Deveres que iluminam o Brasil
- Opinión
“- Não senhora! - respondeu a abelha. - Nós não temos governo, porque não precisamos de governo. Cada qual nasce com o governo dentro de si, sabendo perfeitamente o que deve e o que não deve fazer. Nesse ponto somos perfeitas.” (Monteiro Lobato, Reinações de Narizinho, 1931.)
Assim fosse a consciência de nossas crianças! Há os que desacreditam de uma vez no Brasil e emigram em busca de condições melhores de vida. Deixam famílias atrás e enfrentam a frieza do Norte, na crença de que é um mundo melhor. Sobre alguns aspectos materiais e técnicos, têm razão.
Mas não se deve ignorar que o problema do Brasil são os brasileiros. Não nos fazemos dignos de sua terra fértil, seu céu azul, seu clima agradável e sua receptividade incondicional. Desentranhamos inconsequentemente aquilo que Deus nos presenteou quando desmatamos, poluímos e degradamos.
Mazela maior que essa é a favelização do Brasil (aumento dos excluídos e marginais) e a falta de referências dignas (as dos exemplos fiáveis).
A ousadia das desigualdades aumenta: enquanto um juiz discute que carro de luxo deve reter do milionário Eike Batista durante seu julgamento, ocorrem arrastões no metrô do Rio de Janeiro e em restaurantes de São Paulo.
Que diriam os jovens que veem as “autoridades” de seu país metendo a mão na grana, em valores altíssimos, enquanto o país vai de mal a pior? Pergunto-me o que acontece com esses traidores da pátria que deveriam servir de exemplo, mas preferem a sujeira de um lamaçal indiscreto.
Por isso, o problema da educação e da instrução é mais grave que o que se pode imaginar no Brasil. Vai muito além de salário de professores. Ele envolve a falta de referências educativas aos jovens que se abrasileiram para tirar seu quinhão do sistema, e não para contribuir com deveres cívicos.
É assim que se obscurecem as mentes dos jovens com o sonho do funcionalismo público, a estabilidade de carreiras de concurso público. No entanto, pouco se discute que um país de pessoas bem educadas e instruídas prescinde de uma burocracia bestial, inchada e paralisante.
Digo mais: o Brasil afunda-se na crença de que se deve proteger o trabalhador em vez de incentivá-lo a produzir. É certo que houve avanços em legislação trabalhista que acompanham a tendência mundial de melhora de qualidade de vida. Contudo, no afã de recuperar a dignidade que perdemos com o escravismo, temos visto o Brasil ficar para trás em competitividade e modernidade em relação a países como Chile e Coreia do Sul.
Além do aumento desnecessário e oneroso da burocracia no Brasil, tão cara aos cofres públicos, vemos o desincentivo ao empreendedorismo. Em vez de encorajar a iniciativa de empreendedores brasileiros que iniciam seus negócios com ideias promissoras, tudo que faz nosso governo maldito é proteger empresas grandes que financiam campanhas políticas e prender o rabo com empresas multinacionais que levam nossas riquezas embora.
Por isso, leitor, estou cada vez mais convicto de que o Brasil precisa de uma faxina geral que limpe sugadores de recursos públicos e recondicione a mentalidade dos jovens, a esperança última. A etapa próxima, porém, não se cumprirá sem uma dose cavalar de civismo e patriotismo, tomada por brasileiros que se sacrifiquem para uma transição que iluminará o Brasil.
Tal etapa delineia-se com a redução de medidas censuradoras e punitivas no Brasil. Basta de governos excessivamente intrometidos, profusão de multas disso e daquilo, “jeitinhos” e megalópoles carcerárias. Há que educar e instruir para que o governo bom intua-se dentro de todo brasileiro, como se infere da citação promissora e sábia de Monteiro Lobato que fiz acima.
Sendo assim, leitor, cumpra o máximo de deveres que puder.
Cedo ou tarde, o sol voltará a resplandecer a todos no Brasil.
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