O terrorismo não tem justificativa! Nem o oportunismo!
- Opinión
Se é bem verdade que o comando de algumas potencias internacionais, especialmente os Estados Unidos, a França e Grã-Bretanha são responsáveis por diversas atrocidades militares em vários locais do planeta, inclusive com o constante e questionável uso de forças de ocupação no Oriente Médio, curiosamente onde encontramos o mais avançado processo de exploração de petróleo, “nada, absolutamente nada, em lugar algum do mundo, justifica o terrorismo”!
O terrorismo é, com certeza, umas das formas mais covardes de defesa de valores e de imposição de ideias, posto que é dividido com a guerra e com as ditaduras. Todo o terrorista é, em si, um covarde, que se traveste de herói para um grupo de extremistas e acaba servindo de argumento para reforçar os discursos conservadores.
No geral, as vítimas dos terroristas sempre são civis, inocentes, distantes da ação política, e somente fanáticos, empobrecidos intelectualmente, podem encontrar justificativa para tamanha barbárie, como a que foi vista em Paris na noite de 13 de novembro.
Evidentemente, a crítica aos terroristas não isenta, em momento algum, a ação militar e opressiva das grandes potenciais ocidentais no oriente médio, especialmente o bombardeio cego a alvos civis, ação que não é divulgada pela mídia ocidental. Aliás, como acabei de destacar, se o terrorismo é uma ação política covarde, a guerra também!
No geral, o discurso de um militante terrorista é tão raso e frágil como de um candidato do Partido Republicano ao governo dos EUA, carregado de preconceitos e ideias desconexas.
O problema é que ações covardes vistas na noite parisiense, inclusive com o fuzilamento mortal de mais de 100 pessoas na famosa boate Bataclan apenas reforçam, na opinião pública, a posição daqueles que sustentam posturas conservadoras de governo e o fim do multiculturalismo europeu. Não tenho a menor dúvida que o perfilhamento racial e cultural da polícia francesa deve crescer nos próximos meses, nos subúrbios da “Cidade Luz”, contra os jovens de origem islâmica.
Pior do que isto, depois que o presidente francês François Hollande determinou o fechamento das fronteiras do país para reforçar as investigações, diga-se, de passagem, uma conduta estratégica bastante questionável, outros “altos dirigentes do comissariado europeu” já defendem, numa conduta claramente oportunista, o fechamento das fronteiras do Continente contra imigrantes.
Ou seja, a suposta ação do grupo de fanáticos autoproclamado de estado islâmico, abriu a porta para o oportunismo da ultradireita europeia que foi novamente à impressa gritar contra os imigrantes e contra o multiculturalismo europeu. E aí começa a aumentar o perigo, pois já se espera um aumento da xenofobia contra imigrantes e seus descendentes no continente e um acirramento das lutas sociais.
Além disso, o “auto comando europeu” pode aproveitar a deixa para fechar as fronteiras contra os refugiados de conflitos armados, fome e doenças vindos do norte da África, da Ucrânia e do próprio Oriente Médio, de países como a Síria, aumentando a tragédia humanitária em todo o planeta.
O mais curioso de tudo isto é que a Europa atual e a proclamada cultura Ocidental não existiria sem a cultura islâmica. Se não fosse o Islã ainda estaríamos tratando várias doenças graves com velas e orações (e aqui nenhuma crítica à fé das pessoas, mas à conduta dos médicos da Idade Média europeia), não teríamos as Grandes Navegações, a matemática, a física e astronomia jamais teriam avançado, e a nossa arquitetura e a nossa alimentação seriam bem mais pobres.
Pior do que isto, sem o Islã, o próprio direito talvez não tivesse incorporado elementos como a defesa de direitos fundamentais, da dignidade da pessoa humana e o princípio da solidariedade. Ou seja, os fanáticos que atacaram Paris e deixaram 129 mortos e mais de 300 feridos, estão muito longe daquilo que é defendido pelos verdadeiros seguidores do islamismo, pois a sua religião prega a paz e o respeito às diferenças, algo que muitos ocidentais ainda desconhecem.
14 de novembro de 2015
- Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado, mestre em ciências sociais.
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