Encontro se transforma em movimento popular

13/04/2011
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Atividade no México reuniu militantes de países marcados por guerras, golpes e incursão de investimentos neoliberais
A cidade de Minatitlan, no estado de Vera Cruz (México), foi sede do VIII Foro Mesoamericano de Los Pueblos, entre os dias 8 e 10 de abril de 2011. Ali reuniram-se cerca de 600 militantes de organizações populares vindos de países marcados por guerras, golpes de Estado e uma forte incursão de investimentos neoliberais. Movimentos sociais da Guatemala, El Salvador, Honduras, Panamá, Costa Rica e do sul do México estiveram, durante 3 dias,“articulando a luta dos povos contra a dominação”, como sinalizava o lema do evento. 
Martín Velásquez, da Aliança Mexicana pela Autodeterminação dos Povos (AMAP), explica que o primeiro Fórum Mesoamericano, ocorrido em 2001, em Chiapas, nasceu para enfrentar megaprojetos de investimento que estavam no marco do Plan Puebla Panamá (PPP) e das negociações do tratado de livre comércio entre a América Central, Estados Unidos e Europa. “Depois de 10 anos de luta contra esses processos, a resistência conseguiu dar golpes estratégicos ao neoliberalismo e suas oligarquias, tivemos conquistas. Mas, nos damos conta que o capitalismo globalizado também tem suas reações”. Martin cita exemplos: “o golpe de Estado em Honduras - quando legitimamente tinham um presidente eleito nas urnas - o autoritarismo no Panamá e a militarização no México nos obrigaram a refletir que já não bastava mais a resistência que estávamos fazendo. Necessitamos dar um salto qualitativo muito mais organizado para fazer mais ações”.
A principal resolução do evento, no que se refere a esse salto qualitativo na luta contra o neoliberalismo, foi a transformação do Foro, que se realiza a cada dois anos, em um movimento permanente.  “Nessa lógica, vamos levar um processo que se chama Coordenação de Transição para a Formação do Movimento Popular Mesoamericano. A partir dessa coordenação, pretendemos montar um plano de ação, retomar data de lutas e agregar mais organizações centro-americanas no movimento”,relatou Velásquez.
Durante o Fórum, formaram-se grupos de trabalho sobre temas ligados à dominação imperialista na América Central. São eles: “a crise do capitalismo global e as oportunidades para a disputa de hegemonia e transformação social”, “soberania alimentar e energética e defesa do território”, “dominação e violência patriarcal”, “militarização e criminalização dos protestos sociais”.
Grandes Projetos
O Plan Puebla Panamá foi lançado em 2001, no México, pelo então presidente Vicente Vox Quesada e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O PPP é um programa de desenvolvimento, equivalente ao IIRSA (Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana), que visa a atrair investimentos privados nacionais e estrangeiros para a região centro-americana, baseado em megaprojetos de infraestrutura nas áreas de transporte, comunicação e energia.
De acordo com o material de estudo distribuído no Fórum, existem cerca de 330 projetos hidroelétricos em toda a região centro-americana em suas várias etapas de estudo, planificação ou execução. Entre as principais de destacam a barragem de La Parota, no México, e El Tigre na fronteira entre Honduras e El Salvador. Entre os efeitos negativos dessas obras, ressalta o documento, “estão o deslocamento massivo de populações; o incremento da pobreza, já que não garantem condições de desenvolvimento depois do reassentamento das famílias; e danos graves aos meios de subsistência, patrimônios culturais e espirituais”.
Outros projetos comuns a toda a região são os complexos turísticos, as supervias, os gasodutos, parques eólicos, os monocultivos de Palma Africana para a produção de agrocombustível e as grandes empresas de mineração, em sua maioria, canadenses.
Os depoimentos e denúncias feitas pelos militantes durante o Fórum denunciavam que o Plan Puebla Panamá (hoje chamado Projeto Mesoamérica) e os tratados de livre comércio trouxeram miséria e violência para a região. Resultado e prova desta miséria são os milhões de centro-americanos que migram para os Estados Unidos e, no caminho, são vítimas de graves violações dos direitos Humanos.
Em Honduras, mais neoliberalismo depois do golpe
Bety Matamoros, da organização Bloque Popular, ressalta que os projetos neoliberais acentuaram-se em Honduras depois do golpe de Estado.” O presidente Manuel Zelaya havia cancelado várias concessões de mineração  e de construção de hidrelétricas, porque eram de capital estrangeiro e para os estrangeiros. E isso era uma luta que ele enfrentava diariamente. E por isso, nós achamos que o golpe não se deu somente para evitar a 4ª urna, como querem nos fazer acreditar”, denuncia Matamoros, referindo-se à consulta sobre uma Assembleia Nacional Constituinte que o então presidente Zelaya pretendia fazer no dia em que sofreu o golpe civil-militar.
Com o golpe, os projetos que haviam sido cancelados foram retomados. O representante dos povos indígenas Lenca, do Conselho Cívico Popular Indígena de Honduras (Copinh) Tomás Gomez denuncia que no período posterior ao golpe de Estado, referente aos seis meses do governo de Micheletti, foram aprovados 47 projetos hidrelétricos. “Destes, 26 estão previstos para os departamentos de Intibucá, Lempira e La Paz, afetando os povos indígenas Lenca”.
Criminalização
O Fórum Mesoamericano foi dedicado à mexicana Bety Cariño, assassinada em 27 de abril de 2010, enquanto participava, juntamente com outros líderes comunitários, da Caravana de Apoio e Solidariedade com o Município Autônomo de San Juan Copala, em Oaxaca. Paramilitares, emboscando a caravana, abriram fogo direto sobre os militantes. Bety Cariño era integrante da Equipe Nacional de Coordenação da Rede Mexicana de Atingidos pela Mineração (REMA) e diretora do Coletivo CACTUS. Nessa ocasião também foi assassinado o observador internacional finlandês, Tyri Antero Jaakola.
O caso de Bety não é o único no México. Os participantes do Fórum denunciaram que assistem a uma verdadeira guerra contra os movimentos populares naquele país. Por lutar contra os altos preços da energia elétrica Sara Lopez, da Rede Nacional de Resistência Civil Contra as Altas Tarifas da Energia Elétrica, ficou presa durante um ano.  Em julho de 2009, relata Sara, “invadiram a minha casa para me prender e me fizeram trocar de roupa na frente deles”. Sara conta que o pior momento na prisão foi quando recebeu a notícia da morte da companheira Bety Cariño. “Foi um golpe muito forte, mas tive que seguir em frente”.
Na comunidade de Sara, em Campeche (México), há cinco anos não pagam a conta de luz. Quando cortam a energia, técnicos da própria comunidade, treinados pelo Sindicato Mexicano de Eletricistas (SME), fazem voltar a energia.  Sara denuncia que, em seu país, estão tratando a energia como negócio e que 40% das companhias estão privatizadas, nas mãos de empresas espanholas. “Não pagaremos a conta até que tenhamos tarifas justas” declarou
A delegação de Honduras presente no Fórum também denunciou a forte repressão desatada pelo governo de Porfírio Lobo Sosa. Recentemente, a greve dos professores hondurenhos foi duramente reprimida com prisões, gases lacrimogêneos e assassinatos. Trezentos professores foram suspensos, por dois meses, sem salário.
- Silvia Alvarez, Minatitlan (México)
https://www.alainet.org/es/node/149069?language=es
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