O impasse do consumo
17/07/2012
- Opinión
A agregação de valores sobre produtos cada vez mais sofisticados possibilitou gerar um grau razoável de produtividade graças a abundância de recursos financeiros colocados a disposição da sociedade. Esta abundância (fictícia) permitiu pela competição, a possibilidade de distribuir pagamentos (prestações) por um longo período de tempo, no pressuposto de uma condição econômica e política estável.
Com prestações baixas que cabe em qualquer orçamento, é possível chegar ao maior número de pessoas, bens que em outras épocas nem se sonhava pelo alto valor agregado . Hoje praticamente está ao alcance de qualquer um. Uma coisa puxa outra. Prazos dilatados alcançam uma população maior pela redução dos valores parcelados. Maior mercado de consumo, maior será a produção, levando a redução de custos, permitindo preços mais baixos. Para que tudo isto ocorra conta-se com a tecnologia. Mas esta reduz o número de empregados, logo menor é a massa salarial, menor será a capacidade de consumir. Estamos diante de um impasse do sistema capitalista. No longo prazo sistema algum conseguirá suportar. Pior, este longo prazo já está ocorrendo.
Por sua vez, o uso da tecnologia na produção, permitiu-se produzir bens em série, gerando um produto final cada vez mais barato. Pelo lado do produtor passou a ganhar menos por unidade de produção que é compensado pelo fator quantitativo auferindo enormes margens de lucro. A medida da saturação do mercado obriga os produtores gerarem uma variedade praticamente infinita de novos produtos. Esta espiral de novidades está levando ao esgotamento de consumir da sociedade, sem contar o esgotamento do meio ambiente.
Encontra-se algum espaço ainda significativo nas populações jovens, sempre ávidas por novidades para satisfazer seus individualismos. Mas, demograficamente esta população está caindo dramaticamente. Este é o preço pela baixa fecundidade feminina em queda nos últimos 20 anos. E agora?
Pelo lado da população da faixa etária dos idosos que está engrossando seu contingente, tanto na expectativa, como na qualidade de vida, eles são por natureza mais conservadores, isto é, não muito afeitos a novidades, ao menos no ritmo atual.
Deve-se levar em consideração que o sistema capitalista, foi alem do atendimento das necessidades humanas, criando também produtos supérfluos, inúteis que cada vez mais exige meios financeiros para adquiri-los oferecendo um sem número de formas de pagamento para consumo pela oferta de crédito em massa, como créditos pré-aprovados, cartões de crédito (poder de entrada para o paraíso do consumo), cheques especiais e outros facilitadores para o olimpo do consumismo.
A oferta de crédito tem seu limite na capacidade de endividamento do tomador/consumidor em relação a sua renda. Alem deste limite, o credor corre sério risco de não mais ver a cor do dinheiro dado emprestado. A questão do superendividamento dos consumidores identificado nas pesquisas do CNC, onde mais da metade da população tem um tipo de atraso, pode levar ao fracasso do sistema financeiro. A estratégia comercial de identificar qual o valor da prestação que cabe no orçamento das classes de renda mais baixa, para ampliar suas vendas, com juros baixos, deixou de lado a questão do prazo de pagamento, indo muito alem de nosso horizonte de compreensão. Numa eventual dificuldade do tomador/consumidor em honrar aqueles pagamentos, poderá renegociar sua dívida num processo perpétuo de escravidão. Mas, cada renegociação de dívida deixa de consumir outro ou novo produto. Na prática o consumidor está comprando dívida e não mais produto. Perde qualquer sentido de lógica quando os pagamentos ultrapassam a vida útil do bem. Assim, dinheiro que gera dinheiro não gera consumo.
Este é um tiro no pé, que será a gangrena econômica no futuro. Estamos diante de um impasse. A perda de fôlego demonstrado pelo pífio PIB deste ano pode ser uma pequena janela para uma recessão que vem por ai.
Sergio Sebold – Economista Independente e Professor.
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