O Equador e o Paraguai- a dívida externa e as “empresas brasileiras”

18/12/2008
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Quando alguém fala em empresa referindo-se a Norberto Odebrecht ou a Queiroz Galvão, ou ao grupo Votorantin e todas as chamadas grandes empresas, está cometendo um erro básico de conceituação, digamos assim. Não se trata de empresas, mas de quadrilhas.

Há uma diferença entre o crime legalizado e o crime organizado. Crime legalizado é o que cometem os bancos diariamente na costumeira e deliberada extorsão praticada contra consumidores. Ou as montadoras de automóveis. Ou as empreiteiras. Ou o latifúndio e o agro negócio dirigido pela quadrilha Monsanto.

Têm a proteção da lei ao se abrigarem sob o manto da chamada livre iniciativa. Expandem seus negócios para os ditos poderes constituídos e compram, como fizeram, ações do Estado, a instituição encarregada, em tese, de promover o bem comum através de ações previstas na chamada Carta Magna.

O Estado brasileiro é propriedade dessas quadrilhas e mesmo governos como o de Lula se vêm na contingência de ir negociando saídas e alternativas (sem juízo de mérito, isso é outra coisa) para viabilizar o mínimo de independência. Não foi o caso de FHC.

Crime organizado é aquele que ainda, note bem, ainda não atingiu esse status – legalizado – mas breve chega lá. Se Edir, o Macedo, chegou, por que Beira-mar não consegue?

Esse foi um momento em que as empresas/quadrilhas fecharam os acordos para a compra/privatização do Estado brasileiro. Pagaram o "investimento" com dinheiro público e uma contrapartida mínima, além, evidente, das "gratificações" a tucanos e seus braços espalhados por todo o chamado aparelho estatal.

A sede, no caso do Brasil é em Washington.

Os presidentes do Equador – Rafael Corrêa – e do Paraguai – Fernando Lugo – estão levantando dúvidas sobre as dívidas externas atribuídas aos seus países. No caso do Equador uma auditoria mostrou a corrupção generalizada dos governos anteriores, servidores públicos, o "condado" FIESP/DASLU de lá, congressistas, juízes de cortes supremas, o de sempre. Gilmar Mendes não é privilégio dos brasileiros. É só o daqui.

Uma empresa/quadrilha como a Norberto Odebrecht não tem compromisso algum com desenvolvimento nenhum, ou cidadão qualquer que seja, muito menos com um país. Elites são apátridas. Giram, gravitam em torno do grande senhor de Washington, ou de Wall Street (é tudo a mesma coisa).

Quando uma empresa/quadrilha dessas "vence" uma concorrência num país vizinho, estou me referindo à hidrelétrica "construída" pela Odebretcht no Equador, vai contratar material de primeira e usar material de terceira, pedir um aumento no meio do caminho e já incluir nos "custos" o por fora, a propina a ser paga a governantes corruptos.

Se o governante não for corrupto e estiver enfrentando esse tipo de negócio, vira "caloteiro" segundo o principal porta-voz oficial dessas máfias, William Bonner. Desafia a "ordem natural e o direito da livre iniciativa, é populismo eleitoral e eleitoreiro", na opinião de outra porta-voz, D. Miriam Leitão, especialista em informar o que não existe, logo, em mentir deliberadamente, interpretando o ponto de vista dos que lhe pagam. E lhe pagam essas máfias na ordem lógica dos "negócios", levando em conta que se a vetusta senhora fala na GLOBO, fala no ponto de irradiação, vamos dizer assim, das mentiras dos donos.

A melhor maneira de evitar um debate e fugir do tema é desqualificar o outro lado. Se você vai debater sobre futebol acuse o outro de ser torcedor fanático do clube tal e pronto. Quem estiver vendo ou ouvindo vai levar em conta a cada opinião do seu oponente que ele é torcedor do clube tal, assim, parcial. Ninguém vai se lembrar de perguntar para que clube você torce.

É desse jeito que a Votorantin através da ARACRUZ compra associada à VALE (um dos grandes negócios feitos pelos tucanos, têm dinheiro para campanhas até o fim do século, inclusive agora a de Serra) e a SAMARCO, com alguns outros acionistas de menor porte, mas empresas/quadrilhas, um estado inteiro como fizeram com o extinto Espírito Santo. Compram governadores, desembargadores, juízes, senadores, deputados estaduais, federais, prefeitos, vereadores, servidores públicos, porteira fechada, apesar de uns poucos que conseguem pular a cerca antes do "negócio" e preservam-se como cidadãos.

Aí destroem o que querem, passam a ter direito de vida e morte sobre as pessoas. O público vira privado e dane-se todo mundo. Para evitar que o debate seja efetivo invertem até a história. Caso da ARACRUZ no antigo Espírito Santo. Encheu a grande fazenda recém comprada com outdoors com esses dizeres – "A ARACRUZ TROUXE O PROGRESSO, A FUNAI TROUXE OS ÍNDIOS". Como se o "benfeitor" D. Ermírio de Moraes, chefão dos mais qualificados e perversos, estivesse por aqui desde e antes de Cabral. E os índios tivessem chegado ontem.

Mas vira verdade, pois conseguem disseminar entre as pessoas, mesmo atacadas por doenças provocadas pela poluição e predação ambiental dos seus "negócios", destruição de reservas naturais, praias, etc, etc, conseguem dizia eu disseminar as palavras chaves do espetáculo – progresso, empregos, salto para o futuro –. Ninguém vê e nem se beneficia desse progresso, desses empregos e desse futuro, mas a GLOBO falou está falado.

E usam esse expediente de ONG. Não que todas sejam assim, mas as deles são. No caso a ONG "ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO". Já começa errado que o Espírito Santo não existe mais. Existe a fazenda ARACRUZ/VALE/SAMARCO & CIA. Benfeitores, chegam ao requinte do crime perfeito – promovem debates, seminários sobre meio-ambiente, bem estar das pessoas, tudo enquanto vão liquidando com o ambiente e as pessoas.

No Equador a Norberto Odebrecht deu o trampo e agora se declara vítima de um "governo que desrespeita o direito internacional". No Peru a Queiroz Galvão dá um trampo, mas lá é possível remediar as coisas, o presidente aceita um por fora, faz parte do time FHC, chama-se Alan Garcia.

Os governos do Equador e do Paraguai não aceitam nem trampos dessa natureza, tampouco os presidentes são corruptos. Não pagam a mais, não aceitam propinas e têm a mania pouco recomendável entre as quadrilhas/empresas de querer que as coisas, obras, o que for seja feito dentro do contratado, do figurino.

Não aceitam que contratos tenham aquele negócio de letrinhas miúdas ilegíveis. Ou que tenham mão única, como querem as empresas/quadrilhas.

E como empresas/quadrilhas são apátridas fazem em seus próprios países de origem. Nos EUA descobriram que as empresas/quadrilhas que forneciam soldados terceirizados para as forças armadas no Iraque estavam enviando homens e mulheres despreparados, criminosos entre eles (estupradores, assaltantes, assassinos) e usando material de segunda.

Ao contrário dos sapatos atirados em Bush que, assim a olho nu, me pareceram novos. Posso estar enganado.

A quadrilha Norberto Odebrecht não está satisfeita com o ministro da Justiça, o que vale dizer o governo do Brasil. É que entrou no "negócio" dos leilões das usinas de Santo Antônio e Jirau (projeto Rio Madeira).

Aí, naquele negócio de ganhar mais, faturar sempre mais, fecharam com fornecedores de turbinas e geradoras, bancos e seguradoras os leilões para fornecedores. Para prestação de serviços. Ou seja. O esquema funciona de forma a aceitarem a proposta das empresas/quadrilhas dispostas a entrar no "negócio" como fornecedores exclusivos em troca de acordos cristãos, ocidentais, geradores de progresso, empregos, salto para o futuro e o resto... O resto é o resto. Vai daí que outras empresas/quadrilhas não conseguem entrar na área.

É só olhar o modelo do jogo de bicho no Brasil. Os banqueiros dividem uma cidade, ou estado ou mesmo país em regiões e cada um toma conta de um setor. Capone fazia isso em Chicago, até hoje é assim em Lãs Vegas.

Mas é uma briga de foice. Finda a briga, resolvida a disputa celebram tudo num hotel de luxo onde pagam as contas de deputados, senadores, ministros de cortes supremas ou nem tanto, promotores, procuradores, juízes, etc, o tucanato indispensável nesse tipo de atividade (tucanos, DEMocratas, Roberto Freire, et caterva). Sempre tem um bolo imenso e gigantesco no final para premiar com uma girl de primeira qualidade no mundo do progresso, trabalho e espetáculo o poderoso, o que seja maior ali, pelo menos naquele momento. De vez em quando desses bolos saem pistoleiros metralhando para que haja mudança de comando. A hora do bolo é sempre a hora do suspense.

A ação do Ministério da Justiça e do CADE resultou numa economia de dezesseis bilhões e quatrocentos milhões de reais para os cofres públicos, o que vale dizer quem sustenta os cofres públicos, no caso a gente. Mesmo na lógica capitalista, que é a do quero o meu, houve uma concorrência efetiva no leilão e na economia.

Está certo o presidente do Paraguai ao querer dispor da energia de Itaipu que cabe ao seu país sem se prender a um tratado negociado entre duas ditaduras, a daqui e a de lá, com propinas grossas para ambos os lados.

Está certo o presidente do Equador em não pagar e submeter a auditoria a tribunais internacionais para mostrar a pilantragem do tal progresso, emprego e salto para o futuro.

Estão certos os dois em querer discutir as dívidas externas de seus países. Não existem essas dívidas, como não existe a nossa. Os caras geradores de progresso, empregos e salto para o futuro saqueiam a todos nós desde o dia que puseram os pés por aqui.

Têm é que pagar o que devem pelos saques.

E pelo dinheiro escorrido pelo ralo nas quebras movidas por roubalheira da grossa, no mundo do "deus mercado", mas conta para o contribuinte/consumidor.

E no caso específico do Brasil tomar cuidado com esses "patriotas" que querem uma nova guerra do Paraguai (como a primeira, para saques e assassinatos da população do vizinho, tudo financiado pelo capital estrangeiro – inglês). Que querem invadir a Venezuela, a Bolívia e "justiçar" o Equador.

A ordem chega do grande general de Washington. Seja com a areia de Bush, ou a vaselina de Obama.

A propósito, quem paga a dívida desses caras todos somos nós. Quando contraem empréstimos ou contratos no exterior, inclusive a GLOBO (que já teve a falência requerida numa corte em New York) o avalista é o governo brasileiro.

Fonte: Brasil de Fato

http://www.brasildefato.com.br


 

 

https://www.alainet.org/es/node/131540
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