Davos: mudar para permanecer igual

12/02/2010
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Fórum Econômico Mundial defende medidas de controle financeiro para manter sistema econômico
 
Cerca de 2.500 representantes de empresas e chefes de Estado participam da 40ª edição do Fórum Econômico Mundial (FEM) em Davos, na Suíça. O Fórum Social Mundial (FSM), o principal contraponto ao evento suíço, chegou à 10ª edição. Em 2009, algumas bandeiras historicamente ligadas à esquerda entusiasta do FSM começaram a aparecer no fórum mais poderoso.
 
Com a crise financeira internacional, os próprios agentes do mercado passaram a enxergar que a desregulamentação excessiva poderia comprometer a continuidade do modelo. Para tanto, o controle da atuação dos bancos e do fluxo de capitais tornaram-se fundamentais para a sobrevivência do capitalismo. Para alguns, estava decretado o fim do neoliberalismo. Mas o modelo ainda sobrevive, mesmo que sua supremacia tenha sido golpeada.
 
Davos deve ratificar que a saída da crise econômica passa pela regulação do mercado e por um maior controle sobre as atividades financeiras. Essas medidas já estavam presentes no primeiro FSM, em Porto Alegre, sobretudo com a bandeira da Taxa Tobin, que incindiria sobre transações internacionais e seria destinada a um fundo de combate à pobreza. O mega especulador George Soros, voz ativa em Davos, já se declarou favorável à medida.
 
Para legitimar o FEM, diante da perda de credibilidade do neoliberalismo, os organizadores optaram por uma homenagem ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que receberá o título de Estadista Global. Lula tem sido o chefe-de-Estado que transita com mais habilidade entre os dois fóruns.
 
G20, G7 e G2
 
Com a criação do G20, a chamada multipolaridade também chegou a Davos, dando mais voz aos países emergentes. Para o jornalista português e ex-deputado pelo Partido Comunista, Miguel Urbano Rodrigues, o papel mais destacado desses países não deve influir nos rumos apontados pelo Fórum Econômico. “A estratégia do Fórum de Davos não mudou. Davos se abriu. A presença de líderes dos chamados 'países emergentes' e as mesas redondas não alteraram minimamente a estratégia do grande capital. O discurso sobre o controle do mercado e das transações financeiras é tático”, salienta.
 
Rodrigues aponta a necessidade de o Fórum Social tomar posições anti-capitalistas para se distanciar ainda mais do evento de Davos. “Não vejo aproximação entre Davos e o FSM. Mas este ou muda ou perde a razão de existir. A participação crescente no FSM de governantes e ex- governantes de países capitalistas e de parlamentares e intelectuais identificados com politicas neoliberais mascaradas de social-democratas tende a tornar o FSM uma caixa de ressonância inofensiva, apesar da participação de líderes revolucionários como Hugo Chávez, Evo Morales e dirigentes cubanos”, alerta.
 
Além da tese sustentada por Rodrigues, de que os países emergentes não têm poder decisório, há quem enxergue um “G2” dentro do G20, composto por China e Estados Unidos. Para José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais do PCdoB, ainda é cedo para decretar uma nova multipolaridade, mas há o poder político, econômico e militar do país asiático é crescente.
 
“A longo prazo essa é uma rivalidade que pode ser estabelecida. Na minha opinião, a emergência da China objetivamente não tem caráter inter-imperialista. Isso é um fator que joga a favor da luta anti-imperialista, é um fator positivo. A emergência de outros países como o Brasil também é importante, pois eles apresentam políticas progressistas”, explica.
 
S.O.S. capitalismo
 
Para especialistas, a inflexão do Fórum de Davos – que parece atender antigas reivindicações do FSM – é na verdade uma medida para salvar o capitalismo. Assim, Davos admite trocar o modelo (neoliberal) para preservar o sistema.
 
O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, endossa essa tese: “Frente a crise, os capitalistas apelam para o Estado e impõem certos limites às forças do 'livre mercado'. Sempre foi assim. A questão é saber o que as forças de esquerda têm a propor, muito além disto. E, mais do que propor, se saberemos contribuir alternativas políticas para fazer prevalecer nossas propostas”, afirma.
 
Já para José Reinaldo, há uma mudança de discurso. “Eles que tiveram apenas que alterar a retórica e o discurso. A crise colocou abaixo os dogmas que vinham sendo adotados. Eles foram obrigados a se reciclar para salvar o sistema. Davos não vai fazer uma agenda de reformas estruturais. Não vai mudar sua essência imperialista, capitalista e neoliberal”, pontua o dirigente do PCdoB.
 
- Renato Godoy de Toledo da Redação - http://www.brasildefato.com.br
https://www.alainet.org/es/node/139414
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