Jornalista sofre censura por denunciar governo

23/11/2011
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Página 12 retirou trechos de matérias de Darío Aranda que responsabilizavam o governo pela morte de um camponês.
 
O jornalista argentino Darío Aranda, do jornal Página 12, denuncia que sofreu censura editorial em duas matérias que tratavam do assassinato do camponês e militante do Mocase (Via Campesina), Cristián Ferreyra.
 
As matérias, publicadas na sexta-feira (18) e sábado (19), tiveram trechos recortados em que o Mocase responsabilizava o governador de Santiago del Estero, Gerardo Zamora, e o governo argentino pelo crime.
 
Segundo o jornalista, na matéria publicada na sexta-feira no Página 12, os editores retiraram o seguinte trecho: O governador Gerardo Zamora, que não respondeu aos chamados deste jornal, vai para seu segundo mandato e denominou a província como a “capital nacional do kirchnerismo”, depois de obter nas últimas eleições 82% dos votos. Ele se autodefine “radical k”. O Mocase o qualifica – em relação à repressão ao campesinato – como a continuidade do juarismo.
 
Já na matéria do sábado, foi excluído o primeiro parágrafo: O Movimento Nacional Campesino Indígena (MNCI), onde militava Ferreyra, enumerou quatro níveis de responsabilidade: o modelo agropecuário, o governador Gerardo Zamora, o Poder Judicial estadual e o Governo Nacional. Na porta da Casa de Santiago del Estero, em Buenos Aires, o porta-voz do MNCI, Adolfo Farías, foi categórico: “Tornamos público que vamos pelo governador, ele é responsável pelas repressões. Não haverá mais assassinatos no monte santiaguenho”. Também houve marchas em Santiago e Córdoba.
 
“A nota que hoje (sábado, 19) aparece no Página 12 com minha assinatura não corresponde com a que escrevi”, disse o jornalista. Ele explica que, apesar de haver combinado com o editor a versão completa da matéria, apagaram, sem avisá-lo, o primeiro parágrafo, “o mais importante de uma nota jornalística”.
 
Aranda reconhece que a empresa jornalística pode editar seu artigo e isso é parte das regras do jogo da política editorial. Mas lembra, também, que “um direito básico dos jornalistas é ter a possibilidade de retirar a sua assinatura”, caso não concorde com a edição. Segundo ele, este direito foi desrespeitado pelo Página 12.
 
Aranda divulgou através de seu e-mail a denúncia da censura imposta pelo Página 12 e os trechos retirados de sua matéria. “Por este trabalho que abraço e pelas organizações sociais em luta (e pelos assassinados por este modelo extrativista) é imprescindível este esclarecimento”, disse o jornalista.
 
Darío Aranda é especialista na problemática campesina do jornal Página 12 e autor do livro “Argentina originária, genocídios, saques e resistências”.
 
De acordo com o site Rebelión, “é claro que a censura teve como único objetivo encobrir a responsabilidade do governo nacional e do estadual sobre os feitos e as cumplicidades que levaram os assassinos a cometerem o crime”. Para o periódico, tal conduta, vinda de um jornal “que sempre teve um discurso progressista e anti-ditatorial tem uma gravidade extrema, já que a prática de censura em casos de assassinatos de lutadores sociais é própria de milicos genocidas e dos grandes burgueses que se beneficiaram com essas ditaduras”.
 
Criminalização
 
O Página 12, no entanto, não foi o único a escolher fazer uma cobertura superficial do assassinato do integrante do Mocase. A agência de notícias estatal argentina Télam evita qualquer referência crítica a funcionários públicos ou políticos aliados ao governo. As primeiras notícias que trataram do caso e traziam depoimentos do Mocase evitam as falas em que o movimento atribui as responsabilidades pelo crime a funcionários do governo estadual. Mas a matéria que mais chama a atenção é a da sexta-feira (18), depois da mobilização onde a organização campesina fez menção explícita ao governo nacional.
 
A partir de então, o governo escolheu fazer a cobertura do caso, através de sua agência de notícias, sem dar voz aos campesinos, reportando apenas as informações da polícia local, associada aos empresários sojeiros. “A morte de um camponês em Santiado del Estero foi po uma disputa entre vizinhos”, passaram a divulgar, rebaixando um crime político a um acontecimento policial – quase doméstico.
 
A forma como a agência oficial Télam passou a tratar o assassinato de Ferreyra, reproduzindo a fala do governo local, lembra a forma como o Clarín e o canal TN trataram, em 2002, o assassinato de outros lutadores sociais no Massacre de Avellaneda. Os dois meios de comunicação argentinos, na época, reproduziram a fala do comissário Alfredo Fanchiotti, hoje condenado à prisão perpétua pelos assassinatos.
 
No caso do assassinato do militante do Mocase, Cristián Ferreyra, o Página 12 negou que tenha retirado os trechos das matérias de Aranda por fazerem referência ao governo argentino. “A 'denúncia' perde todo o sentido quando se observa que nas mesmas notas a que se refere, ou em outras, que este jornal se dedicou ao tema desde a sexta-feira (quando se soube da notícia) até hoje (quando se tomou conhecimento da 'denúncia'), e que foram publicadas em reiteradas oportunidades expressões de similar teor”, afirmou o Página 12 em nota publicada na segunda-feira (21). (com informações do Rebelión e do Marcha).
 
https://www.alainet.org/es/node/154185?language=es
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