Camponeses mobilizam-se para empurrar Dilma à reforma agrária
- Opinión
BRASÍLIA – A Via Campesina, grupo de movimentos sociais ligados a trabalhadores do campo, realiza a partir desta segunda-feira (22/08) uma série de manifestações pelo país com o objetivo de pressionar o governo a retomar a reforma agrária. O ato mais importante será em Brasília, onde vão acampar entre 3 mil e 4 mil militantes. A liderança dos manifestantes espera ter uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff na quarta-feira para tentar mostrar que ainda há reforma agrária a fazer.
Desde que assumiu, Dilma assinou (em fevereiro) apenas um decreto de desapropriação de terras, para aumentar o tamanho de área desapropriada em Pernambuco em março de 2010. O orçamento deste ano do Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra), da ordem de R$ 500 milhões, já foi todo executado, mas com desapropriações decretadas ainda na gestão Lula.
“O governo não conseguiu botar a reforma agrária para funcionar. Talvez seja o pior ritmo da nossa história”, disse Valdir Misnerovicz, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), uma das onze entidades integrantes da Via Campesina. “Há uma falta generalizada de reforma agrária nesse país”, reforçou Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), outra entidade ligada à Via Campesina.
Os militantes acham que Dilma não estaria informada adequadamente sobre a situação do campo. Para eles, os adversários da reforma estariam sendo bem-sucedidos em disseminar a idéia de que não haveria mais nada a fazer. O perfil de Dilma, de classe média urbana, contribuiria para tornar a presidenta menos suscetível à causa.
Mas a Via Campesina insiste que há 200 mil famílias acampadas no país atualmente. Assentá-las reduziria a pobreza, distribuiria renda e ajudaria na produção de alimentos, por exemplo. “O problema está na presidente. Queremos chegar até ela para dizer que existem acampamentos pelo país, sim, e que ainda há reforma agrária para ser feita”, disse Misnerovicz, do MST.
O atual humor dos militantes da reforma agrária lembra situação enfrentada pelas centrais sindicais urbanas nos últimos tempos. Por mais que viessem tendo acesso facilitado ao ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, interlocutor do Palácio do Planalto junto aos movimentos sociais, acham que, na hora de decidir, Dilma teria preferência por ouvir empresários.
As centrais decidiram mostrar a insatisfação boicotando o lançamento do pacote de medidas de apoio à indústria. O gesto parece ter dado certo, por ora, com a presidenta aceitando dialogar mais, especialmente com a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
“Reconhecemos que o governo tem abertura ao diálogo. Porém, esse diálogo não sido traduzido em ações concretas”, disse Misnerovicz. Segundo ele, se a pressão não funcionar e a Via Campesina não for atendida, eles vão reavaliar a relação com o governo, que por ora é amistosa e de colaboração.
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