Mídia orquestra nova onda golpista
12/08/2007
- Opinión
Como alerta o jornalista Eduardo Guimarães em seu blog Cidadania, “que ninguém se iluda, o golpe está em gestação”. Na mesma toada, Luiz Carlos Azenha, que preferiu deixar a poderosa TV Globo para escrever livremente no seu blog Vi o Mundo, ataca a manipulação na cobertura da tragédia de Congonhas: “Os objetivos da mídia a gente já sabe: enfraquecer o Lula de olho nas eleições de 2008. É a única explicação razoável para tanto exagero, distorção, omissão e mentira”. Já o irreverente Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada, também garante que uma nova onda golpista da mídia está em curso – e “só o governo Lula parece que não vê”.
Estas e outras poucas vozes críticas e independentes, num país sob o violento cerco da ditadura midiática, têm razões de sobra para os seus temores. Fragorosamente derrotada nas eleições de outubro passado, a mídia burguesa está novamente excitada e ouriçada. Na prática, ela ocupa o papel, descrito pelo intelectual italiano Antonio Gramsci, de “partido da direita”, substituindo o PFL (travestido de Demo) e o PSDB, que foram rechaçados nas urnas e estão divididos e sem rumo. Desde sua posse, o presidente Lula não teve um minuto sequer de folga. A cada dia surge uma nova denúncia midiática para fustigar, desgastar e paralisar o seu governo.
Quatro investidas rasteiras
A onda denuncista, sem provas ou escrúpulos, é brutal. O jornalismo, de fato, sucumbiu diante da sanha golpista da mídia. Não há qualquer preocupação com a investigação séria, o espaço para as opiniões contrárias sumiu, os adjetivos grosseiros substituíram o substantivo, as vidas humanas tornaram-se o palanque do jogo sujo e politiqueiro. A neutralidade e a imparcialidade, presentes nos cursos de jornalismo e nos ridículos manuais de redação das empresas, viraram letra morta. Colunistas regiamente pagos e com livre acesso entre os magnatas do dinheiro e do poder tornaram-se porta-vozes do preconceito e da mentira, serviçais da residual elite nativa.
Até agora já foram quatro investidas. Como não dá para espinafrar diretamente o presidente Lula, que goza de enorme popularidade e conta com os bons ventos – sempre aparentes – da economia, os ataques covardes ocorrem pelos francos. Primeiro foi o alarde contra o irmão do presidente, o desconhecido Vavá, que ocupou dezenas de manchetes nos jornais e farto espaço nas TVs. Como não houve qualquer prova contra o governo, Vavá sumiu do noticiário e voltou ao anonimato, sem que a mídia desse qualquer explicação ou desculpas. Mais uma vez valeu a “presunção da culpa”, num afronta à Constituição, que garante a “presunção da inocência”.
Renan e as vaias no Pan
Na seqüência, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que sempre freqüentou os corredores do poder e nunca foi incomodado, virou o alvo preferencial. O mote foi um caso extraconjugal. Mas, como ironizou o governador Roberto Requião, a mesma mídia nunca falou nada sobre o romance do ex-presidente FHC com a repórter Miriam Dutra, da TV Globo, que também gerou um filho bastardo. O ataque a Renan Calheiros, independentemente do seu passado, foi mais uma abjeta manobra para enfraquecer um importante aliado do atual governo, para paralisar as suas ações e, se possível, para levar à presidência do Congresso um senador direitista.
Com o recesso parlamentar, a nova orquestração se deu na abertura dos jogos Pan-Americanos. Uma vaia bem ensaiada, como retratou um vídeo no Youtube, num estádio lotado por uma elite capaz de pagar R$ 250,00 pelo ingresso, intimidou e “entristeceu” o presidente Lula. O prefeito Cesar Maia, um marqueteiro de quinta-categoria e um dos expoentes fascistas do Demo, nem escondeu seu golpe rasteiro, que alimentou as manchetes dos jornais. Ele acaba de anunciar no seu ex-blog a venda pela internet de camisetas com os dizeres “Eu vaiei o Lula no Pan”.
Urubus na tragédia aérea
A investida mais sinistra e desumana, porém, deu-se com o triste acidente do Airbus A-320 da TAM. Antes mesmo da confirmação dos 200 corpos carbonizados, a mídia sensacionalista já havia achado o culpado pela tragédia, o presidente Lula. Num flagrante desrespeito às vítimas e suas famílias, ela tentou dramatizar ao máximo as chocantes cenas para tirar proveito político do acidente. A Folha de S.Paulo estampou na capa artigo afirmando que “Lula assassinou 200 pessoas”. Edições normais e extraordinárias da TV Globo bombardearam seus telespectadores com informações parciais sobre a crise aérea e a falta das ranhuras no aeroporto de Congonhas.
A cobertura da tragédia foi totalmente unilateral e manipulada. O Estado de S.Paulo chegou a omitir de seus leitores um documento, obtido na mesma noite do acidente, que comprova que o Airbus operava sem o reverso, um freio indispensável na chuva. A mídia também escondeu os dois “incidentes” com a mesma aeronave poucos dias antes da tragédia e não deu destaque ao parecer do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) que atestava as condições técnicas da pista do Aeroporto de Congonhas. Talvez devido aos fartos recursos publicitários da TAM, a mídia venal também não alardeou o primeiro mandamento desta empresa: “Nada substitui o lucro”.
Golpe midiático em gestação
Toda esta onda desprezível de manipulação tem objetivos nítidos. Visa pautar a agenda política do país, paralisando e ofuscando as ações do governo (o PAC sumiu do noticiário), e desgastar o presidente Lula, numa intensa campanha de linchamento. Recente pesquisa do Instituto Vox Populi já revela os efeitos desta operação golpista. Lula se mantém com alta popularidade entre os trabalhadores e as camadas mais pobres, mas cresce a sua rejeição entre os setores médios e ricos – num típico processo de “venezuelização” da sociedade. Uma rápida ida aos aeroportos corrobora a pesquisa, com executivos e madames hidrófobos contra “este peão na presidência”.
Com este caldo de cultura, a nova ofensiva da ditadura midiática poderá estimular protestos da “sociedade civil”, reeditando as “marchas da família, com Deus e pela liberdade”, que criaram o clima indispensável ao golpe de 1964. Um ministro do Superior Tribunal Militar, Olympio Pereira, o mesmo que solicitou prisão preventiva do operário Lula durante a ditadura, inclusive já ousou pregar abertamente golpe. Há boatos de que o príncipe das trevas, FHC, está em plena atividade conspirativa. E, agora, ricos empresários e notórios tucanos, a partir de um bunker de mansões em Campos do Jordão, resolveram investir fortunas na campanha intitulada “cansei”.
“Acorda Lula, chama o teu povo”
Não dá para ficar passivo diante desta nova orquestração. Os movimentos sociais, preservando sua autonomia e reforçando a pressão pelo avanço nas mudanças, precisam entrar em estado de alerta para evitar surpresas desagradáveis. A direita golpista, bafejada pela ditadura midiática, já escolheu as suas armas e suas bandeiras. Há um discurso unificado, reproduzido a exaustão, contra a “incompetência administrativa” do governo Lula. Nem a indicação de Nelson Jobim, um político de centro e ex-ministro de FHC, intimidará a oposição neoliberal. Ela não tem mais retorno. Ou derruba o presidente ou o sangra ao máximo com vistas às próximas eleições.
O mesmo alerta serve ao governo Lula, que insiste no beco sem saída da conciliação e alimenta as cobras. Não dá para alisar esta elite preconceituosa e golpista. Não é possível fazer omelete sem quebrar ovos. É preciso maior ousadia no enfrentamento dos graves problemas estruturais do país, contrapondo-se aos interesses mesquinhos desta elite predadora e autoritária; é urgente conclamar o povo, num esforço pedagógico, para evitar o retrocesso e avançar nas mudanças. O veterano jornalista Mino Carta, que conhece bem a postura antidemocrática desta gente, não vacila em afirmar que está em curso um novo golpe no Brasil. “Estamos às vésperas do retorno da Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade... Acorda Lula, chama o teu povo”.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).
Estas e outras poucas vozes críticas e independentes, num país sob o violento cerco da ditadura midiática, têm razões de sobra para os seus temores. Fragorosamente derrotada nas eleições de outubro passado, a mídia burguesa está novamente excitada e ouriçada. Na prática, ela ocupa o papel, descrito pelo intelectual italiano Antonio Gramsci, de “partido da direita”, substituindo o PFL (travestido de Demo) e o PSDB, que foram rechaçados nas urnas e estão divididos e sem rumo. Desde sua posse, o presidente Lula não teve um minuto sequer de folga. A cada dia surge uma nova denúncia midiática para fustigar, desgastar e paralisar o seu governo.
Quatro investidas rasteiras
A onda denuncista, sem provas ou escrúpulos, é brutal. O jornalismo, de fato, sucumbiu diante da sanha golpista da mídia. Não há qualquer preocupação com a investigação séria, o espaço para as opiniões contrárias sumiu, os adjetivos grosseiros substituíram o substantivo, as vidas humanas tornaram-se o palanque do jogo sujo e politiqueiro. A neutralidade e a imparcialidade, presentes nos cursos de jornalismo e nos ridículos manuais de redação das empresas, viraram letra morta. Colunistas regiamente pagos e com livre acesso entre os magnatas do dinheiro e do poder tornaram-se porta-vozes do preconceito e da mentira, serviçais da residual elite nativa.
Até agora já foram quatro investidas. Como não dá para espinafrar diretamente o presidente Lula, que goza de enorme popularidade e conta com os bons ventos – sempre aparentes – da economia, os ataques covardes ocorrem pelos francos. Primeiro foi o alarde contra o irmão do presidente, o desconhecido Vavá, que ocupou dezenas de manchetes nos jornais e farto espaço nas TVs. Como não houve qualquer prova contra o governo, Vavá sumiu do noticiário e voltou ao anonimato, sem que a mídia desse qualquer explicação ou desculpas. Mais uma vez valeu a “presunção da culpa”, num afronta à Constituição, que garante a “presunção da inocência”.
Renan e as vaias no Pan
Na seqüência, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que sempre freqüentou os corredores do poder e nunca foi incomodado, virou o alvo preferencial. O mote foi um caso extraconjugal. Mas, como ironizou o governador Roberto Requião, a mesma mídia nunca falou nada sobre o romance do ex-presidente FHC com a repórter Miriam Dutra, da TV Globo, que também gerou um filho bastardo. O ataque a Renan Calheiros, independentemente do seu passado, foi mais uma abjeta manobra para enfraquecer um importante aliado do atual governo, para paralisar as suas ações e, se possível, para levar à presidência do Congresso um senador direitista.
Com o recesso parlamentar, a nova orquestração se deu na abertura dos jogos Pan-Americanos. Uma vaia bem ensaiada, como retratou um vídeo no Youtube, num estádio lotado por uma elite capaz de pagar R$ 250,00 pelo ingresso, intimidou e “entristeceu” o presidente Lula. O prefeito Cesar Maia, um marqueteiro de quinta-categoria e um dos expoentes fascistas do Demo, nem escondeu seu golpe rasteiro, que alimentou as manchetes dos jornais. Ele acaba de anunciar no seu ex-blog a venda pela internet de camisetas com os dizeres “Eu vaiei o Lula no Pan”.
Urubus na tragédia aérea
A investida mais sinistra e desumana, porém, deu-se com o triste acidente do Airbus A-320 da TAM. Antes mesmo da confirmação dos 200 corpos carbonizados, a mídia sensacionalista já havia achado o culpado pela tragédia, o presidente Lula. Num flagrante desrespeito às vítimas e suas famílias, ela tentou dramatizar ao máximo as chocantes cenas para tirar proveito político do acidente. A Folha de S.Paulo estampou na capa artigo afirmando que “Lula assassinou 200 pessoas”. Edições normais e extraordinárias da TV Globo bombardearam seus telespectadores com informações parciais sobre a crise aérea e a falta das ranhuras no aeroporto de Congonhas.
A cobertura da tragédia foi totalmente unilateral e manipulada. O Estado de S.Paulo chegou a omitir de seus leitores um documento, obtido na mesma noite do acidente, que comprova que o Airbus operava sem o reverso, um freio indispensável na chuva. A mídia também escondeu os dois “incidentes” com a mesma aeronave poucos dias antes da tragédia e não deu destaque ao parecer do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) que atestava as condições técnicas da pista do Aeroporto de Congonhas. Talvez devido aos fartos recursos publicitários da TAM, a mídia venal também não alardeou o primeiro mandamento desta empresa: “Nada substitui o lucro”.
Golpe midiático em gestação
Toda esta onda desprezível de manipulação tem objetivos nítidos. Visa pautar a agenda política do país, paralisando e ofuscando as ações do governo (o PAC sumiu do noticiário), e desgastar o presidente Lula, numa intensa campanha de linchamento. Recente pesquisa do Instituto Vox Populi já revela os efeitos desta operação golpista. Lula se mantém com alta popularidade entre os trabalhadores e as camadas mais pobres, mas cresce a sua rejeição entre os setores médios e ricos – num típico processo de “venezuelização” da sociedade. Uma rápida ida aos aeroportos corrobora a pesquisa, com executivos e madames hidrófobos contra “este peão na presidência”.
Com este caldo de cultura, a nova ofensiva da ditadura midiática poderá estimular protestos da “sociedade civil”, reeditando as “marchas da família, com Deus e pela liberdade”, que criaram o clima indispensável ao golpe de 1964. Um ministro do Superior Tribunal Militar, Olympio Pereira, o mesmo que solicitou prisão preventiva do operário Lula durante a ditadura, inclusive já ousou pregar abertamente golpe. Há boatos de que o príncipe das trevas, FHC, está em plena atividade conspirativa. E, agora, ricos empresários e notórios tucanos, a partir de um bunker de mansões em Campos do Jordão, resolveram investir fortunas na campanha intitulada “cansei”.
“Acorda Lula, chama o teu povo”
Não dá para ficar passivo diante desta nova orquestração. Os movimentos sociais, preservando sua autonomia e reforçando a pressão pelo avanço nas mudanças, precisam entrar em estado de alerta para evitar surpresas desagradáveis. A direita golpista, bafejada pela ditadura midiática, já escolheu as suas armas e suas bandeiras. Há um discurso unificado, reproduzido a exaustão, contra a “incompetência administrativa” do governo Lula. Nem a indicação de Nelson Jobim, um político de centro e ex-ministro de FHC, intimidará a oposição neoliberal. Ela não tem mais retorno. Ou derruba o presidente ou o sangra ao máximo com vistas às próximas eleições.
O mesmo alerta serve ao governo Lula, que insiste no beco sem saída da conciliação e alimenta as cobras. Não dá para alisar esta elite preconceituosa e golpista. Não é possível fazer omelete sem quebrar ovos. É preciso maior ousadia no enfrentamento dos graves problemas estruturais do país, contrapondo-se aos interesses mesquinhos desta elite predadora e autoritária; é urgente conclamar o povo, num esforço pedagógico, para evitar o retrocesso e avançar nas mudanças. O veterano jornalista Mino Carta, que conhece bem a postura antidemocrática desta gente, não vacila em afirmar que está em curso um novo golpe no Brasil. “Estamos às vésperas do retorno da Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade... Acorda Lula, chama o teu povo”.
- Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “Venezuela: originalidade e ousadia” (Editora Anita Garibaldi, 3ª edição).
https://www.alainet.org/es/node/122635?language=en
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