O ódio da mídia e a resposta da Conclat

30/05/2010
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Nos últimos dias, a mídia “privada” voltou à carga, com uma virulência impressionante, contra o sindicalismo brasileiro. Isto sempre ocorre às vésperas das eleições presidenciais. Primeiro foi a revista Época, que repetiu o bordão golpista de 1964 para atacar a “república sindical” instalada no governo Lula. Na sequência, como que numa ação orquestrada nas orgias do Café Millenium, o jornal O Estado de S.Paulo publicou longa “reporcagem” para criticar o “banditismo sindical”.
 
No editorial de quinta-feira, o Estadão não escondeu seu saudosismo do golpe militar. “O Brasil livrou-se, anos atrás [refere-se, descaradamente, a 1964], de se tornar uma república sindicalista, mas descambou para outro mal. Os sindicatos enveredaram pelo mundo dos negócios à custa do trabalhador... Por obra e graça do Imposto Sindical, o sindicalismo é uma atividade próspera, com poucos benefícios para os sindicalizados, mas muito lucro para os dirigentes”.
 
Corrupção e benesses do Estadão
 
A partir de casos isolados de corrupção, como o de um sindicato de Rio Verde (GO) dirigido por “gatos” – o que evidencia o risco do fim da unicidade sindical, que a mesma mídia hoje defende –, o Estadão generaliza as críticas. Todos os sindicalistas seriam “bandidos”. O editorial também prega o fim da contribuição sindical, que no período da ditadura a mesma mídia defendia como um mecanismo para desviar os sindicatos de seus fins, travestindo-os de órgãos assistencialistas.
 
A crítica generalizada ao sindicalismo é pura manipulação. Equivaleria a afirmar que a famíglia Mesquita é bandida, já que várias empresas que publicam anúncios nos seus jornais exploram o trabalho escravo e sonegam impostos – o que é fácil de constatar nas páginas de publicidade do Estadão. Ou que deveria ser decretada a prisão dos Mesquita, acusados de fraudar a Previdência. O Estadão critica o “imposto sindical”, mas não rejeita os fartos recursos da publicidade oficial.
 
Uma luta estratégica e urgente
 
A razão desta nova escalada de ataques é evidente. Nos atos do 1º de Maio na capital paulista, o presidente Lula e Dilma Rousseff foram recebidos com entusiasmo pelas centrais sindicais. Já o candidato oficial da mídia “privada”, José Serra, fugiu das manifestações, temendo as vaias. Os ataques visam intimidar o sindicalismo, colocando-o na defensiva numa campanha sucessória decisiva para o futuro do país. O objetivo é estigmatizar e acuar os sindicatos e as centrais.
 
Mas o sindicalismo não deve se intimidar. Pelo contrário. Deveria aproveitar a deixa para travar a batalha estratégica pela democratização da comunicação. Não dá mais para ouvir passivamente estes e outros ataques histéricos. Não dá mais para assistir a cobertura das greves como se elas fossem culpadas pelo “caos no trânsito”. Não dá mais para choramingar diante das manipulações da mídia. A luta contra a ditadura midiática é hoje vital para o avanço da luta dos trabalhadores.
 
Plataforma imediata do sindicalismo
 
A Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat), que reunirá mais de 30 mil líderes sindicais nesta terça-feira no Ginásio do Pacaembu (SP), deveria incluir na sua plataforma para os presidenciáveis as históricas demandas pela democratização da comunicação. Entre outras bandeiras, algumas deveriam ser encaradas com prioridade máxima pelo sindicalismo brasileiro:
 
- Pela implantação do Plano Nacional de Banda Larga, com a meta de atingir 40 milhões de lares até 2014, como mecanismo indispensável de estimulo à pluralidade informativa no Brasil;
 
- Pela instalação imediata do Conselho Nacional de Comunicação, uma instância tripartite com a responsabilidade de regulamentar, regular e fiscalizar os veículos de comunicação;
 
- Pelo fim da odiosa criminalização das rádios comunitárias, com o estímulo à criação de mais emissoras sob controle dos movimentos sociais nos bairros e no interior do país;
 
- Pela revisão dos critérios de concessão da publicidade oficial dos governos, com o objetivo de estimular veículos alternativos e conter o processo de monopolização no setor;
 
- Pela introdução da cláusula de consciência, já existente em várias nações, garantido o direito aos movimentos sociais de utilizar o mesmo espaço nos veículos quando forem difamados;
 
- Pela garantia do direito de antena, hoje uma conquista democrática dos partidos políticos, para que os movimentos sociais possam usufruir de espaços nas emissoras abertas de rádio e TV.
 
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi). 
https://www.alainet.org/es/node/141829
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