A Faixa de Gaza e a paz que demora

23/11/2012
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Há  uma semana o mundo acompanha angustiado o desenrolar dos bombardeios e ataques  na faixa de Gaza. E agora já passa de cem o número de mortos.  A paz está  novamente de luto no Oriente Médio.  

De  várias partes figuras da diplomacia internacional se mobilizam para conseguir  a paz.  O presidente do Egito chegou a anunciar que o cessar fogo estaria  próximo e aconteceria hoje à noite.  Mas, passada  a meia-noite  deste dia 20 de novembro continuam os  bombardeios.

A  violência começou com represálias menos violentas, mas aumentou  exponencialmente quando o comandante Ahmed Jaabari, chefe das operações  militares do Hamas, foi morto durante um bombardeamento israelita na Faixa de  Gaza. Jaabari era o comandante das brigadas Ezzedin al Qasam, o braço armado  do Hamas. Segundo testemunhas, Jaabari morreu na explosão de seu automóvel  junto com um acompanhante. Ahmed Jaabari era a mais alta patente do Hamas a  ser morta desde que Israel invadiu Gaza há quatro  anos.

O  Shin Bet, serviço secreto israelita, confirmou o ataque, que justificaram como  resposta à atividade terrorista exercida por Jaabari durante uma década. Os  israelitas responsabilizavam-no pelos constantes ataques ao seu território e  pelo emblemático sequestro do soldado Gilad Schalit, em  2006.

Há  dias,  momentos de silêncio e aparente tranquilidade alternam-se com  dezenas de explosões de grande potência, que depois cessam para dar lugar a um  silêncio quebrado ocasionalmente por alguma outra detonação mais fraca. Os  bombardeios sobre a faixa palestina são incessantes e o lançamento de foguetes  das milícias palestinas contra Israel também não  para.

Os  civis que residem ali recomeçam cada dia sua rotina sob a ameaça que já vivem  há tanto tempo. Com a esperança da trégua e do cessar fogo, algumas pessoas   foram comprar mantimentos para a eventualidade de o conflito continuar.   E aconteceu, infelizmente, o que esperavam.  

Enquanto  isso, a esperança de que o conflito seria interrompido reinava. O ministro das  Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, afirmara que a trégua entraria em  vigor à meia-noite deste dia 20, durante sua visita à Gaza junto com um grupo  de colegas árabes. O próprio presidente egípcio, Mohammed Mursi, assegurou   que "a farsa da agressão israelense contra Gaza“ terminaria. Declarou  que os esforços desdobrados pelo Egito para conseguir um cessar fogo entre  palestinos e israelenses dariam "resultados positivos nas próximas horas”.  

No entanto,  a menos de duas horas do início da  suposta trégua  não havia nenhum acordo israelense sobre uma fórmula para  alcançar um cessar fogo. E o passar das horas confirmou que as esperanças não  tinham fundamento e a violência iria continuar.  

As  afirmações vão numa e noutra direção, seja afirmando o cessar fogo, seja  negando-o. Ora a esperança de paz se acende no coração das pessoas, ora  desaparece, esmagada pela violência que continua.  

Em  entrevista coletiva conjunta com a secretária de Estado dos EUA, Hillary  Clinton, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não fez  referência expressa à existência de um cessar fogo.  

Como  sempre acontece nessas ocasiões, as potências e os mandatários políticos  deliberam e decidem.  Em suas mãos movimentam-se os fios da vida de  inúmeras pessoas, mulheres, crianças, idosos. Vidas indefesas, projetos  sonhados e apenas começados são destruídos em  segundos.

Em  tantos anos de conflitos incessantes, sem frutos favoráveis que resolvam de  uma vez por todas a situação, parece óbvio que a violência e o ataque armado  não são solução para nada, apenas pioram a situação de desentendimento e  conflito.  Porém, tudo continua e o ser humano parece não dar mostras de  conseguir efetivamente construir a paz.  

Ninguém  quer assumir nada de déficit.  Ninguém aceita perder uma polegada sequer  em prol das vidas alheias.  Enquanto isso, Gaza continua a arder sob o  fogo das armas de um e outro lado.  E as mães continuam a chorar os  filhos mortos, a esperança assassinada e o futuro sombrio.  

Enquanto  Gaza arder, o coração dos construtores da paz é obrigado a arder também, de  desejo e zelo, procurando toda ocasião possível existente para construir a  paz. 

- Maria Clara Lucchetti Bingemer, professora do  Departamento de Teologia da  PUC-Rio e Autora de "Simone Weil - A força e a  fraqueza do  amor” (Ed.   Rocco).
http://agape.usuarios.rdc.puc-rio.br

Copyright 2012 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br
 
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