma caminhada até o acampamento onde ocorrerá um ato político e o início da vigília para aguardar o julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Após o julgamento, informou Stédile, ocorrerá um novo ato para analisar o resultado do mesmo e seus prováveis desdobramentos jurídicos e políticos.
Ao longo da tarde desta segunda, mesmo abaixo de chuva, prosseguiu a tarefa de montagem do acampamento às margens do Guaíba. Além dos integrantes do MST e da Via Campesina, o acampamento começou a receber manifestantes que estão chegando de ônibus em Porto Alegre. Com mochilas, colchões e barracas, eles começaram a se instalar na área em torno das grandes barracas de lona preta já erguidas no terreno.
Janeiro 22, 2018
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