Barriga vazia não gera PIB

11/03/2011
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Em artigo anterior (O Imprevisível Mercado Agrícola) temos alertado sobre o descompasso da agricultura mundial, com uma avassaladora inflação de preços. Se as estatísticas não mentem, há uma defasagem entre a produção e a demanda de produtos agrícolas, apesar dos recordes de produção observado em 2010, conforme relatórios da FAO. A geração da atividade econômica, aquela que agrega valor, só ocorre quando há um excedente de produção alimentar. O que se está observando, é que a produção não mais está sendo suficiente para atender este formigueiro humano, com apetite de gafanhoto. 
 
Por sua vez, o aumento de preços estimula os produtores a produzirem mais, desde que estes se beneficiam e não à especulação, agregando novas áreas de plantação. Mas os limites físicos deste planeta estão se exaurindo.
 
A relação energética das necessidades humanas do dia a dia é plenamente satisfeita pela produção segundo critérios da FAO. A defasagem está por conta de que alguns “gafanhotos” se julgam no direito de comer mais do que outros, se empanturram ao ponto de parecem patos desengonçados, que se apercebe nas ruas de qualquer cidade americana, acostumados com a cultura de abundância denunciado por Jeremy Rifkin em a “Economia do Hidrogênio”, quando outros bilhões estão em estado dramático de fome.
 
Os primeiros não estão nem aí. Fazem reuniões e mais reuniões hipócritas - de barriga cheia, de como resolver o problema da fome no mundo, mas não abrem mão um milímetro das vantagens adquirida, nem sempre de maneira ética, ao longo da história.
 
Desenvolvem-se equações e mais equações politicamente elegantes de como resolver o problema, mas nelas não é colocada a variável da redução da sua comilança; a redução dos juros para os países mais pobres; oferta de donativos (doação real, - sem crédito na outra ponta contábil), tudo isto por conta de uma humilhante atitude de preconceitos e discriminação, para com outros povos, particularmente os da África.
 
Redução das margens de lucro, nem pensar. Os acionistas endinheirados (corporações, fundações privadas), pela administração de executivos de alta performance profissional e acadêmica, estão ávidos pelos seus dividendos. Tudo por conta de uma falácia neoliberal: só há progresso pela competição de mercado. Esta ideologia defende que se deve permitir que o chamado mercado livre concretize sua magia.
 
Mas tudo isto tem sua volta, e suas consequências. Cada vez mais a globalização das informações está permitindo que povos, que viviam na ignorância e com fome, estão agora como hordas de formigas famintas, em protestos urbanos exigindo seu maior quinhão na mesa da vida.
 
Povo com fome, não compra televisão, não compra automóveis, não compra computadores, não compra celulares, não compra produção alguma.
 
É de se lamentar que políticos ineptos e renomados economistas com brilhantes palestras nos fóruns mundiais, não se aperceberam, que sociedade com fome não gera PIB.  
 

- Sergio Sebold – Economista e Professor

https://www.alainet.org/es/node/148210

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