As artimanhas de Uribe a serviço do império

28/07/2010
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Com uma biografia marcada por subordinação total aos interesses do capital estadunidense, esse senhor não tem nenhuma moral para denunciar a quem quer seja
 
Na última reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada em Washington (EUA), o governo colombiano Álvaro Uribe, seguindo um script previamente afinado com o governo dos Estados Unidos, lançou uma série de acusações sobre a existência de acampamentos guerrilheiros em território venezuelano. E, como já é de praxe, em seguida, toda a mídia burguesa repetiu incansavelmente. A candidatura Serra, pelo próprio tucano e, através de seu vice, reforçam as acusações, amplificando-as para uma possível ligação também das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc) com o Partido dos Trabalhadores (PT).
 
Em resposta às provocações, o governo Hugo Chávez, da Venezuela, agiu célere em defesa de sua soberania: cortou unilateralmente as relações diplomáticas com a Colômbia. Realmente não poderia ficar calado diante de tamanha audácia de um governo vizinho em fim de mandato – Uribe deixa o cargo em 7 de agosto. Mas a repercussão do teatro montado pelo mandatário colombiano não conseguiu obter apoio dos governos da região. Ao contrário, vizinhos como o Equador e a Bolívia exigiram explicações do presidente colombiano. E o Brasil tratou de colocar água fria e mediar a encenação de Uribe.
 
Mas, afinal, quais são os objetivos de tamanha bravata? Aparentemente, o presidente colombiano quis aproveitar sua última participação na reunião da falida OEA para criar um factoide que pudesse gerar polêmicas e conturbar o processo da União de Nações Sul- mericanas (Unasul) e da Comunidade dos Estados Latinoamericanose Caribenhos (Celac). Uribe sabe que a OEA está com os dias contados e já não consegue unificar todos os países do continente. E a fundação (em fevereiro) e consolidação da Celac, sem os Estados Unidos e Canadá, serão a pá de cal na tumba da moribunda OEA, que já não representa nada.
 
Em segundo lugar, Uribe faz um teatrinho para as disputas internas em seu país, tentando sinalizar para a esquerda e direita que continuaria ativo e com voz de comando entre as forças direitistas e fascistas. Afinal, seu próprio pimpolho recém-eleito, Juan Manuel Santos, dava sinais de querer se reaproximar da Venezuela e, também, de desejar se aproximar mais dos interesses de Obama do que dos falcões do departamento de Estado dos EUA.
 
O terceiro objetivo era prestar mais um serviço como marionete do departamento de Estado estadunidense, para fazer provocações baratas a Hugo Chávez e pautar as disputas político- deológicas do continente. E isso ele conseguiu. Imediatamente após sua encenação teatral, todos os meios de comunicação da mídia oligopólica do continente passaram a pautar o tema. E os candidatos direitistas em nosso país se apressaram também em repercutir, amplificando as denúncias e tentando envolver o PT e a candidatura de Dilma Rousseff. Mas toda essa encenação baseada em factoides teve vida curta, deixando evidente suas manipulações.
 
Porém, se a acusação de existência de colombianos em território venezuelano pudesse ser levada a sério, caberiam algumas perguntas:
 
a) Quem seriam os responsáveis pela presença de forças paramilitares colombianas que, frequentemente, transpassam a fronteira e, às vezes, são presas até em Caracas?
 
b) Quem seria responsável pelos narcotraficantes colombianos que circulam por diversos países da América Latina?
 
c) Quem seriam os responsáveis pelos bilhões de dólares originários do narcotráfico que alimentam o sistema financeiro dos Estados Unidos?
 
d) Por que quando o Brasil prendeu o número dois do narcotráfico colombiano, num luxuoso condomínio da burguesia paulistana, o governador Serra não se apressou em colocar a culpa no governo de Uribe?
 
A verdade é que o senhor Uribe já vai tarde. Com uma biografia marcada por violência, perseguições, corrupção e subordinação total aos interesses do capital estadunidense, esse senhor não tem nenhuma moral para denunciar a quem quer seja. E, diga-se de passagem, havia acusação contra ele nas cortes do próprio Estados Unidos.
 
A velha OEA também já teve seu prazo de validade vencido. E se prestara esse tipo de maniqueísmo barato só acelera sua inutilidade. Com a constituição formal da Celac, em fevereiro, e a realização da plenária continental, em julho de 2011, seus dias estão contados.
 
Já no Brasil, a direita, atônita e prevendo mais uma derrota eleitoral, vocifera como cão de guarda em seus poderosos meios de comunicação, aumentando o tom contra Chávez e Evo Morales (Bolívia). Mas as forças progressistas, os movimentos sociais de todo o continente estão alertas ereagiram, em toda parte, ridicularizando o triste papel de Uribe.
 
Oxalá o novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, tenha mais juízo e seja um pouco mais independente dos interesses estadunidenses, e que as relações diplomáticas entre os dois países possam se normalizar. O presidente eleito sabe que o rompimento das relações com a Venezuela trará muitas contradições internas com a própria burguesia colombiana, que vende, em média, 6 bilhões de dólares anuais ao país vizinho. E vende produtos alimentícios e da indústria de consumo popular, que não terá mercado em nenhuma outra parte, muito menos nos Estados Unidos.
 
Editorial Brasil de Fato (ed. 387)
https://www.alainet.org/es/node/143115?language=es
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