Câmara: ingerência palaciana deixará sequelas
- Opinión
Venceu Rodrigo Maia mas a agenda legislativa do governo interino – neoliberal na economia e no social e conservadora em tudo o mais – estaria garantida com ele, com Rogério Rosso, derrotado no segundo turno, ou com qualquer outro dos candidatos a presidente da Câmara. A diferença pode estar no grau de compromisso com a salvação de Eduardo Cunha e foi acreditando que Maia não se baterá por isso ao ponto de manchar a biografia é que o PC do B o apoiou (liberando Jandira e Alice Portugal que se negaram a “votar em golpista") e o PT liberou a bancada. A maioria dos petistas deve ter votado em Maia no segundo turno. O Planalto, entretanto, jogou pesado nas horas finais para direcionar a disputa, especialmente para “desidratar”, expressão usada por Eliseu Padilha, a candidatura do peemedebista Marcelo de Castro. Ficaram sequelas na base governista e elas terão consequências.
Marcelo de Castro, ex-ministro de Dilma que não votou no impeachment, havia conseguido a indicação da bancada do PMDB para concorrer ao cargo por 28 votos a 18. Surpreendido, o governo entrou em campo para “desidratar” o candidato do partido do próprio Temer. Jogou pesado e conseguiu. No primeiro turno da disputa Castro teve apenas 70 votos (contra 120 de Maia e 106 de Rogério Rosso, o candidato Cunha/Centrão). Destes 70, acredita-se que nem 15 vieram do PMDB. O PT votou majoritariamente a favor de Castro, dando-lhe pelo menos 40 votos. No segundo turno o peemedebista apoiou Rogério Rosso mas fica a pergunta: os peemedebistas, que já reclamavam da maior atenção do Planalto ao Centrão, terão gostado de ser atropelados? Veremos. A operação contra Castro foi comandada pelo chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
E enquanto Moreira Franco trabalhava por seu genro Rodrigo Maia, o ministro Geddel Vieira Lima cabalava votos para Rogério Rosso, atuando até dentro do PSB, onde induziu o voto da bancada para o candidato Julio Delgado, em detrimento de Heráclito Fortes, que teria tido muito mais votos que Delgado se tivesse sido ele o candidato. O movimento de Geddel foi para reduzir a dispersão dos votos que poderiam ir para seu candidato, Rogério Rosso, do Centrão. Heráclito acolheu a escolha do partido mas retirou-se do páreo ressentido com a ingerência palaciana, tendo como aríete o líder do governo André Moura. Sequelas ficaram muitas, em diferentes partidos da base que tiveram seus candidatos desidratados.
O que importa agora é saber como Rodrigo Maia agirá em relação a Cunha.
– Ele não merece mas vamos votar nele – dizia o petista Arlindo Chinaglia.
– Votaremos em Rodrigo Maia porque ele não jogará nenhum bote salva-vidas para Eduardo Cunha – dizia Rubens Júnior, do PC do B.
Diferentemente do PSOL, que se absteve no segundo turno (e no primeiro conseguiu 22 votos para Luiza Erundina), PT e PC do B fizeram uma aposta em Rodrigo Maia mirando Michel Temer. Eles calculam que, com Rodrigo na presidência, Eduardo Cunha será cassado mais rapidamente. E uma vez cassado, poderá ser preso e tornar-se delator premiado, alvejando toda a cúpula do PMDB e talvez o próprio Temer.
- Tereza Cruvinel, colunista do 247, é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
14 de Julho de 2016
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