Milano ou Lampedusa?

As grandes empresas do agro não produzem alimentos, produzem apenas mercadorias em busca do lucro.
04/05/2015
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  • Opinión
contra del hambre en el mundo pintada en contra del hambre en el mundo cordoba argentina 2010 01 25
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I. A fome no mundo...

 

Há no mundo mais um bilhão de pessoas que passam fome todos os dias.  Nenhum deles sabe aonde fica Milano no mapa.

 

Há no mundo em torno de 50 grandes empresas transnacionais que controlam o comercio mundial de grãos, laticinios, alimentos em geral, venenos, fertilizantes químicos  e supermercados.  Todos estarão em Milano.

 

Desde a década 1950, o então diretor geral da FAO, o brasileiro Josué de Castro defendeu no livro “Geografia da Fome” de que esse problema não tinha causas naturais, mas sim era resultado da forma como as empresas e governos controlavam os preços, a produção  e a distribuição dos alimentos no mundo. 

 

II. As causas da fome...

 

As grandes empresas do agro, mescladas com o capital financeiro controlam o acesso aos bens da natureza, terra, água, biodiversidade.  Controlam o comercio dos produtos agrícolas. Impoêm  seus preços e suas taxas de lucro.  Independente do custo de produção e do país.

 

Impuseram a propriedade privada dos seres vivos, como as sementes. Através do registro de sementes transgênicas.  Apenas para ter mais lucro com a venda casada de sementes com venenos.   E cujos efeitos na saúda humana ninguém sabe suas conseqüências e por tanto, caberia no mínimo  o direito à precaução!

 

Elas não produzem alimentos, produzem apenas mercadorias em busca do lucro.

 

Querem transformar o mundo numa grande pocilga, aonde cada ser humano poderia comprar, se tiver dinheiro, as mesmas porções de rações iguais, em Honk-kong, Mexico. Los Angeles, Londres,Cidade do Cabo, Mombaim...

 

As empresas transnacionais impoem o monocultivo, de larga escala em busca do lucro máximo.  Matam a biodiversidade com seus venenos.  Alteram o clima.  E causam muitas enfermidades a todos os seres vivos com seus venenos.

 

Porem  ganham muito mais dinheiro vendendo os remédios para as enfermidades por eles criadas.

 

As mesmas empresas que hoje matam a natureza com seus venenos, ajudaram a matar milhões de seres humanos nos campos de concentração na segunda guerra mundial com seus gases.   Mais tarde mataram milhares de vietnamitas com seu agente laranja.    E agora distribuem o glifosato, como se fosse necessário!

 

III. O  que queremos..

 

Os alimentos não podem ser mercadorias.  Os alimentos são um direito que todo ser humano possui de reproduzir sua vida, nesse planeta, em convívio com todos os demais seres vivos.

 

As pessoas precisam de alimentos, que são a energia reprodutora da vida no planeta.

O ser humano  pode e deve produzir seus próprios alimentos em cada  habitat que vive.  Assim foi ao longo da historia da humanidade.

 

O papel dos governos e dos estados é desenvolverem políticas públicas de apoio e organização da produção de alimentos em cada região.

 

Mas a maioria dos políticos e os governos foram sequestrados pelos interesses das grandes empresas, que financiam suas campanhas e interesses.

 

Os movimentos de agricultores defendemos a adoção das técnicas de agroecologia, como forma de produzir mais alimentos, de forma saudável e em equilíbrio com os demais seres vivos da natureza.

 

Ninguém é culpado por passar fome.  Por não ter trabalho, terra, água e renda, aonde vive!

 

Certamente não resolveremos o problema da fome, realizando exposições para melhorar a imagem das empresas causadoras da fome.

 

Se quisermos combater a fome, realmente, seria melhor organizar uma exposição de alimentos e praticas produtivas em Lampedusa!

 

- Joao Pedro Stedile, brasileiro de origem trentina, e militante da Via campesina internacional e da causa da soberania alimentar.

https://www.alainet.org/es/node/169376?language=en
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